Mães que são madrastas e madrastas que são verdadeiras mães

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As histórias de príncipes e princesas com que crescemos têm dado má fama às madrastas, de tal forma que a palavra acaba por ter uma conotação negativa. É preciso desconstruir ideias feitas e olhar para quem assume este papel (sejam madrastas ou padrastos) de uma forma mais positiva.

A separação, o divórcio e a recomposição familiar são hoje uma realidade com elevada prevalência em Portugal, abrindo espaço para "os meus, os teus e os nossos". O sistema familiar torna-se mais complexo (não necessariamente mais complicado) e exige a redefinição de relações e papéis, bem como dos padrões de comunicação e da forma como se gerem os conflitos.

Uma das principais dificuldades com que as madrastas se deparam relaciona-se com o exercício de autoridade. "Tu não és minha mãe e não mandas em mim" é uma acusação recorrente capaz de gelar qualquer um, abrindo espaço para as dúvidas sobre como definir regras e limites no contexto de uma relação desta natureza. Ainda que não existam receitas, sabemos que o caminho deve começar pelo estabelecimento de uma relação afetiva, de confiança e amizade, e só depois, mais tarde, tentar exercer algum controlo. Da mesma forma, ao respeitar e aceitar as diferenças, dando espaço para que a criança se aproxime de forma gradual, a madrasta estará a passar a mensagem certa, de que desempenha um papel complementar e não de competição ou substituição de uma figura parental.

Ainda numa lógica de desconstrução de estereótipos, e tal como muitas madrastas são mais do que mães, na medida em que cuidam e protegem crianças que não são biologicamente suas, mas que adotam no coração, nem todas as mães são cuidadoras e carinhosas. O amor de mãe não é inato e, por isso mesmo, tantas mães maltratam, das mais variadas formas, os seus filhos.

Alguns países homenageiam as madrastas com um dia só seu, que é como quem diz, o vosso papel é tão importante que merece um dia especial, tal como o dia da mãe ou o dia do pai. Era importante seguir este caminho e, da mesma forma, reconhecer publicamente a importância das madrastas e dos padrastos na vida de tantas crianças, complementando (e não substituindo) as mães e os pais.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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