Lula não vai à posse de Milei
Lula da Silva decidiu não ir à posse de Javier Milei apesar de na semana passada a futura ministra das Relações Exteriores da Argentina ter entregue ao, em breve, seu homólogo do Brasil um convite, em forma de carta, num tom cordial. O presidente brasileiro vai enviar em sua representação o chefe da diplomacia, Mauro Vieira.
Milei, um ultraliberal, atacou Lula durante a campanha - chamou-o de "comunista", "ladrão" e "ex-presidiário" e afirmou que não o receberia - mas moderou o tom na carta, entregue por Diana Mondino, em que fala em "estreitar laços" e se refere ao brasileiro como "estimado presidente". Vieira agradeceu o gesto mas reservou a Lula a decisão de aceitar ou não o convite. O presidente brasileiro, em regresso de viagens ao Dubai e à Alemanha, optou por não estar presente na Casa Rosada.
Para a decisão terá contribuído o convite a Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, que aproveitou para chefiar uma comitiva de apoiantes, entre os quais os filhos, Flávio, senador, e Eduardo, deputado e amigo de Milei.
Em cima da mesa esteve a possibilidade de Lula enviar o vice-presidente Geraldo Alckmin a Buenos Aires, o mesmo gesto de Bolsonaro que, à posse de Alberto Fernández, o presidente cessante com quem não tinha afinidade política, mandou Hamilton Mourão, então vice.
Lula optou por Vieira, no que foi considerado nos meios diplomáticos, um gesto de simpatia - antes de Mondino entregar a carta cordial de Milei chegou a ser equacionada a presença apenas do embaixador do Brasil em Buenos Aires, um ato hostil dada a proximidade entre os países.
Essa proximidade reflete-se não apenas na geografia mas também na economia, uma vez que o Brasil é, ao lado da China, o maior importador de bens argentinos. Apesar da agenda de Milei - dolarização, implosão do banco central e outras medidas consideradas radicais - os empresários argentinos dificilmente poderão viver sem uma relação oleada com o Brasil.
A posse de Milei é no domingo, três semanas após a vitória da sua coligação, La Libertad Avanza sobre o Unión Por La Pátria, de Sergio Massa, um peronista de centro-esquerda.