Luta salta das ruas para as praias catalãs, agora com toalhas e cruzes
Na praia de Mataró, umas 150 pessoas, munidas de toalhas amarelas, enrolaram os têxteis e deitaram-nos em forma de cruz, como forma de apoio aos dirigentes políticos presos; na praia de Sant Sebastià, um outro grupo quis responder com a mensagem de que a praia é de todos. Sentou-se em cima de umas 300 toalhas que reproduziam a bandeira espanhola, no final de uma manifestação pela unidade do país, iniciada no centro de Barcelona. A mudança para a praia é o mais recente desenvolvimento da luta entre os independentistas e seus opositores.
Para já, as autoridades e as entidades turísticas demonstram pouca preocupação. Ainda assim, o governo catalão vai passar a pedir autorização para quem queira fixar cruzes nas praias e enviou uma carta aos autarcas a pedir neutralidade na gestão do espaço público.
Entre os profissionais do setor do turismo admite-se que isto será um problema se as praias continuarem a ser um palco político, mas nada de alarmismos. "Na imprensa francesa não saiu nada. Não estamos minimamente preocupados", comentou ao El País o dirigente de Costa Brava Centre, que junta 400 empresas de hotelaria e turismo.
Dos laços às cruzes
Os laços amarelos, símbolo de solidariedade pelos dirigentes secessionistas, e que se encontram em muitos espaços públicos da Catalunha, começaram a ser complementados com cruzes da mesma cor nalgumas praias. Mas tal como os laços suscitaram a reação de anti-independentistas organizados sob os nomes Els Segadores del Maresme, ou os Grupos de Defensa y Resistencia, as cruzes idem.
Ou seja, são ativistas - uns mais conotados com a extrema-direita e com a violência do que outros - e que têm como missão limpar o espaço público destes símbolos. No dia 20, na praia de Canet, houve confrontos. De cara tapada, os catalães contra a independência levaram à força as cruzes. Do outro lado da barricada, os Comités de Defensa de la República, terão ficado três feridos. Este foi o caso mais extremo registado, mas há notícias - e vídeos - de outras altercações.
A forma mais eficaz de as cruzes e os laços amarelos desaparecerem do espaço público é, alega quem as colocou, a libertação dos políticos presos e o regresso dos que foram viver para fora de Espanha. "Para nós, a liberdade dos presos políticos, o retorno dos exilados e a não criminalização do direito à autodeterminação são os pontos essenciais", afirmou o presidente da Generalitat, Quim Torra, em nome do PDeCAT, o partido de Carles Puigdemont.
Estas foram as condições que Torra impôs ontem para que os oito deputados do seu partido votem favoravelmente a moção de censura apresentada pelo PSOE ao governo de Mariano Rajoy. O dirigente catalão criticou ainda os socialistas, ao dizer que estes, durante o franquismo, lutavam lado a lado com os nacionalistas catalães pelo direito de autodeterminação dos povos: "Onde estão os socialistas hoje?"
Burquíni em Nice
No verão de 2016, uma outra luta política teve lugar nos areais. O caso ocorreu na Riviera Francesa e na Córsega e os contendores foram mulheres islâmicas e cerca de 30 autarquias. As portadoras de burquíni - uma veste que tapa o corpo, criada há 15 anos, e que está intimamente ligada às correntes extremistas do islão - causaram mal-estar entre os banhistas, na ressaca do massacre de Nice, que ocorrera no dia de França, 14 de julho.
O burquíni foi proibido em dezenas de praias e a polícia multou quem desobedeceu à proibição. Mas uma fotografia correu mundo: Siam, rodeada de quatro polícias, foi multada e, segundo alegou, obrigada a tirar as vestes. À Sky News, a francesa disse: "Hoje não podemos ir à praia. Amanhã, à rua? Amanhã não poderemos praticar a nossa religião?" Ouvido um grupo de defesa dos direitos humanos e outro de muçulmanos (CCIF), o Conselho de Estado suspendeu a proibição e os ânimos arrefeceram.
Se o grupo de pressão muçulmano denunciara o caso como "islamófobo" e um atentado à liberdade de expressão, o então PM Manuel Valls rejeitou estar em guerra com o islão, mas estava contra o burquíni porque é um "sinal político de proselitismo religioso". O editor egípcio Aalam Wassef defendeu no Libération que "não deve haver vergonha em condenar o extremismo islâmico e em bloqueá-lo por todos os meios legais possíveis".