Maioria dos pneus usados vendidos no país tem falhas graves

Estudo da Deco mostra que venda de pneus usados está sem controlo. Associação de defesa do consumidor chegou a encontrar no mercado pneus com 19 anos.
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Comprar pneus usados em Portugal é mau negócio e pode ser perigoso, diz a Deco. É isso que mostra um teste realizado por aquela associação de defesa do consumidor, que avaliou um conjunto de 89 pneus usados adquiridos por todo o país e descobriu que apenas 11 cumpriam todos os critérios de segurança: só esse número diminu-to numa amostra de 89 seria um negócio aceitável para os consumidores. Ao todo, 50 dos pneus (56,1%) apresentavam "falhas graves de segurança, que deviam impedir a sua venda", sublinha a Deco, alertando para a necessidade de regulamentação deste mercado.

Entre as falhas graves detetadas pelo estudo, que é divulgado na edição de setembro da revista Proteste, está uma profundidade de sulco inferior ao mínimo legal (1,6 mm), identificada em 18 deles, o que significa que "nunca poderiam estar em circulação, pelo que nem deveriam ser vendidos", lê-se no estudo da Deco.

Mas não ficam por aqui os problemas. Para outros 17 pneus, o estudo identificou uma idade superior a 10 anos - um par tinha 19 - e, noutros cinco, remendos laterais e até rasgões. De referir ainda que 11 dos pneus estavam marcados como sendo de inverno, o que significa que são originários de países mais frios e que estão portanto desadaptados do piso e do clima em Portugal. Tudo, afinal, fatores de risco acrescidos para a circulação na estrada.

Além dos problemas de segurança, a Deco fez também as contas para avaliar a aquisição de pneus usados do ponto de vista do custo-benefício e também aqui os pneus usados falharam no teste. "Concluímos que os usados são menos rentáveis", lê-se no artigo na Proteste.

Para chegar a esta conclusão, a equipa que fez o estudo calculou o custo por milímetro de piso e verificou que "cada milímetro útil tem um custo [nos pneus usados] duas vezes superior ao dos pneus novos (30,95 euros contra 15,05 euros)".

"Não aconselhamos os consumidores a optarem por pneus usados, porque tem riscos do ponto de vista da segurança na estrada e porque é mais caro", resume Alexandre Marvão, o responsável pelo estudo, sublinhando que "existe uma necessidade clara de regulamentação deste setor em Portugal, como acontece noutros países".

Em Portugal, onde o mercado dos pneus usados "registou um crescimento visível nos últimos anos", como refere Alexandre Marvão, não existe ainda regulamentação específica para o setor.

"Estamos a apresentar agora as conclusões do estudo à ASAE, à Prevenção Rodoviária Portuguesa, à GNR e à PSP e dentro de algum tempo vamos envidar esforços junto dos legisladores para que este setor passe a ser regulamentado", adiantou ao DN Alexandre Marvão, sublinhando que a Deco "já alertou também a ASAE para a necessidade de inspeções regulares aos operadores que comercializam pneus usados".

A avaliação aos 89 pneus usados, adquiridos em lojas das regiões de Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Bragança, Castelo Branco, Évora e Faro, foi feita através de uma inspeção visual detalhada - medidos os sulcos para todo o pneu - e através de radiografias, realizadas em dois laboratórios, para identificar problemas indetetáveis a olho nu.

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