Luís Filipe Borges: "Os intelectuais escolheram a RTP como bode expiatório"
O que é que vai ser do Boinas sem a boina?
Esse nome surgiu no tempo d"A Revolta dos Pastéis de Nata. Há poucas semanas comecei a libertar-me da boina, mas vai voltar de vez em quando, de certeza. Falando um pouco mais a sério, acho que há uma idade para tudo. Tenho 35 anos e não quero chegar a um ponto em que fique demasiado catalogado. Se me é permitida a analogia, e com todo o respeito pelo Pedro Abrunhosa, acho que se chega a uma certa idade em que há coisas que já não funcionam tão bem. Irei devagar, devagarinho, variando a minha imagem e libertando-me dos chapéus.
É um corte suave do cordão umbilical?
Somos um país muito dado a rótulos. Eu sou um rapaz que felizmente tem outras valências. Dou um exemplo: vou a uma reunião qualquer para escrever uma série dramática. Já me aconteceu dar uma opinião séria e os meus interlocutores reagirem com uma gargalhada... "Ah, o rapaz do chapéu disse uma coisa para rir!" E não era para rir, era uma coisa séria. Não me desagrada o rótulo de Boinas, acho carinhoso, acho que as imagens de marca são importantes. Há um determinado público-alvo que já me conhece assim, vamos lá agora abrir para outro público.
O Boinas foi uma persona que construiu para proteger o Luís Filipe Borges?
Sim, porque a timidez é algo que é comum à esmagadora maioria dos comediantes, o que normalmente até deixa as pessoas espantadas quando nos conhecem fora do nosso meio profissional. Acham que vamos saltar em cima da mesa, tirar a roupa... e não é bem assim. Ou seja, você faz comédia em seu nome, mas convém que projete uma persona. Porquê? Por razões tão prosaicas como a inevitabilidade de ter dias maus. O público não sabe se a nossa vida privada está mal ou não... nem tem de saber!
Esta temporada do 5 para a Meia-Noite (5PMN) é vista por uma média de 187 mil pessoas. É um número simpático, numa altura em que a RTP está em contraciclo nas audiências.
É extraordinário descobrir que ao fim de quase quatro anos ainda é possível crescer. Temos a sensação clara de que o salto para a RTP1, há um ano, nos permitiu atingir mais pessoas. Achamos que ainda é possível subir mais, mas abordamos isso com muita cautela. Não acreditamos nos dados da GfK, achamos que é uma estimativa, mas damos tanta importância a essa estimativa como à das redes sociais. Nós sentimos que nas redes sociais continuamos a crescer. Achamos que a verdade estará entre os 700 mil que temos no Facebook e esses 190 mil que as audiências falam. O que é um intervalo bastante abrangente!
O 5PMN é uma espécie de sobrevivente da RTP?
Já vamos sendo! É extraordinário, em tempos tão voláteis como estes, ter um programa, ainda por cima diário, que está à beira de fazer quatro anos. Isso deixa-nos humildes e honrados. O 5 podia perfeitamente ter acabado há um ano porque a história da passagem da RTP2 para a RTP1 é tão simples quanto isto: o Jorge Wemans [ex-diretor do canal] ligou-nos: "Meus amigos, não tenho dinheiro para fazer o programa." Felizmente o Hugo Andrade e a direção de programas da RTP disseram: "Ok, não há crise, vem para aqui." Não tenho ilusões. A televisão é, por definição, efémera. Espero fazer o 5 o máximo de tempo possível, mas duvido que dure dez anos.
Quanto tempo gostava que durasse?
Gosto muito do número sete. Se durasse sete anos, seria maravilhoso.
Acha que já tem cabimento usar uma T-shirt a dizer "Eu sobrevivi a Miguel Relvas"?
