Macron abre porta a emenda ao acordo do Brexit
O tempo está a esgotar-se e não há como negociar um novo acordo de retirada do Reino Unido, disse Emmanuel Macron ao lado de Boris Johnson. No entanto, o presidente francês, ao receber o primeiro-ministro britânico, mostrou abertura para se proceder a uma emenda ao acordo, mas tudo se resume a diplomacia: "As escolhas foram feitas e não podemos ignorá-las. Não vamos encontrar em 30 dias um novo acordo de retirada muito diferente do que existe. Pode ser emendado desde que em harmonia com o mercado único e encontrar-se uma solução. Caso contrário, será uma decisão política tomada pelo primeiro-ministro [britânico]. Não será uma decisão nossa."
O presidente francês disse também que o chefe das negociações do Brexit, Michel Barnier, poderá voltar a encontrar-se com negociadores britânicos, "mas sem alterar totalmente o acordo".
Macron interpretou as declarações de ontem de Angela Merkel, que desafiou Johnson a apresentar uma solução no espaço de 30 dias em alternativa ao backstop. "O que a chanceler Merkel disse ontem, e que está de acordo com a substância das nossas conversações, é que precisamos de visibilidade [sobre uma alternativa] em 30 dias", disse Macron aos jornalistas. "Ninguém vai esperar até 31 de outubro sem tentar encontrar uma boa solução."
O chefe de Estado francês reconheceu que é conhecido como o homem duro sobre o dossier da saída do Reino Unido da UE, mas o mais importante é que quer encontrar uma solução. Lembra que o mecanismo de salvaguarda (backstop) foi negociado e que se trata de um elemento "indispensável" que garante a estabilidade na Irlanda e a integridade do mercado único. "Gostaria de dizer que os elementos-chave deste acordo, incluindo o backstop irlandês, não são apenas restrições técnicas ou disputas jurídicas, mas sim garantias genuínas e indispensáveis para preservar a estabilidade na Irlanda e para preservar a integridade do mercado único, que é a base do projeto europeu."
E reafirmou que a UE tem de garantir aos seus cidadãos que o mercado será controlado.
O conservador britânico voltou a mostrar admiração pela atitude construtiva de Angela Merkel, e que foi "fortemente encorajado" quando a chanceler o desafiou a apresentar uma solução no espaço de um mês, no encontro da véspera em Berlim. "Penso que ela tem razão. Há soluções técnicas ao dispor e têm sido discutidas", disse, para depois reafirmar que "em circunstâncias algumas o Reino Unido irá introduzir controlos fronteiriços". Neste ponto, Boris Johnson acrescentou: "Não achamos que do ponto de vista da UE necessitem de fazê-lo. Pensamos que existem outras formas de proteger a integridade do mercado único e de permitir que o Reino Unido saia da UE, na sua totalidade e de forma perfeita."
Nas redes sociais, o veredicto foi claro: Macron recebeu Johnson de forma calorosa e não disse ser impossível uma emenda ao acordo, mas reafirmou a importância do backstop, pelo que na prática a responsabilidade pelo que acontecer no dia 31 de outubro é de Boris Johnson.
Na véspera, Emmanuel Macron disse que um Brexit sem acordo seria responsabilidade do Reino Unido e não da União Europeia. E acrescentou que qualquer acordo comercial que Londres celebre com Washington não iria compensar o custo de sair da UE.
Aos jornalistas, o presidente francês afirmou que as exigências de Boris Johnson não são realistas e que uma retirada desordenada seria da responsabilidade exclusiva do Reino Unido. "Isso seria obra do Reino Unido, sempre." E reafirmou que não aceita renegociar o acordo de retirada firmado com Theresa May.
Macron disse que não viu razão para conceder mais um adiamento ao Brexit a menos que houvesse uma mudança política significativa no Reino Unido, como eleições ou um novo referendo.