Lusitanos: o clube português de Andorra nasceu numa ceia

Comunidade lusa no principado fundou clube há 18 anos. A ideia nasceu em pleno repasto, depois de um jogo entre emigrantes. Foi campeão duas vezes e já disputou a Champions
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No principado de Andorra vivem perto de 80 mil pessoas, entre os quais cerca de 11 mil portugueses ou lusodescendentes. O peso da comunidade é tão grande que, em 1999, deu para organizar um jogo entre emigrantes oriundos de Amarante e Viana de Castelo, em que quem perdesse pagava a ceia. A fava caiu aos amarantinos, derrotados por 0-3, mas o que acabou por ficar para a história foi a ideia que surgiu durante o repasto: criar um clube português em Andorra.

O que parecia ser uma brincadeira tornou-se algo sério no futebol daquele pequeno país. Agora que atingiu a maioridade, o Futebol Club Lusitanos contabiliza dois campeonatos nacionais, uma Taça, duas Supertaças, quatro presenças nas rondas preliminares da Liga Europa e duas nas da Champions. O presidente desde 2003, António da Silva Cerqueira, é um homem orgulhoso, mas quer mais.

"Formámos um clube de respeito. Quando cheguei, não havia respeito por parte dos jogadores. Custou muito pôr o clube no sítio e limpar a má imagem que estava a dar da comunidade portuguesa. O maior destaque da nossa história foi jogar com o West Ham, em Londres, perante cerca de 36 mil pessoas. Perdemos [0-1 em casa e 0-3 fora], mas não foi vergonha alguma", contou ao DN este emigrante oriundo de Ponta da Barca, onde nasceu há 63 anos e de onde saiu em 1985 em busca de melhores condições de vida.

"Tinha gente conhecida que estava aqui a trabalhar que dizia que valia a pena e arrisquei. Trabalhei em tudo: fui produtor de gás, trabalhei na construção civil e tenho um restaurante há mais de 20 anos. É um país pequenino, muito bonito e seguro. Há muito respeito pela lei e podemos andar na rua à vontade às quatro da manhã. Há muita qualidade de vida, vamo-nos acomodando e já não saímos daqui", desabafou, entusiasmado pela visita da seleção portuguesa. "É uma oportunidade única na vida. As gentes estão exaltadas, querem ir ver o jogo. O estádio está esgotado e tem havido uma grande guerra por causa dos bilhetes, porque a lotação é escassa (cerca de 3500 pessoas)", disse ao nosso jornal, assumindo que ele e os demais emigrantes vão torcer por Cristiano Ronaldo e companhia "sem qualquer tipo de pejo". "Vamos tentar contactar Fernando Gomes para combinar um encontro", revelou o líder do emblema luso.

Metade do plantel é português

Apesar das façanhas já conseguidas pelo Lusitanos, o presidente quer mais, até porque a saúde financeira do clube depende disso. "Neste ano não conseguimos ir às provas da UEFA e estamos numa fase difícil. Participar nas competições europeias é fundamental para as finanças do clube. Queremos ser campeões", disse António Cerqueira, que se viu obrigado a tomar medidas radicais após o 4.º lugar no campeonato da época passada. "Todo o plantel foi para a rua. Os jogadores acomodaram-se e isso não pode acontecer. Agora temos um plantel novo. Queremos ser campeões", afirmou, assumindo o objetivo vincado de conquistar o título que vai fugindo desde 2012-13 - o primeiro foi conseguido na época anterior.

"Mais de metade do plantel é português ou lusodescendente. O objetivo era ter todos os jogadores portugueses, mas não dá para pagar a toda a gente. O clube é semiprofissional, uns têm os seus empregos. Na nossa equipa B e nas camadas jovens tentamos ter o máximo de portugueses ou lusodescendentes", revelou o líder do emblema luso de Andorra, que foi fundador de algumas associações portuguesas naquele principado.

Numa liga com apenas oito equipas - o Lusitanos é 3.º ao cabo de três jornadas, com seis pontos - e um nível similar ao de uma "II Divisão B" [Campeonato de Portugal], os poucos relvados são sintéticos "devido ao clima". "A seleção vai jogar num sintético fraco!", avisa.

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