A posição extraordinariamente ambígua do nosso governo e em particular de Miguel Relvas sobre o assunto RTP foi uma das coisas mais tormentosas por que os profissionais e colaboradores da RTP passaram nos últimos tempos. Dito isto, penso, mas falo por mim, que o abandono de Miguel Relvas é um pequeno alívio, mas não é um alívio total. A RTP tem feito um esforço extraordinário em assumir-se, com a sua nova grelha, como uma alternativa clara aos outros generalistas. E infelizmente neste país de rótulos há uma coisa absolutamente extraordinária. Os nossos intelectuais e pseudointelectuais, sejam de esquerda ou de direita, escolheram, desde há bastante tempo, a RTP como bode expiatório. Formou-se esta ideia relativamente bizarra de que a RTP, seja quem esteja no poder, é escrava do poder. Ainda recentemente vi uma senhora, que é catedrática e que escreve sobre televisão, no programa do provedor a dizer que "a RTP tem de variar porque o horário nobre é exatamente igual ao dos outros canais". Ela claramente não liga a televisão há seis anos. Porque a RTP, e não é de agora, é uma alternativa aos outros canais. Apesar desta indecisão, apesar de dizerem que a RTP custa não sei quanto dinheiro, apesar de falaciosos, para utilizar um eufemismo, como o Mário Crespo, que se andou a oferecer à RTP, impingirem todos os dias uma ideia perfeitamente fraudulenta no seu espaço na SIC Notícias... Apesar de tudo isso, as pessoas que estão à frente da RTP, administrações incluídas, têm reduzido drasticamente o passivo. São até exemplo para outros gestores públicos. Para mim, a RTP vai no bom caminho para ser uma alternativa.
Qual foi, para si, a temporada do 5PMN que correu pior?
Creio que terá sido a quinta. Essa quebra dá-se simbolicamente com a saída da Filomena [Cautela] e do [Fernando] Alvim, e com a entrada da Carla [Vasconcelos] e da Luísa [Barbosa]. E não teve nada que ver com elas, quero deixar isso bem claro. Acho que houve uma franja do nosso público que se manifestou com desagrado perante essa mudança. Essas pessoas, nomeadamente a Luísa, tenho de a destacar, fizeram um grande trabalho, mas foram injustiçadas porque as pessoas são muito sensíveis à mudança.
Porque é que há tanta resistência em haver mulheres a fazer comédia na televisão?
Não faço ideia. Acho que é geral. Mesmo nos EUA, a percentagem de comediantes femininas é bastante reduzida. Eu tenho uma teoria: o sexo feminino manda no mundo. O humor é uma extraordinária ferramenta de sedução que está à disposição de todos os homens que não são Brad Pitt.
E de todas as mulheres que não são Angelina Jolie...
É possível. Mas estou absolutamente convencido de que vocês decidem em poucos segundos se o rapaz vai ter sorte ou não. Nós tivemos de desenvolver este esforço: "Como é que eu vou meter conversa com esta miúda tão gira? Tenho de a fazer rir." É uma ferramenta que os homens desenvolveram por necessidade, para vos conquistar!
E nasce o stand up comedy! É uma boa teoria. Não será também verdade que quem toma as decisões em televisão não goste particularmente de ver mulheres a fazer humor? Houve algumas tentativas, por exemplo no Levanta-te e Ri (SIC), mas que falharam.
Houve vários homens e mulheres que tentaram e não singraram por uma razão: os textos não eram deles. No stand up comedy, é fundamental que o público perceba que o que aquele caramelo está a dizer são reflexões suas. Nós temos exemplos de mulheres muito bem-sucedidas na comédia em Portugal: Ivone Silva, Ana Bola, Maria Rueff... uma coisa que acho muito difícil é as mulheres aceitarem mulheres bonitas a fazer comédia. Dou o exemplo da Luísa Barbosa. Ela tinha muitas dificuldades em ser levada a sério como comediante porque mais de metade dos homens estavam embasbacados com a brasa e metade das mulheres estava pensava: "Mas quem é que esta pensa que é?" E não estavam a prestar atenção ao que ela estava a dizer.
Para quando a segunda temporada de Conta-me História?
Ouso dizer que está muito bem encaminhada, está a ser negociada e torço, desejo e até rezo para que aconteça, porque foi o projeto da minha vida.
