Lutero foi determinante para estimular educação no norte e centro da Europa

A reforma Protestante desencadeada por Lutero, em 1517, mudou a história da religião cristã, mas os investigadores destacam ainda o seu impacto na educação, particularmente nos países do centro e norte da Europa, que apostaram na alfabetização da população.
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"No sul da Europa e especialmente na Península Ibérica, a reforma nunca chegou abertamente", disse José Brissos-Lino, pastor protestante e professor de Psicologia da Religião, em declarações à agência Lusa.

Do ponto vista educacional, países como a Finlândia, por exemplo, atingiram os 100% de alfabetização da sua população no seculo XIX, tendo a reforma de Lutero contribuído para que saber ler fosse uma base prioritária para o conhecimento dos textos sagrados.

Em Portugal, adiantou, onde a reforma não teve qualquer impacto nem influência, ainda hoje existe uma taxa significativa de analfabetismo e os protestantes são uma minoria.

Há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseados no Censos de 2011. A maioria é idosa e vive em zonas do interior. Mas existem outros 30 mil que ainda estão em idade ativa, ou seja, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.

"A reforma, apesar de se chamar reforma religiosa ou protestante, na realidade foi um corte epistemológico e de procedimentos. Até ai havia a igreja medieval e, com a reforma nasce um novo capítulo da história da Europa, mudou tudo", explicou José Brissos Lino, presidente da Comissão Organizadora do Congresso Internacional "Um construtor da Modernidade -- Lutero -- Teses -- 500 anos" (Lisboa, 2017), que decorre em Lisboa a 09 a 11 de novembro.

Há 500 anos, a 31 de outubro de 1517, o monge Martinho Lutero afixou na porta da igreja do castelo de Vitemberga, na Alemanha, 95 teses que deram início à reforma protestante, um cisma da Igreja Católica que mudou a Europa.

"Houve guerras pelo poder, houve deslocações em massa de pessoas que tinham abraçado a fé cristã e que se movimentaram para o território dos príncipes protestantes. Na Alemanha houve também movimentos extremistas contra os quais o próprio Lutero teve de lutar. Mudou tudo, mas no sul da Europa nunca chegou", frisou.

Lutero, explica José Brissos Lino, teve um efeito cultural e linguístico na identidade alemã e impulsionou a leitura provocando um grande desenvolvimento na educação, estimulando a criação de escolas. Foi um construtor da modernidade e deu a oportunidade a cada cidadão de se aproximar de forma pessoal aos textos sagrados.

"Levou as pessoas a centrarem em sim a relação com Deus, sem intermediários. Mudou o paradigma. Cada pessoa de fé passou a ser sacerdote de si própria", disse, adiantando que, na sequência da reforma, desenvolveu-se o conceito da igreja reformada sempre em reforma, sempre em análise.

No congresso internacional agendado para novembro, promovido pela área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona e pela Sociedade Portuguesa da História do Protestantismo, em parceria com a Universidade Aberta, as múltiplas dimensões do movimento da Reforma serão alvo de debate.

Além do capital religioso de Lutero, serão também abordados os valores filosóficos e estéticos.

No evento estarão presentes teólogos, biblistas e exegetas de vários quadrantes confessionais e contextos religiosos, bem como historiadores, filósofos, sociólogos e outros cientistas sociais.

Quinhentos anos depois, a herança que ficou da dinâmica reformadora e que influência permaneceu viva até hoje são interrogações que estarão em debate no evento.

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