Macron o betinho com panache
Alguma coisa Emmanuel Macron tem que ultrapassa a inexperiência política. As carreira no topo fazem-se fazendo-se notado, se necessário não pactuando. Da primeira que ele vai a votos, e logo para Presidente, pratica perigosos "não" que têm a vantagem de serem ensurdecedoramente ouvidos. Da primeira vez que os franceses se deram conta de que aquele jovem, 39 anos, com passado acolchoado, no banco Rothschild, e voz de betinho poderia ser outra coisa, além de um mistério, aconteceu só há dias. Na Whirlpool, fábrica em greve, ele foi a um pátio com nuvens de pneus queimados. Rodeado por operários em cólera, ele disse, para um: "Não me trate por tu porque também não o faço." E para todos: "Não vos prometo nada." E depois disso dialogou (porque também não é maluco). Ontem, no único comício que vai fazer em Paris, Macron deu uma pista que explica a sua ação. Saudou na sala Daniel Cohn-Bendit, o ícone do Maio de 68, hoje já tão domado que é apoiante do centrista Macron, para contar um episódio justamente de 1968. A Paul Ricoeur, professor na sublevada Universidade de Nanterre, um aluno perguntou-lhe de onde lhe vinha a autoridade. O filósofo Ricoeur disse: "A minha autoridade vem de que eu li mais livros." Lembrar isso num comício presidencial é o que os franceses chamam panache. Um personagem de teatro, Cyrano de Bergerac, fez carreira assim. Trazer o brio para a política não sei se é prudente. Mas que faz falta, faz.