Foi um dos guionistas das séries da RTP1 Liberdade XXI e Conta-me como Foi. Quando é que regressa à escrita para ficção?
Penso que não será em breve por duas razões: os tempos estão muito complicados e as produtoras de ficção, precisamente por isso, começaram a proteger-se com as suas próprias equipas de guionistas, miseravelmente pagos, diga-se de passagem, muitos deles poucos experientes, mas são uma espécie de operários fabris que lhes garantem que as páginas chegam. Para um argumentista freelancer como eu, as boas oportunidades demoram cada vez mais a chegar. Gostava imenso de escrever uma novela e de entrar numa, até. Mas não quero estar a escrever uma novela das oito da manhã às oito da noite por 800 euros por mês!
Como seria a sua novela?
Tenho uma boa ideia, mas acho que seria mais uma comédia romântica. É um filme em que o primeiro-ministro e a líder da oposição se apaixonam perdidamente nas reuniões regulares e começam a gerir o país à revelia dos seus partidos, basicamente em conversas de cama, o que cria um problema seriíssimo. O aparelho partidário é completamente derrotado em nome do amor.
"José Sócrates foi a pior coisa que aconteceu a Portugal desde Salazar"
O seu primeiro livro foi de poemas. Entristece-o que o seu lado mais rentável seja o cómico e não o sério?
Não me entristece, mas a pergunta tem toda a razão de ser porque tenho um segundo livro de poesia pronto há imenso tempo e não o publiquei, de certa forma, por causa daquilo que acabou de dizer. Não é por me sentir triste, porque adoro fazer o que faço e ser pago por isso. Mas o que senti foi que ia ser totalmente desconsiderado por causa do rótulo de Boinas. Então guardei-o na gaveta.
Como foi crescer em Angra do Heroísmo?
Foi doce, acolhedor e muito, muito caseiro. Eu e o meu irmão fomos demasiado protegidos pelos meus pais. Éramos muito fechados, muito tímidos. Eu adorava ter feito desporto como os meus colegas, mas os meus pais encontravam sempre um problema qualquer. Lamento isso, mas, por outro lado, os meus pais ajudaram, sem querer, a desenvolver a nossa criatividade. Como passávamos muito tempo em casa, inventávamos o nosso próprio mundo. O nosso passatempo favorito era construir cidades, com estádio de futebol e tudo, com habitantes que tinham nomes e personalidades. De certa forma, fazíamos os nossos próprios filmes.
Porque é que foram tão superprotegidos?
Pais conservadores. Lembro-me de aos 15 anos entrar em casa um pouco mais tarde e a minha mãe chorar e dizer: "Um dia vai aparecer-me uma miúda grávida aqui em casa!" E eu nem a virgindade tinha perdido. Só perdi-a aos 16 [gargalhada] E não a perdi lá, perdi-a numas férias na Beira Alta, na terra do meu pai [risos].
Que tipo de aluno era?
Era muito bom. Entrei para a faculdade com notas absolutamente inacreditáveis. Descobri as mulheres um pouco tarde...
Não devia ser propriamente popular junto das raparigas, no liceu...
Era muito tímido. Era tão tímido que me apaixonei platonicamente pela colega da carteira ao lado porque ela ria-se das minhas merdas [risos]! E hoje somos bons amigos. Mas na faculdae tudo mudou!
A vinda para Lisboa foi o grito do Ipiranga?
Foi mesmo. Lembro-me de que as primeiras três semanas foram duras e não tinha a certeza de estar onde queria estar. Depois, apaixonei-me por Lisboa, mas vim para cá porque os meus amigos vieram. Eu era mesmo um rapaz da terra, gostava daquela ilha de 70 mil pessoas, de 90 mil cabeças de gado... em certos casos é difícil perceber quem é quem... eu gostava daquela calma! Mas ao fim de três semanas sequei as lágrimas e disse: "Isto é bom!"
Fez o curso no tempo regulamentar?
