Maduro, Morales e Lula lamentam morte do "maior dos latino-americanos"
As reações à morte de Fidel Castro foram fortes em toda a América Latina, de uma maneira geral, mas assumiram maior relevância na Venezuela e na Bolívia, cujos presidentes, respetivamente Nicolás Maduro e Evo Morales, se autoproclamam herdeiros do legado do falecido líder cubano. Também Lula da Silva e Dilma Rousseff, antepenúltimo e penúltima presidentes do Brasil, lamentaram com consternação o desaparecimento de El Comandante.
"Trata-se da morte do maior de todos os latino-americanos", disse Lula. "Um gigante da história da humanidade", acrescentou Evo Morales, que falou minutos após a divulgação da notícia por Raúl Castro, irmão mais novo de Fidel e hoje chefe de Estado da pequena ilha do Caribe. "O homem cujo legado devemos seguir", referiu Maduro, numa de muitas intervenções via Twitter.
"Já transmiti uma mensagem de solidariedade e amor do povo venezuelano a todos os cubanos, em virtude da morte de El Comandante Fidel Castro", anunciou Maduro. "Cabe a todos os revolucionários do mundo seguir o seu caminho, ele, como Hugo Chávez, deixou o caminho aberto para a libertação dos seus povos", prosseguiu o presidente venezuelano, um dos dirigentes sul-americanos mais ligados ao regime cubano, e sucessor de Hugo Chávez na presidência desde 2013.
Também socialista, bolivariano e herdeiro natural de Castro na América Latina, o boliviano Evo Morales, do Movimento para o Socialismo, considerou o ex-líder cubano "um gigante da humanidade".
"Quero expressar a nossa mais profunda dor, realmente dói a partida de um comandante, de um gigante da história da humanidade. Ele ensinou-nos a nunca nos rendermos e a levantar a voz aos que têm políticas de dominação por meio da invasão aos povos do mundo", afirmou, via telefone, a uma televisão do seu país. "Envio as minhas condolências a todo o povo cubano e a todos os povos anti-imperialistas do mundo", disse ainda Morales.
No Brasil, o presidente da República, Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira, disse que Fidel "marcou a segunda metade do século XX, na defesa firme das ideias e convicções em que acreditava". Mas a reação mais emocionada foi de Lula, que mantinha uma relação de proximidade pessoal e política com Fidel. Lula reagiu na condição de ex-presidente da República, entre 2003 e 2010, pelo Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda. "Foi como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei", considerou o antigo presidente. Para concluir que "Fidel foi o maior de todos os latino-americanos".
A também petista Dilma Rousseff, sucessora de Lula e antecessora de Temer, despediu-se do antigo líder com um "hasta siempre Fidel", reforçando o lado "visionário" de um homem que "acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte". Fernando Henrique Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira e antecessor de Lula no Planalto, disse que a morte de Castro "marca o fim de um ciclo". O deputado Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão, de extrema-direita, e candidato às presidenciais de 2018, foi a voz dissonante: "Morreu um exterminador de liberdades e promotor da miséria."
As reações no Brasil evidenciam as clivagens políticas neste e noutros países da América do Sul como recordam a época da Guerra Fria, quando a maioria do continente vivia sob o domínio de regimes autoritários, como sucedeu no próprio Brasil a partir de 1964. O país viveria sob ditadura militar até 1985. Noutros pontos da América do Sul, como o Peru, a Nicarágua, a Argentina, El Salvador e a Colômbia, movimentos de guerrilha, inspirados no exemplo cubano e apoiados por Havana, enfrentaram, designadamente entre as décadas de 60 e 80, aqueles regimes autoritários, com grau de sucesso variado.
O papel no conflito colombiano
O presidente Juan Manuel Santos destacou a importância do mítico líder cubano na resolução do conflito armado na Colômbia com as FARC, que se prolongou por mais de meio século até ao acordo assinado em Cartagena, que culminou um processo de negociações de três anos na capital cubana. E em que, sabe-se hoje, Fidel teve papel relevante em levar a guerrilha das FARC à mesa das negociações. Como escreveu Santos no Twitter, Fidel "reconheceu no final dos seus dias que a luta armada não era o caminho [e] contribuiu para pôr fim ao conflito colombiano". Por seu turno, o porta-voz das FARC, Luciano Marín, classificou o dirigente cubano como "o mais admirável dos revolucionários do século XX".
Já no Chile, a presidente socialista Michelle Bachelet considerou-o "um líder pela dignidade e sentido de justiça social". Rafael Correa, presidente equatoriano, exclamou nas redes sociais: "Foi-se um grande, viva Fidel, viva Cuba."
O governo de El Salvador, da Frente Farabundo Martí de Libertação, partido criado a partir do grupo de guerrilha do mesmo nome ativo entre 1980 e 1991, expressou "eterno agradecimento ao companheiro Fidel, ao seu povo, e ao governo cubano pelo apoio solidário" a El Salvador "nos momentos mais difíceis".
Na Argentina, foi a ministra dos negócios estrangeiros Susana Alcorra quem reagiu, em nome do presidente Mauricio Macri, entendendo que "se fecha um capítulo" na história latino--americana. Finalmente, o presidente equatoriano, Rafael Correa, populista de esquerda, afirmou na habitual comunicação dos sábados que "o comandante cumpriu a sua missão, abriu caminhos que inspiraram muitos daqueles que desejam uma América Latina mais justa (...), mas também mais digna e mais soberana".