Filho de português licita Josefa de Óbidos por Portugal
O lusodescendente Filipe Mendes, dono de uma galeria de arte em Paris, comprou o quadro de Josefa de Óbidos que a Sotheby"s levou a leilão há um ano e vai depositá-lo no Museu do Louvre em março. Hoje volta à carga. Estará entre as pessoas que vão licitar por esta Sagrada Família com o pequeno S. João Baptista, Santa Isabel e os Anjos que vai à praça quando forem 18.00, em Nova Iorque. Fá-lo-á em nome de uma entidade pública portuguesa, confirmou ao DN, recusando, no entanto, revelar qual.
Não se trata do Ministério da Cultura (que remete para uma das entidades que tutela, a Direção--Geral do Património Cultural (DGPC)), nem tão-pouco do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) que ficou de fora há um ano quando a Maria Madalena foi vendida e fica de fora das licitações por esta Sagrada Família com o pequeno S. João Baptista, Santa Isabele e os Anjos.
"Estamos muito empenhados noutra frente", afirma o subdiretor do museu, José Alberto Seabra de Carvalho, ao DN, referindo-se à campanha que tem sido levada a cabo para a aquisição por 600 mil euros do quadro A Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira. O museu, de resto, possui um conjunto representativo da obra de Josefa de Óbidos. "Temos cobres muito bons, das várias fases, e que percorrem tipologicamente todos os temas, daí que não seja prioridade", explica. "É rara, mas não tanto como as outras", precisa.
O que vai a leilão é um cobre da fase mais madura da artista, descreve a Sotheby"s no seu site. "Com detalhes sofisticados, e particular atenção dada aos vários têxteis usados pelas figuras", acrescentam.
A leiloeira explica que este era o suporte preferido da artista nas primeiras décadas da sua carreira, facto que a exposição Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português que aconteceu em 2015 no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, confirmou.
Está datada de 1678, quando Josefa de Óbidos tinha 48 anos. Por essa altura, era já uma pintora conhecida, "uma estrela", nas palavras de José Alberto Seabra e caso raro na pintura da época. O pai, o pintor Baltazar Figueira, emancipou-a aos 30 anos e passa então a assinar as suas obras, muitas naturezas-mortas, mas também cenas bíblicas como a do quadro em questão.
A obra esteve até agora numa coleção privada francesa, detalhe que a leiloeira omite na informação genérica que partilha sobre a obra, e que Joaquim Oliveira Caetano, conservador de pintura antiga do MNAA, confirma. A estimativa da Sotheby"s para a obra situa--se entre os 200 e os 300 mil dólares (entre 182 810 e 274 mil euros). Maria Madalena, o quadro comprado há um ano por Filipe Mendes com outros investidores em França, custou 269 mil dólares, cerca de 240 mil euros. "Uma loucura", suspira o lusodescendente, antigo funcionário do Museu do Louvre.
Surpreendido com Cultura
Filipe Mendes deixa clara a crítica ao Ministério da Cultura de Portugal. "Estou um bocadinho surpreendido por não ir a leilão. Sei que Portugal sofre, está com o cinto apertado mas acho que são coisas assim que não se podem deixar passar. Dentro de anos, ninguém vai pensar no cinto apertado, vai pensar que aquele quadro está em Portugal." O investidor nacional é uma entidade pública portuguesa que foi "complicado" encontrar, diz.