Lula ao DN: "No meu governo, os brasileiros não estavam saindo do Brasil, mas voltando"

Mais votado que Bolsonaro em Portugal na 1.ª volta, antigo presidente agradece apoio e pede mais um esforço dia 30. "Para o nosso país deixar de ser visto como pária no estrangeiro."
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Lula da Silva, candidato à presidência do Brasil contra Jair Bolsonaro, quer corrigir o ciclo migratório entre Brasil e Portugal, porque, embora considere que o trânsito entre brasileiros e portugueses é benéfico e que a ponte cultural entre os dois países deve ser muito bem cuidada, lamenta que "nunca antes na história do Brasil os jovens tenham querido tanto ir embora".

"Os brasileiros precisam ter oportunidades no nosso país, ter opção de vida e prosperidade aqui. Irei trabalhar de forma incansável para que a nossa economia se recupere do caos em que se encontra, precisamos voltar a investir na educação e na formação científica dos nossos jovens, e que eles tenham empregos depois de formados, para que os brasileiros tenham perspetiva de futuro no nosso país, sem terem a necessidade de emigrar", sublinha em entrevista ao DN enquanto estava em trânsito entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais a fazer campanha.

Às vésperas da segunda volta das eleições, marcada para domingo, dia 30, Lula diz que a imagem do Brasil no estrangeiro sob Bolsonaro "é um desastre". "Não é só a imagem do governo Bolsonaro no estrangeiro que é um desastre, o governo dele é um desastre".

Na primeira volta, Lula teve 48% dos votos contra 43% do rival. Na sondagem Datafolha para a segunda volta, divulgada quinta-feira, surge com 52% enquanto Bolsonaro soma 48%.

Contabilizados apenas os votos no estrangeiro, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) venceu em Lisboa, o maior colégio eleitoral fora do Brasil - com quase o dobro dos votos, depois de em 2018 Bolsonaro ter vencido Fernando Haddad, do PT, por 65% a 35% na capital portuguesa - e no Porto e em Faro, além de todos os países da Europa.

"Primeiro, eu quero agradecer os votos que tivemos em Lisboa e nas demais cidades de Portugal e países da Europa na primeira volta", afirmou. "Tem a ver com a imagem do governo Bolsonaro no estrangeiro, que é um desastre", acusa Lula, 76 anos, a concorrer à sexta eleição da sua carreira - para já, perdeu três, em 1989, para Collor de Mello, em 1994 e em 1998, ambas para Fernando Henrique Cardoso, e depois ganhou duas, em 2002, frente a José Serra, e em 2006, sobre Geraldo Alckmin, hoje seu candidato a vice-presidente.

"O Brasil tem uma tradição diplomática de relações amistosas com o mundo, mas nos últimos quatro anos é visto como um pária, ninguém convida o Brasil para nada e ninguém quer vir ao nosso país. Acredito que os brasileiros que vivem noutros países conseguem perceber isso no dia a dia, porque os seus laços com o Brasil seguem fortes", diz o presidente brasileiro de 2003 a 2010.

Na política interna, lembra que "morreram mais de 680 mil brasileiros na pandemia, o meu adversário atrasou a compra de vacinas, e o desmatamento tem aumentado muito no governo dele". "Nos meus governos, o Brasil reduziu a pobreza, o desmatamento, combateu a fome, crescia e gerava empregos. Foi uma época em que os brasileiros não estavam saindo do Brasil, mas voltando, como bem sabem os portugueses".

"É preciso lembrar que o Brasil já foi motivo de orgulho não só para os brasileiros, mas para o mundo todo. Nós liderámos discussões sobre o clima, participamos da criação do G-20, éramos respeitados como mediadores de conflitos. E vamos recolocar o Brasil dentro do mundo, de uma Terra que é redonda, não plana, como acreditam alguns do governo do meu adversário", completa.

A campanha de Lula tem, segundo a maioria dos analistas, a abstenção como adversária - e essa abstenção tende a ser mais elevada no estrangeiro. Por isso, para a segunda volta pede mais um esforço aos compatriotas residentes em Portugal. "As votações dos brasileiros no estrangeiro bateram recordes nesta eleição e tenho certeza, e também peço, que os brasileiros façam esse esforço de votar nessa segunda volta tão importante".

Sobre a emigração para Portugal continuar a aumentar, Lula confessa que preferia ver os brasileiros, sobretudo os mais novos, com vontade de voltar ao país. "Nunca antes na história do Brasil os jovens quiseram tanto ir embora e nós temos que mudar as condições reais no Brasil para mudarmos isso".

"O trânsito de brasileiros e portugueses entre os dois países sempre foi intenso e benéfico. A ponte cultural, económica e de amizade que liga Portugal ao Brasil é muito larga e precisa ser bem cuidada, então, com certeza, teremos um diálogo intenso com o governo português e com toda a comunidade lusófona, também em África e na Ásia", prossegue, lembrando a boa relação com Marcelo Rebelo de Sousa, com quem se encontrou em julho em São Paulo depois de o presidente da República não ter sido recebido por Bolsonaro em Brasília, conforme fora inicialmente marcado.

"Mas os brasileiros precisam ter oportunidades no nosso país, ter opção de vida e prosperidade aqui. Irei trabalhar de forma incansável para que a nossa economia se recupere do caos em que se encontra, precisamos voltar a investir na educação e na formação científica dos nossos jovens, e que tenham empregos depois de formados, para que os brasileiros tenham perspetiva de futuro no nosso país, sem terem a necessidade de emigrar".

Lula esteve ontem em Teófilo Otoni, cidade em Minas Gerais conhecida como capital das pedras preciosas, e em Juiz de Fora, no mesmo estado, a cidade onde em 2018 Bolsonaro levou uma facada. Nas passeatas, o candidato do PT esteve acompanhado da sua antiga ministra e três vezes candidata presidencial Marina Silva e da senadora e terceira classificada na primeira volta Simone Tebet.

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