O baque soou com estrondo audível a dezenas de quilómetros nas entranhas da floresta de coníferas da Serra Nevada, na Califórnia. Em 1908, a árvore de 60 toneladas rendeu ao solo os seus dois milénios de vida. Por mais de 50 anos, depois de despojado da casca por madeireiros da década de 1850, o gigante do mundo vegetal manteve a prumo os seus mais de 100 metros de altura. O exemplar de Sequoia sempervirens, comummente, conhecida como sequoia-vermelha, não caia anónimo, tinha nome: "Mãe de todas as árvores"..O ano de 1854, marcou o antes e o depois nas florestas de sequoias californianas, até então intocadas, desconhecidas dos europeus, embora há muito presentes no quotidiano do povo nativo da região, os índios Ahwahnechee. Em meados do século XIX, a conquista do Oeste Americano, inebriada pela sede de ouro, viu nas florestas de sequoias, um novo filão sob a forma de madeira. Florestas com centenas de quilómetros quadrados, com árvores que atingem os 115 metros de altura e nove metros de diâmetro na base, mostraram-se aos olhos dos madeireiros como fontes inesgotáveis de matéria-prima. Um erro que mereceria, ainda no século XIX, a atenção da imprensa norte-americana na defesa das florestas de coníferas californianas e génese para a criação do sistema de parques nacionais nos Estados Unidos..Recuemos, entretanto, a 1853. Nesse ano, Augustus T. Dowd, caçador furtivo, embrenhou-se nos bosques inexplorados do condado de Calaveras. Augustus perseguia um urso ferido quando se deparou com os gigantes vegetais. Entre as sequoias então descobertas, encontrava-se aquela que ficou conhecida como "Mãe de todas as árvores". O exemplar cedo despertou a cobiça de quem ali percebeu a oportunidade de negócio. Entre eles, o empresário George Gale que viu na sequoia milenar uma fonte de prosperidade pessoal. Num tempo em que a fotografia era arte ainda pouco divulgada, Gale entendeu fazer prova do progresso e prosperidade da Califórnia, assim como do poder do Homem sobre a natureza - como se entendia na época - expondo a "Mãe de todas as árvores" longe, na costa leste dos Estados Unidos, na cidade de Nova Iorque. Perante a impossibilidade de arrastar o gigante para fora do seu berço na floresta, George e uma equipa de lenhadores, removeu, ao longo de quase um mês, a casca da sequoia em secções de dois metros de altura. O objetivo: remontá-la no local da exposição..Nos meses seguintes, a casca da "Mãe de todas as árvores" fez a viagem de circunavegação das Américas, do porto de São Francisco, no Oceano Pacífico, ao Cabo Horn, o ponto mais meridional da América do Sul, para desembocar no Oceano Atlântico e, finalmente, desembarcar na Big Apple. Ali, a sequoia foi remontada e exposta em 1855. A mostra "Vegetable wonders of the gold regions" reuniu milhares de visitantes frente ao totem natural..Para a casca de 60 cm de espessura da sequoia, exposta a troco do pagamento de alguns cêntimos, a viagem mundial prosseguiu. Em 1856 a "Mãe de todas as árvores", então apelidada pelos ingleses de "Árvore mamute da Califórnia", foi exposta em Hyde Park, na cidade de Londres. Penúltima etapa do périplo que culminou na mostra definitiva no The Crystal Palace, estrutura em ferro fundido e vidro, erigida para a Grande Exposição de 1851. Ali, a sequoia oca de madeira subsistiu até 1866, ano em que parte do edifício soçobrou ao fogo (em 1936 seria completamente destruído num outro incêndio). O mesmo fogo que, no ambiente natural, se revela aliado na disseminação das sequoias..A dez mil quilómetros de distância, nas serranias húmidas californianas, o abate de sequoias revelava-se imparável, perante os olhos dos primeiros turistas da região. Bengalas, castiçais, pacotes de sementes de sequoia eram, então, comercializados junto dos visitantes que dispunham de um hotel construído, ainda em 1855, sob a copa da floresta..No mesmo ano, o jornal New York Herald, alertava para a destruição das árvores que comparava às catedrais europeias, monarcas que faziam das árvores do Velho Mundo, "arbustos atrofiados". A mesma publicação apelava ao Estado da Califórnia e ao Congresso Americano para travarem o abate de sequoias. Um apelo reforçado nove anos depois na voz do senador californiano John Conness que, ao discursar no Congresso, lançou a semente para a criação do projeto de lei assinado pelo presidente Abraham Lincoln e que estabeleceu a zona protegida denominada Vale de Yosemite, mais tarde, em 1890, Parque Nacional de Yosemite..No âmago da floresta da Serra Nevada, o tronco despido da mãe árvore definhava há décadas exposto aos elementos. A folhagem subsistira nos cinco anos seguintes ao corte da casca para, depois, secar. Em 1908, um fogo florestal empurrou para o solo o destino da "Grande mãe de todas as árvores"..Em meados do século XIX, o austríaco Stephan Ladislau Endlicher, linguista, numismata e botânico, descreveu para a ciência a única espécie sobrevivente do género sequoia, a Sequoia sempervirens. Crê-se que apelidou a espécie em homenagem a Sequoyah, membro da nação índia Cherokee. Em 1819, Sequoyah inventou o silabário que permitiu codificar a língua do seu povo, até então somente património oral. Em 1825, o governo autónomo da nação cherokee adotou oficialmente o sistema de escrita criado por Sequoyah. Em 1828, foi publicado o primeiro jornal da tribo, o Cherokee Phoenix, edição também em inglês.