Lula e Dilma atingidos pelo escândalo do Petrolão
Doze executivos das duas maiores construtoras do Brasil, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, entre eles os respetivos presidentes, Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo, foram detidos neste fim-de-semana, no âmbito da Operação Lava-Jato, a ação policial que investiga o Escândalo do Petrolão. Dada a relação próxima entre o primeiro daqueles empresários e Lula da Silva, o presidente do Brasil de 2003 a 2010 terá confidenciado a aliados, segundo a imprensa local, que é o próximo alvo da polícia.
"Eu sou o próximo", disse Lula a interlocutores, garantem os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. De facto, o nome do antecessor de Dilma Rousseff na presidência da República e seu provável sucessor nas eleições de 2018 é citado em documentos apreendidos na 14ª etapa da Operação Lava-Jato, denominada Erga Omnes ("vale para todos" em latim). Sem direito a imunidade, por não ocupar nenhum cargo público, Lula teme ser envolvido a qualquer momento no caso.
A Operação Lava-Jato investiga o Escândalo do Petrolão, esquema de suborno por construtoras a funcionários da Petrobrás, petrolífera estatal, para obter a licitação em obras da empresa. Parte do dinheiro do suborno era depois canalizado para o financiamento de partidos políticos, a maioria dos quais da base aliada do governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula e Dilma. Antes dos líderes das duas maiores construtoras brasileiras, já tinham sido detidos membros de nove empreiteiras menores.
"Degrau a degrau, a operação Lava-Jato chega ao topo da cadeia alimentar dos negócios das construtoras", resumiu Dora Kramer, no Estadão.
A Odebrecht, maior empreiteira do país, patrocinou visitas de Lula à Guiné Equatorial e a Cuba para tentar desbloquear negócios e seduzir o poder político local. Nas viagens, o ex-sindicalista foi acompanhado pelo diretor de relações institucionais da construtura, Alexandrino Alencar, um dos detidos neste fim-de-semana na Erga Omnes. A 26 de Maio, Dilma reuniu-se durante visita oficial ao México com o próprio Marcelo Odebrecht, empresário que recebeu desde o início do seu mandato, em 2011, mais cinco vezes no Planalto por intermediação de Lula, regista a imprensa.
"Marcelo Odebrecht pode empurrar Lula para o olho do furacão mas mesmo que a Lava-Jato não chegue objetivamente a Lula e a Dilma,o desgaste de ambos e do PT é gigantesco", disse Eliane Cantanhêde, jornalista da Globo News.
A detenção de Odebrecht e Azevedo, dois dos mais poderosos e respeitados empresários do país, deveu-se à descoberta de emails onde o primeiro mostrava estar a par do sobrefaturamento de obras. O segundo foi detido por causa do depoimento de um detido que afirma que lhe pagou 500 mil reais (cerca de 150 mil euros).
Mas em causa, estimam os procuradores, estarão mais de 700 milhões de reais (perto de 200 milhões de euros) de subornos das duas empresas. Ainda assim, será apenas uma parcela do Petrolão, considerado o maior caso de corrupção do país, com valor ainda incalculável.
Só em 2014, a Odebrecht doou, oficialmente, a partidos 109 milhões de reais (à volta de 30 milhões de euros) e a Andrade 86 milhões de reais (cerca de 25 milhões de euros).
Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula no Planalto e figura de relevo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), maior partido da oposição, comentou que "é muito difícil tapar o sol com a peneira" e pediu uma investigação rigorosa.
As cúpulas do PT, apesar de não diminuírem o potencial de estragos das detenções no seu partido, reagem dizendo que querem ver o nome da operação, Erga Omnes, ser levado à letra, sugerindo que também a oposição pode estar implicada no caso, tal é a influência das duas construtoras no mundo político.
Assessores do ministro das finanças, Joaquim Levy, sublinham por outro lado que a detenção de executivos de duas das maiores empresas do país "pode tornar mais lento o ritmo já fraco da economia".
Esse ritmo lento, associado aos casos de corrupção em seu redor, vai cozendo em lume brando a aprovação de Dilma. Segundo o Instituto Datafolha, a presidente passou de 60 a 65 pontos de reprovação (eleitores que consideram má ou péssima a sua gestão), a apenas três pontos do mais baixo desempenho da história do instituto, o de Collor de Mello em Setembro de 1992, meses antes de ser alvo de impeachment.
O fantasma do impeachment, aliás, voltou a assombrar Dilma nesta semana depois do Tribunal de Contas ter ameaçado rejeitar as contas de 2014 e dado um prazo de um mês para a presidente explicar as suas manobras orçamentais.