Maioria dos portugueses já só usa o cartão para pagar contas do dia-a-dia
A maioria dos portugueses já só usa o cartão, de débito ou crédito, para pagar as compras diariamente. Segundo um documento da Visa, a que o DN teve acesso, 64% das pessoas que responderam a um inquérito online faz os pagamentos somente com recurso a esse meio. Percentagem que sobe para 68% na faixa etária dos 36 aos 45 anos.
Esta tendência para um uso frequente - 91% dos inquiridos garantiram que não saem de casa sem cartões de pagamento - é confirmada pelos dados revelados no início do ano pelo Banco de Portugal. No seu Relatório dos Sistemas de Pagamentos 2016, o banco central refere que a "utilização de instrumentos de pagamentos eletrónicos continuou a aumentar". E justifica a subida com o facto de as "operações realizadas através da rede de multibanco, que representam 86% do volume de pagamentos processados no SICOI [Sistema de Compensação Interbancária], aumentaram 6,7% em valor, para 106 mil milhões de euros. As compras, em particular, cresceram 9% em valor, acompanhando a evolução do consumo privado em Portugal".
Este aumento de compras e de uso dos cartões - dos inquiridos 51% disseram usar preferencialmente o cartão de débito, 36% pagam em dinheiro e 13% com o documento de crédito - preocupa a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor.
Confirmando que há um aumento na utilização dos cartões em detrimento de dinheiro físico, Natália Nunes referiu ao DN que essa situação faz que as pessoas "percam a noção dos custos dos bens". A responsável pelo gabinete de apoio a sobre-endividados da Deco dá um exemplo do efeito psicológico dessa situação: "Quando se está a pagar num supermercado, se usarmos notas e moedas temos a noção do dinheiro a sair da nossa carteira e a entrar na caixa registadora. Mas se utilizarmos o cartão nem nos apercebemos do valor que está a sair da conta."
Natália Nunes lembra que os maiores problemas que as famílias enfrentam são os cartões de crédito. "É a questão da gestão do crédito. São os cartões de crédito aqueles que têm muito incumprimento. Muitas pessoas têm, mas nem sabem como se usam. Nem sabem muito bem como vão pagar aquilo que estão a usar", frisa.
21 euros na carteira
O inquérito da Visa mostra qual a relação dos portugueses com as formas de pagamento e os locais onde mais utilizam o dinheiro físico. Uma das conclusões é que o valor que, em média, se tem na carteira é de 21 euros. Dinheiro com que pagarão compras em cafés (para 88% dos inquiridos, ver info), máquinas de café e comida, transportes públicos, cabeleireiros, táxis, estacionamentos ou lojas de comida - em todos estes itens a preferência é para o pagamento com notas ou moedas. Ou seja, este tipo de pagamento está associado a valores que rondarão os dez euros. Do lado oposto, os cartões reinam, por exemplo, nas compras nos grandes retalhistas (88% das respostas, ver info), lojas de roupa e calçado, bombas de gasolina, supermercados.
Usar o sistema contactless
O estudo a que o DN teve acesso foca ainda o uso do sistema contactless - a utilização do cartão bastando aproximá-lo do terminal, evitando assim o uso do código pessoal, mas tendo 20 euros como valor máximo de pagamento.
Uma tecnologia cujo uso está a aumentar, o que também ajuda à subida do uso dos cartões no dia--a-dia, como sublinha a country manager da Visa em Portugal, Paula Antunes da Costa. Para já, e de acordo com os dados da Visa, 29% dos inquiridos garantiram utilizar o sistema e os locais onde é mais usado são os supermercados e os grandes retalhistas. Uma grande parte das pessoas que responderam ao inquérito adiantou que gostaria de poder pagar assim nos transportes públicos, postos de abastecimento, bares, cafés, restaurantes e parques de estacionamento e portagens.
Um novo modo de evitar pagar com dinheiro com o qual, para as pessoas mais velhas, poderá ser difícil de lidar, como frisou ao DN Natália Nunes. "Para os jovens não representa qualquer problema. Eles estão habituados a esta nova forma de se relacionar com o dinheiro. No entanto, para as pessoas com mais idade isso pode ser um problema e, até, levar ao descontrolo", alerta a responsável pelo gabinete de sobre-endividados da Deco.