Mais de 800 profissionais de saúde portugueses assinam carta aberta às ordens pela Palestina

Começou por ser uma discussão entre um grupo de médicos, mas rapidamente esta se expandiu a outros profissionais da área da Saúde. A indignação era grande pelo facto de as ordens profissionais portuguesas não terem tomado uma posição oficial sobre a fragilidade dos cuidados e a insegurança em que estavam a operar os colegas em Gaza. Depressa passou a carta aberta e já foi assinado por mais de quatro centenas de pessoas. A Federação Nacional dos Médicos também divulgou um comunicado em que se manifesta "solidária com todos os médicos que trabalham em teatros de guerra".
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"É urgente e imprescindível a tomada de posição sobre a crise humanitária que se agrava desde o dia 7 de Outubro, em Gaza". É assim que começa a Carta Aberta de Profissionais de Saúde pela Palestina dirigida aos sete bastonários das ordens profissionais da área da Saúde, desde os médicos aos nutricionistas.

O objetivo, segundo explicou ao DN um dos proponentes desta missiva, o médico André Almeida, é exigir, "enquanto profissionais de várias áreas da saúde, uma tomada de posição que contribua para a pressão internacional por um cessar-fogo imediato".

O médico explica que o documento, que já conta com mais de 800 assinaturas, surgiu da discussão entre um grupo de médicos, que rapidamente se expandiu a outros profissionais de saúde, como enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, etc, que decidiram avançar com uma carta aberta como forma de alerta e de protesto por as ordens profissionais portuguesas ainda nãos e terem manifestado sobre as condições em que os profissionais e os cuidados estão a ser ministrados em Gaza.

Na carta são referidos dados da Organização Mundial de Saúde que revelam que o estado de Israel já terá atacado, até à data da redação da carta, 164 infraestruturas médicas, nas quais terão morrido 220 profissionais de saúde em Gaza (4,5).

"Cerca de 70% dos centros de saúde e 26 dos 35 dos hospitais estão, atualmente, fora de serviço devido à destruição das infraestruturas, à insegurança, falta de combustível, eletricidade, água, alimentos e medicamentos", refere o texto, sublinhando que "os profissionais de saúde estão a trabalhar em condições hediondas, improvisando soluções pela falta de meios, como por exemplo proceder a amputações, cesarianas ou outras cirurgias sem anestesia, lutando diariamente contra a exaustão e o desespero".

Para além disso, "por ausência de acesso a condições sanitárias mínimas, prevê-se um aumento da transmissão de doenças infetocontagiosas correspondendo a uma emergência de saúde pública."

Estes profissionais destacam que "a proteção de hospitais e profissionais de saúde em conflitos armados está explicitamente assegurada segundo a legislação humanitária internacional. Atacar, deliberadamente, hospitais é um crime de guerra perfeitamente tipificado na legislação internacional. Esta tática foi já denunciada e condenada internacionalmente noutros contextos recentes."

Os profissionais signatários desta carta afirmam que "não irão compactuar com o silêncio nem com o apoio a crimes de guerra que massacram e punem coletivamente toda a população de Gaza e não ficaremos inertes perante a violência e o assassinato intencional de colegas de profissão e destruição de hospitais". Assim, e em solidariedade com os colegas em Gaza que continuam a servir a população em circunstâncias terríveis, convidam as Ordens Profissionais da Saúde em Portugal para que se juntem numa exigência comum contra a violência e contra os ataques sistemáticos a hospitais.

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) lançou também um comunicado em que manifesta que "ninguém deve ficar indiferente, e nós, médicos, não ficamos, à generalização dos conflitos militares, um pouco por todo o mundo", que "está a banalizar o sofrimento humano e, pior ainda, está a normalizar a ideia de que o terreno médico e hospitalar pode ser usado como palco da guerra".

Neste sentido, esta estrutura sindical solidariza-se com "todos os médicos que trabalham em teatros de guerra e apelamos ao cessar-fogo. Mariupol e Gaza, na Ucrânia e na Palestina, são os casos mais recentes, mas na curta vida do século XXI já testemunhamos a brutalidade da guerra no Afeganistão, no Iraque, no Líbano, na Geórgia, na Líbia, na Síria, no Iémen, na Arábia Saudita, na Tunísia, na Turquia, no Níger, no Azerbaijão, no Uganda, na República Democrática do Congo, nos Camarões, no Paquistão e na Etiópia. Se fizéssemos o mesmo exercício sobre o século XX, esta lista seria penosa e interminável", refere no comunicado.

E termina referindo que "a FNAM, parte de um sindicalismo humanista, repudia os acontecimentos, junta a sua voz aos muitos médicos que, por todo o mundo, têm denunciado a guerra e apelado ao cessar-fogo, e solidariza-se com os colegas que, mesmo transformados em alvos, continuam a fazer o seu trabalho em condições inimagináveis".

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