Mais 875 milhões de cigarros à venda antes do aumento
Na primeira metade do ano, as tabaqueiras inundaram o mercado com mais 875 milhões de cigarros do que em igual período do ano passado. Com este aumento de 25% em relação a 2015, as marcas tentaram escoar o máximo de produto possível antes da entrada em vigor de duas medidas que marcam esta área: o novo imposto sobre o tabaco e a recente legislação que obriga, por exemplo, os maços a exibirem imagens chocantes.
Nos primeiros seis meses deste ano, foram colocados no mercado 4.379 milhões de cigarros, mais 24.98% do que no primeiro semestre de 2015. Em janeiro, por exemplo, houve um aumento de 330% na quantidade de tabaco que entrou no mercado face ao ano anterior. Mas isto não quer dizer que os portugueses estejam a fumar mais. Como o Orçamento de Estado 2016 só entrou em vigor no final de março - prevendo impostos mais altos -, as tabaqueiras aproveitaram para, nos primeiros três meses do ano, tirar dos armazéns grandes quantidades de tabaco com o imposto antigo. Não só cigarros, como também cigarrilhas, charutos ou tabaco de enrolar.
O tabaco sem o aumento do imposto previsto no OE 2016 só podia ser vendido até ao dia 30 de junho. Mas, contrariando a tendência, a Tabaqueira, que domina 63% do mercado, desceu os preços. "A diminuição transversal a todo o portefólio em euro 0,10 decidida há um mês apenas reverte parcialmente o aumento inicial de euro 0,20 que teve lugar na sequência do aumento da fiscalidade decorrente da entrada em vigor do Orçamento de Estado para 2016", explicou fonte da empresa.
Enquanto as tabaqueiras inundavam o mercado, os fumadores portugueses aproveitavam para comprar tabaco mais barato. "Existindo uma perspetiva de subida de preço do tabaco, as pessoas tendem a comprar para ter mais stock", diz José Pedro Boléo-Tomé, coordenador da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, lembrando que "o aumento do preço é uma das medidas mais eficazes para diminuir o consumo." Contudo, a subida que se fez sentir em Portugal não é suficiente: "O preço deveria aumentar substancialmente."
Só nos primeiros cinco meses do ano, o Estado arrecadou 569,2 milhões de euros com o imposto sobre o tabaco, mais 75% do que em igual período do ano passado. Contudo, destaca José Pedro Boléo-Tomé, "se o aumento fosse mais significativo, diminuiria o consumo e o Estado ganhava mais a médio e longo prazo", pois diminuíam as despesas com a saúde dos fumadores.
Venda de cigarreiras dispara
Os novos maços começaram a ser introduzidos no dia 20 de maio e, para já, o efeito mais visível é um aumento exponencial da venda de cigarreiras e bolsas para tapar as imagens chocantes. Ao DN, Maria, responsável por uma tabacaria no Chiado, conta que, quando vão comprar tabaco, muitos fumadores dizem "que a medida é estúpida, que sabem o mal que os cigarros fazem à saúde e que não é pelas imagens que vão deixar de fumar". Mas não gostam de as ver, pelo que registou-se um "aumento de 25 a 30% na procura de cigarreiras e bolsas que tapam as imagens". Uma realidade que se estende ao comércio online. Fonte do site puros.pt adiantou ao DN que "o aumento sente-se desde há um mês e as vendas destes produtos triplicaram", pelo que a empresa até aproveitou para "aumentar a oferta dos mesmos". "Até porque desde 1 de Janeiro de 2016 que deixámos de poder vender tabaco online devido à nova lei do tabaco e sentimos uma enorme quebra nas vendas", acrescenta.
Para o presidente da comissão de tabagismo, as imagens podem fazer diminuir a experimentação. "Podem ter algum impacto no início do consumo, porque tornam o produto menos atraente, não tanto nos que são fumadores". Quanto à venda de cigarreiras, diz que o mesmo fenómeno aconteceu quando foram introduzidas as frases nos maços. "Houve um boom, mas as pessoas depois habituaram-se". Além das imagens chocantes, os maços têm frases de alerta e o número da linha de saúde 24 que disponibiliza ajuda para deixar de fumar.