Magalhães, Magallanes, Magellan

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A 27 de abril de 1521, há 500 anos, Fernão de Magalhães morreu na Batalha de Mactan, uma ilha ao largo de Cebu, nas Filipinas.

No decorrer do último ano, o governo filipino, através do Comité Nacional do Quincentenário, juntou-se a Portugal e a Espanha nas comemorações dos 500 Anos da Circum-Navegação pela Expedição Magalhães-Elcano, mas com um tema centrado nas Filipinas. A nossa celebração foca-se nos 500 anos da vitória em Mactan e na parte filipina da Primeira Circum-Navegação do Mundo pela Expedição Magalhães-Elcano.

A principal mensagem da narrativa filipina destas comemorações foca-se na hospitalidade e na generosidade dos ancestrais filipinos que prestaram ajuda aos cansados, doentes e moribundos membros da expedição Magalhães-Elcano, na sua chegada às ilhas de Suluan e Homonhon, a 16 de março de 1521. Estavam subnutridos, famintos, cansados ​​e moribundos da longa viagem no oceano Pacífico e, uma semana depois de deixarem o que eles consideraram as ilhas inóspitas de Guam, os ancestrais filipinos não mostraram hostilidade a estes estrangeiros. Em vez disso, ofereceram-lhes comida, água e a liberdade de lançarem âncora em qualquer uma das ilhas por onde passassem. Esses mesmos antepassados participaram, a 31 de março de 1521, numa missa católica, a primeira missa de Domingo de Páscoa, e a 14 de abril de 1521, o rajá Humabon, rei de Cebu, e a sua família e 800 pessoas do seu povo foram batizados a pedido de Fernão de Magalhães, tendo este presenteado a esposa do rajá Humabon com a imagem do Santo Niño. A veneração fervorosa dos filipinos ao Santo Niño é considerada hoje por muitos o legado mais popular e duradouro da expedição Magalhães-Elcano às Filipinas.

Então como se explica que, passadas duas semanas, a 27 de abril de 1521, os acontecimentos se tornassem sangrentos, resultando na morte de Magalhães e de oito dos seus homens? O historiador José Manuel Garcia explicou de forma eloquente estes acontecimentos no seu artigo, publicado neste jornal, a 27 de abril de 2021. À sua narrativa posso apenas acrescentar a falta de entendimento de Magalhães sobre a dinâmica política e social das ilhas de Cebu e Mactan, governadas por chefes independentes ou rajás, que o levou a tomar decisões táticas e estratégicas erradas nas negociações com o rajá Lapu-Lapu.

Podemos então questionar: e se Magalhães tivesse chegado primeiro a Mactan e só depois a Cebu? Teria sido um aliado de Lapu-Lapu? Estaríamos a comemorar os 500 anos da circum-navegação ou teria Magalhães regressado pelo oceano Pacífico?

A história é simplesmente fascinante e os eventos comemorativos como este permitem-nos revisitar a história e compreender a sua relevância nas nossas próprias vidas. As comemorações filipinas foram, e continuam a ser, proativas e envolvem o governo, escolas e universidades, museus, governos locais (cidades, vilas, províncias), entre muitas outras entidades filipinas. Incluem a inauguração de monumentos sobre as personalidades históricas como Magalhães, Pigafetta e claro Lapu-Lapu, e outros que marcam os locais visitados pela expedição nas Filipinas; centenas de palestras sobre personalidades e eventos históricos; literatura histórica das Filipinas nas mais diversas formas, incluindo a culinária filipina e ingredientes alimentares da época da chegada da expedição Magalhães-Elcano ao longo de toda a nossa história. Os concursos de arte lançados que retrataram esta parte da nossa história levaram à descoberta de inúmeros jovens artistas filipinos talentosos, e até à composição de uma cativante canção intitulada Bagani (que significa guerreiro ou líder na língua manobo de Mindanao).

Tudo isto inspirado pela rica herança histórica e narrativa dos filipinos, da qual a expedição Magalhães-Elcano faz parte.

Convido todos a visitarem virtualmente as nossas comemorações para conhecerem mais sobre as Filipinas através da nossa história e das nossas narrativas, disponíveis em https://www.facebook.com/nqc2021/.

Embaixadora da República das Filipinas em Portugal

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