Lula: "Estar aqui agora, depois do que passei, é a prova de que Deus existe"
Lula da Silva chorou e falou em Deus ao ser anunciado oficialmente presidente do Brasil na solenidade de diplomação do eleito no cargo, realizada esta segunda-feira, dia 12, em Brasília. A cerimónia, que confirma os resultados eleitorais de 30 de outubro, antecede a da passagem da faixa, marcada para 1 de janeiro.
"Este diploma não é meu, é do povo que reconquistou o direito de viver em democracia neste país", começou por dizer Lula, do PT. "Eu estar aqui agora, depois do que eu passei, é a prova de que Deus existe", continuou, enquanto chorava, referindo-se ao período de mais de 500 dias, entre 2018 e 2019, em que ficou preso numa cela de Curitiba.
"Eu sei o quanto custou, não apenas a mim. O quanto custou ao povo brasileiro esta espera para que a gente pudesse reconquistar a democracia nesse país. Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu querido companheiro Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas durante toda a minha vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e de qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo as pessoas mais necessitadas", prosseguiu.
"Poucas vezes na história desse país a democracia esteve tão ameaçada, a vontade popular foi tão colocada à prova e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida".
"Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas, cuja confiabilidade é reconhecida há muito tempo por todo o mundo. Ameaçaram as instituições, criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar aos seus locais de votação, tentaram comprar o voto dos eleitores com falsas promessas de dinheiro farto desviado do orçamento público", sublinhou Lula, no discurso de diplomação.
"Quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que enfrentaram toda a sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular".
"Quando se esperava um debate político democrático, a nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais. Eles semearam a mentira e o ódio, e país colheu violência política que só se viu nas páginas mais tristes de nossa história. E, no entanto, a democracia venceu", concluiu.
A comandar a cerimónia esteve Alexandre de Moraes, na qualidade de presidente do TSE, ao lado de Rosa Weber, presidente do STF, de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e de outras autoridades. Nas bancadas, os antigos presidentes Dilma Rousseff e José Sarney - Collor de Mello, Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso, este por razões de saúde, não estiveram presentes.
Fernando Haddad, novo ministro da Fazenda, Rui Costa, futuro titular da pasta da Casa Civil, e outros ministros já nomeados por Lula compareceram à cerimónia, assim como Marina Silva, falada para ministra do Ambiente. Simone Tebet, terceira candidata mais votada a 2 de outubro que apoiou o vencedor na segunda volta, foi ausência notada.
Tradicionalmente pouco explorada pela comunicação social, a solenidade de diplomação ganhou este ano relevância mediática em virtude de prosseguirem protestos a favor de um golpe militar em frente aos quartéis protagonizados por eleitores de Jair Bolsonaro inconformados com o resultado das urnas de 30 de outubro.
Segundo o site do TSE, "por meio da diplomação, a Justiça Eleitoral declara que o candidato eleito está apto para a posse, que, por sua vez, é o ato público pelo qual ele assume oficialmente o mandato". Ou seja, a diplomação oficializa o resultado das urnas e é condição formal para que o presidente e o vice eleitos tomem posse dos seus respectivos cargos a 1 de janeiro.
A entrega dos diplomas "ocorre depois de terminado o pleito, apurados os votos e passados os prazos de questionamento e de processamento do resultado das eleições", ainda segundo o TSE, até à data limite de 19 de dezembro.
O diploma é um documento físico que deve conter o nome do candidato, a indicação do partido ou da coligação sob a qual concorreu e o cargo para o qual foi eleito.
As diplomações acontecem no Brasil desde 1951, foram suspensas durante o regime militar, de 1964 a 1985, e retomadas em 1989, com a redemocratização e a eleição de Collor de Mello.
Já a cerimónia de posse, instituída em 1910, inclui a passagem de faixa de presidente para presidente. A última vez que o ato aconteceu entre dois presidentes eleitos foi a 1 de janeiro de 2011, quando Lula passou a faixa para Dilma Rousseff. Reeleita em 2014, Dilma sofreu um impeachment e, por isso, quem passou a faixa a Bolsonaro, a 1 de janeiro de 2019, foi Michel Temer, o vice dela.