Mais que o Hino 

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Generosidade. Entrega. Valentia. Mas também frescura, ousadia e ambição diante de quinzes bem mais poderosos fisicamente, procurando sempre jogar à mão à volta de bancadas onde os adeptos portugueses, na sua maioria jovens, dão sobejas mostras de alegria, civilidade e fair-play. Tudo isto tem sido enaltecido internacionalmente e marcado a presença de Portugal no Mundial que hoje, para os Lobos, terá o seu capítulo final diante das Fiji.

Nos três jogos realizados em França - derrotas por 20 pontos de diferença diante de Gales e Austrália e um empate com a Geórgia -, Portugal apresentou as melhores armas e conseguiu algo impensável: marcar um ensaio de touche a Gales e pôr em cheque as poderosas mêlées georgiana e australiana. Na estreia em fases finais de um Mundial, em 2007, Portugal foi tratado como um corpo exótico. Enaltecia-se a forma como os jogadores cantavam o hino e o facto de serem a única seleção toda amadora. Elogiava-se o espírito de luta... mas quanto a râguebi, concederam 108 pontos aos All Blacks, 56 frente à Escócia e só contra a Roménia (10-14), estiveram perto de vencer.

Dezasseis anos depois o panorama alterou-se: poucos referem o hino - que continua a ser momento de grande exaltação patriótica - ou o amadorismo da equipa (apesar de quase metade continuar a sê-lo!). E isso é algo que esta seleção já ganhou. O respeito e consideração de todos, incluindo dos adversários o que é bem demonstrado pela ausência do fantástico Josua Tuisova no funeral do filho falecido há dias para não perder o jogo com Portugal - e é pelo exemplo português que muitas vozes se levantam questionando a ausência de competições que proporcionem mais contactos entre nações do Tier 1 e Tier 2, os dois mais altos níveis do ranking.

Hoje, frente aos poderosos e temíveis gigantes do Pacífico Sul, apenas se pede que os Lobos sejam iguais a si próprios e correspondam à vénia feita num dos programas da Sky Sports: "quem não se sentar e assistir ao jogo entre Fiji e Portugal então é por que não gosta de râguebi."

António Henriques é jornalista e comentador de râguebi.

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