O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, foi eleito para um quarto mandato consecutivo, numas eleições que segundo a União Europeia, carecem de "legitimidade", com Espanha a falar de uma "burla" e o presidente dos EUA, Joe Biden, de uma "pantomima". Em resposta à vitória do ex-guerrilheiro sandinista que faz 76 anos na quinta-feira, com os principais opositores detidos e impedidos de concorrer, Bruxelas disse que irá "considerar todos os instrumentos" à sua disposição "para medidas adicionais" contra as autoridades do país. Já Washington prometeu usar "todas as ferramentas diplomáticas e económicas" para apoiar "o povo da Nicarágua e responsabilizar o governo" e "aqueles que facilitam os seus abusos"..Os resultados preliminares das eleições de domingo, quando estavam contadas metade das mesas de votação, apontavam para a vitória da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) de Ortega com 75% dos votos. Em segundo lugar ficou o Partido Liberal Constitucionalista, de Walter Espinoza, com 14%, seguindo-se outros quatro pequenos partidos - os cinco adversários nas urnas foram considerados próximos do governo. Os verdadeiros opositores não puderam participar no escrutínio, tendo sete sido detidos nos últimos meses e acusados de "terrorismo" por Ortega, pelo que a oposição tinha apelado ao boicote nas urnas. Segundo as autoridades eleitorais, a participação foi contudo de 65,34%, um número que os críticos do regime também rejeitam.."O que o presidente da Nicarágua Daniel Ortega e a sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, orquestraram foi uma pantomima de uma eleição que nem foi livre nem justa, e muito menos democrática", disse Biden num comunicado, dizendo que ambos estão à frente do país como "autocratas, em nada diferentes da família Somoza que Ortega e os sandinistas combateram há quatro décadas"..Em 1979, a vitória da revolução sandinista acabou com a ditadura dos Somoza (pai e filhos, que governavam desde 1937) e colocou Ortega pela primeira vez no poder durante 11 anos (cinco deles como presidente). Em 1990, perdeu as eleições para Violeta Chamorro - a sua filha, Cristiana Chamorro, era agora uma das favoritas à vitória, estando contudo em prisão domiciliária. Sem nunca desistir da política, Ortega voltou ao poder pelas urnas em 2007, tendo entretanto alterado a Constituição para suprimir a limitação de mandatos. Em 2018, a repressão brutal dos protestos, que causou mais de 320 mortos e 100 mil exilados, reforçou da parte da comunidade internacional as críticas de autoritarismo - os EUA instauraram então sanções..O chefe da diplomacia europeia defendeu que estas eleições "completam a conversão da Nicarágua num regime autoritário". Josep Borrell apelou a Ortega para que "devolva a soberania ao povo", deixando claro que os 27 poderão adotar restrições que "podem ir mais além" das individuais. Espanha também se pronunciou contra a situação. "Não houve eleições justas, nem livres, nem competitivas", disse o chefe da diplomacia espanhol, José Manuel Albares, falando de uma "burla" e exigindo a libertação dos opositores detidos..susana.f.salvador@dn.pt
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, foi eleito para um quarto mandato consecutivo, numas eleições que segundo a União Europeia, carecem de "legitimidade", com Espanha a falar de uma "burla" e o presidente dos EUA, Joe Biden, de uma "pantomima". Em resposta à vitória do ex-guerrilheiro sandinista que faz 76 anos na quinta-feira, com os principais opositores detidos e impedidos de concorrer, Bruxelas disse que irá "considerar todos os instrumentos" à sua disposição "para medidas adicionais" contra as autoridades do país. Já Washington prometeu usar "todas as ferramentas diplomáticas e económicas" para apoiar "o povo da Nicarágua e responsabilizar o governo" e "aqueles que facilitam os seus abusos"..Os resultados preliminares das eleições de domingo, quando estavam contadas metade das mesas de votação, apontavam para a vitória da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) de Ortega com 75% dos votos. Em segundo lugar ficou o Partido Liberal Constitucionalista, de Walter Espinoza, com 14%, seguindo-se outros quatro pequenos partidos - os cinco adversários nas urnas foram considerados próximos do governo. Os verdadeiros opositores não puderam participar no escrutínio, tendo sete sido detidos nos últimos meses e acusados de "terrorismo" por Ortega, pelo que a oposição tinha apelado ao boicote nas urnas. Segundo as autoridades eleitorais, a participação foi contudo de 65,34%, um número que os críticos do regime também rejeitam.."O que o presidente da Nicarágua Daniel Ortega e a sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, orquestraram foi uma pantomima de uma eleição que nem foi livre nem justa, e muito menos democrática", disse Biden num comunicado, dizendo que ambos estão à frente do país como "autocratas, em nada diferentes da família Somoza que Ortega e os sandinistas combateram há quatro décadas"..Em 1979, a vitória da revolução sandinista acabou com a ditadura dos Somoza (pai e filhos, que governavam desde 1937) e colocou Ortega pela primeira vez no poder durante 11 anos (cinco deles como presidente). Em 1990, perdeu as eleições para Violeta Chamorro - a sua filha, Cristiana Chamorro, era agora uma das favoritas à vitória, estando contudo em prisão domiciliária. Sem nunca desistir da política, Ortega voltou ao poder pelas urnas em 2007, tendo entretanto alterado a Constituição para suprimir a limitação de mandatos. Em 2018, a repressão brutal dos protestos, que causou mais de 320 mortos e 100 mil exilados, reforçou da parte da comunidade internacional as críticas de autoritarismo - os EUA instauraram então sanções..O chefe da diplomacia europeia defendeu que estas eleições "completam a conversão da Nicarágua num regime autoritário". Josep Borrell apelou a Ortega para que "devolva a soberania ao povo", deixando claro que os 27 poderão adotar restrições que "podem ir mais além" das individuais. Espanha também se pronunciou contra a situação. "Não houve eleições justas, nem livres, nem competitivas", disse o chefe da diplomacia espanhol, José Manuel Albares, falando de uma "burla" e exigindo a libertação dos opositores detidos..susana.f.salvador@dn.pt