Mãe foi a professora mais marcante
É o irmão do meio de uma família numerosa, com cinco filhos. Havia muita competição na escola entre todos?
Não, não havia competição nenhuma. Estávamos em anos diferentes e acabava por haver mais ajuda do que competição.
A vocação para a medicina surge cedo no seu percurso escolar?
Tenho a ideia de que apareceu cedo, porque desde que me lembro que quis ser médico, embora não consiga precisar exatamente quando aconteceu. Houve problemas de saúde na família e apercebi-me que o acesso aos médicos era difícil. Ter vivido isso de forma muito intensa, levou-me a pensar que se fosse médico podia ajudar as pessoas e levou-me até à medicina. É preciso lembrar que o acesso aos médicos antes do 25 de Abril, antes de existir Serviço Nacional de Saúde (SNS), era complicado e muito caro. Isso marcou-me.
Hoje o acesso a um curso de medicina não é fácil. Como foi na altura?
Acabei o liceu em 1976, mas nesse ano a faculdade não abriu e houve um ano em que basicamente fiz o que me apeteceu. Andei a aprender línguas, frequentei o conservatório [toca piano], e só no ano seguinte, quando a faculdade abriu, comecei o curso. Foi o primeiro ano em que houve exame de aptidão e havia numerus clausus, mas não tive problemas.
Acabou o liceu depois do 25 de Abril, numa altura conturbada. Como é que isso afetou os seus últimos anos?
Foram anos de muita agitação, muita atividade política e claramente a qualidade do ensino foi comprometida. Mas também nos despertaram para a realidade de outra maneira, despertaram-nos para a cidadania, para a intervenção pública na sociedade.
Ser bastonário dos médicos é o culminar dessa vontade de intervenção?
Sim, como bastonário posso fazer mais pelos doentes do que propriamente como médico, porque na Ordem intervimos em questões que têm impacto sobre todos os cidadãos do País. É um papel muito importante na defesa da qualidade dos serviços e, nesse sentido, é o culminar da atividade política que sempre mantive, sem qualquer conotação partidária, porque nunca estive ligado a nenhum partido.
No seu percurso escolar até à faculdade teve algum professor que o tenha marcado?
A professora que mais me marcou foi a minha mãe, que era professora primária. A ajuda e o acompanhamento dela em casa foram fundamentais. Crescemos num clima de responsabilidade e exigência, que são características que nos marcaram a todos.
Que tipo de aluno era?
Encarava a escola como qualquer criança. Mas nessa época tínhamos muito menos distrações. Não tínhamos televisão em casa e só nos distraíamos a brincar uns com os outros, o que era particularmente saudável e nos uniu aos cinco para toda a vida. Mas tínhamos a atenção permanente dos nossos pais, que nos formou enquanto estudantes e profissionais.
Os médicos são, por várias razões, uma classe que tem prestígio e reconhecimento social. Acha que os professores têm o prestígio que merecem?
Infelizmente tenho a sensação que não. Embora normalmente sejam respeitados e a sua importância seja reconhecida, não terão o reconhecimento e prestígio público que merecem porque lidam com os alunos mas também com os respetivos pais, relaçõe spor vezes complexas e não fáceis.