Manning conta como, na prisão, passou de Bradley a Chelsea
É a primeira entrevista da personalidade que, em 2010, foi catalisadora do escândalo Wikileaks. Chelsea Manning, que em 2010 ainda era Bradley, relata em exclusivo na edição de maio da revista Cosmopolitan, como aconteceu o processo de mudança de sexo dentro do cárcere, em Fort Leavenworth, no estado norte americano do Kansas.
A entrevista foi feita por email, mas o conteúdo foi ditado e não escrito por Chelsea, uma vez que esta não tem acesso à internet e não pode ter contato direto com jornalistas. Manning, 27 anos, que foi diagnosticada já na prisão com transtorno de identidade de género (quando um indivíduo não se sente identificado com o género com que nasceu), revela que, apesar de se sentir otimista com o processo de mudança de sexo,é "doloroso e constrangedor" não poder deixar o cabelo crescer. Isto porque, apesar das autoridades militares terem autorizado, em fevereiro passado, o processo médico, não permitem o uso do cabelo longo na prisão, uma vez que Manning se encontra na ala masculina. "Sinto-me dividida. Durante o dia estou bem mas, à noite, quando estou sozinha no meu quarto, fico esgotada e afundo-me"
Em 2010, o mundo ficava a conhecer, através dos documentos divulgados pela Wikileaks, informações secretas sobre as relações diplomáticas dos EUA e detalhes sobre conflitos armados e corrupção. Manning foi condenada em 2013 a 35 anos de prisão por violar o Ato de Espionagem, roubar propriedade do estado norte-americano e por ter cometido vários atos de desobediência. Na altura da sentença, revelou ao mundo outro segredo: "quero que toda a gente conheça o meu "eu" verdadeiro. Sou Chelsea Manning. Sou uma mulher". No testemunho concedido à Cosmopolitan, Chelsea conta como, desde criança, se sentia feminina, apesar do corpo masculino. "Adorava estar no quarto da minha irmã. Admirava-a e usava as roupas dela para brincar, brincava com as bonecas dela, brincava com a maquilhagem dela". Chelsea revela ainda que, durante a adolescência, viveu em negação com a sua condição. "Passei muito tempo a negar para mim mesma que podia ser gay ou transgénero. Dos 14 anos 16 anos, estava convencida que estava apenas a passar por "fases". Fugia mentalmente, especialmente à noite, quando acedia à internet e navegava pelo labirinto de comunicações anónimas", relata, acrescentando ainda que sempre soube que era "diferente".