Lula e Alckmin disputam votos de Heloísa e Buarque

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O Presidente Lula vai alterar a sua estratégia para a segunda volta das presidenciais brasileiras que se realizam no próximo dia 29. A revelação foi feita por Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais e destacado dirigente do PT, partido que ainda não recuperou do choque provocado pelos resultados de domingo, em que a soma do votos de Geraldo Alckmin (41,6%), Heloísa Helena (6,85%) e Cristovam Buarque (2,64%) impediram a reeleição de Lula (48,61%).

Falhada que foi a estratégia delineada pela coligação que apoia Lula (PT, PCdoB e PRB), tudo indica que o Presidente passará agora a estar disponível para participar em todos os debates com Geraldo Alckmin (PSDB e PFL), num reconhecimento implícito de que, afinal, sempre errou, quando se recusou a aparecer no confronto que a Globo organizou, três dias antes das eleições.

Numa altura em que o dossiergate - escândalo provocado pela compra de um dossier alegadamente comprometedor para José Serra (PSDB), o favorito na corrida ao governo de São Paulo - já tinha causado demasiados estragos à campanha de Lula, sem que ele tivesse dado conta.

Agora, tudo terá de ser diferente. Como o próprio Lula já admitiu. "É preciso tocar a vida para a frente", desabafou o Presidente, perante os ministros que acompanharam o escrutínio no Palácio da Alvorada, a residência oficial do Chefe do Estado brasileiro. "Ânimo, pessoal! Ganhámos o primeiro turno. E agora vamos vencer o segundo. Vamos ganhar duas vezes", terá acrescentado Lula, já em jeito de despedida, de acordo com uma fonte do seu gabinete citada pelos media brasileiros.

Só que a confiança não parece ser, de momento, a expressão mais adequada para caracterizar o ambiente que se vive na campanha de Lula. Aparentemente, com razão.

Se é certo que Lula obteve melhores resultados do que as sondagens deixavam antever em São Paulo, Rio de Janeiro, Baía, Ceará ou Pernambuco, também não é menos verdade que Alckmin surpreendeu no Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e no Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) pela dimensão da sua vitória. Tal como sucedeu em Minas Gerais, onde obteve uma votação mais próxima do que o Presidente esperava, já para não mencionar a Rondônia e o Acre, onde Lula não contava ser derrotado.

Reforçando, de alguma forma, a posição de Alckmin, que conseguiu ultrapassar as melhores expectativas dos seus apoiantes. Como o ex- -governador de São Paulo já explicou: "Vou para o segundo turno com grandes possibilidades de ganhar. Vamos suar a camisa para ganhar a confiança do povo brasileiro e ganhar esta eleição."

Razão pela qual as atenções passam agora a estar centradas em Heloísa Helena (PSOL) e em Cristovam Buarque (PDT), com quem tanto Lula como Alckmin vão ter de falar. Mesmo que Heloísa Helena, que foi expulsa do PT antes de fundar o PSOL, já tenha dado a entender que irá dar liberdade de voto aos seus apoiantes, sublinhando que eles saberão melhor do que ninguém o que fazer nesta segunda volta.

Só que Heloísa Helena registou alguns excelentes resultados a nível estadual. Como sucedeu no Rio de Janeiro (17,32%) e Alagoas (13,32%), onde os seus votos serão decisivos.

Mas o mais natural é que os seus apoiantes se dividam entre Lula e Alckmin, consoante as afinidades e a proximidade ideológica. Como Plínio de Arruda Sampaio, outro ex-dirigente do PT, já insinuou, voltando a aproximar-se de Lula.

Diferente poderá ser a opção de Buarque, admitindo-se que ele venha a apoiar Alckmin, muito embora esse apoio possa vir a depender da atitude que o PSDB assumir no Paraná ou no Maranhão, onde o PDT ainda pode eleger os respectivos governadores. Ajudando a ultrapassar os constrangimentos impostos por uma cláusula de barreira que o levará - quase de certeza - a juntar-se ao PPS, sob pena de ambos desaparecerem do Senado e da Câmara de Deputados do Brasil.

E ainda falta saber o que fará o PMDB, que já elegeu quatro governadores e que irá dispor de 14 senadores e 89 deputados federais. Mas o mais provável é que se divida entre Lula e Alckmin, à semelhança do que ocorreu agora. Mas no Rio de Janeiro poderá ser decisivo.

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