Fiz, e com boas notas! Direito não é o bicho-de- -sete-cabeças que eles gostam de vender. Qualquer pessoa com o mínimo de disciplina e intelecto faz. Depois apaixonei-me... isso também ajuda... quando se tem 18 anos, em Lisboa, o futuro nunca mais vem. Fui-me distraindo com outras coisas. Fiz teatro, fundei uma revista, saía à noite, namorava... e depois ainda fazia o curso. Só me bateu quando cheguei ao 5.º ano... e comecei a mexer-me.
Os seus pais já ultrapassaram o desgosto de nunca ter sido advogado?
Quando eles começaram a perceber que eu pagava as contas e quando os vizinhos começaram a comentar que eu aparecia na televisão, passou-lhes.
Em 2006, disse em entrevista à Notícias Magazine: "A maioria dos meus amigos está no governo. São jovens lobos". Passaram sete anos, suponho que alguns já sejam ministros.
Não, não... eles ainda são um pouco jovens. Eu tinha vários amigos no governo de José Sócrates. Dito isto, abomino José Sócrates, desprezo a personagem e acho que foi a pior coisa que aconteceu a Portugal desde Salazar. Mas sim, tenho alguns amigos ligados ao PS e alguns que me dariam fortes calduços pelo que acabei de dizer, porque trabalharam com ele e ainda o defendem. Eu acho a personagem absolutamente execrável.
Viu a estreia de Sócrates como comentador da RTP1?
Vi a entrevista e achei que ele continua igual a si próprio. Não sei se ele é um animal político, mas é um animal televisivo, sem dúvida alguma. É alguém que adoraria ter no meu sofá, um dia, mas posso dar um exemplo muito concreto do meu desprezo por esta personagem. Houve uma altura em que o 5PMN fez uma semana especial só com os líderes partidários. José Sócrates foi o último a aceitar, só aceitou quando todos os outros tinham dito que sim e foi o único que exigiu gravar o programa e saber todas as perguntas que lhe iam ser feitas. Acho que isso diz alguma coisa sobre o seu caráter.
Na altura, correram rumores de que essa entrevista e as respetivas negociações de bastidores tinham estado na origem da saída de Fernando Alvim do programa.
Não, não foi essa a razão. Eu penso que o Alvim, que é uma pessoa que eu admiro e respeito, se deixou levar pelo entusiasmo de ter o primeiro-ministro no sofá. E acho que isso é humano. E acho que aceitou condições que, na minha opinião, não devia ter aceitado.
Se o Luís estivesse nesse dia...
Não aceitava. Dou-lhe outro exemplo. Numa fase acesa das autárquicas, eu recebo António Costa e o Nilton, Santana Lopes. António Costa apareceu com um assessor, foi um programa maravilhoso, ele não fazia ideia de nada. Não me perguntou nada e se tivesse perguntado não lhe dizia.
"Se qualquer um de nós for a Badajoz ninguém sabe quem somos"
Como é que o humorista lida com o assobio, o silêncio e a má crítica?
O humor é como o teste do algodão. Não engana. Dito de uma forma corrente e até grosseira: "Tu ou te safas ou não te safas." Portanto, para aguentar uns anos nisto é preciso ter provas dadas. O drama cria um ambiente, a comédia é imediata. As pessoas ou se riem ou não se riem. Felizmente o assobio e o silêncio são raríssimos e, no caso do silêncio, há sempre a piada seguinte. Tem é de se manter a confiança, porque o público de comédia é como os cães: cheira o medo. A má crítica... felizmente tive bons mestres, e recordo com carinho a primeira crítica feita ao Zapping, pelo Mário Castrim. Era uma página inteira no Tal & Qual, era maravilhosa. Lembro-me de que um de nós tinha comprado o jornal e estava o resto da equipa, na Mínima Ideia [produtora de Luís Osório], toda contente... o Luís chegou do almoço... "Ah, já sabem da crítica do Castrim? É assim, dou-vos dois minutos para darem palmadinhas nas costas uns aos outros e, se quiserem, irem à casa de banho masturbar-se. Depois, quero que voltem ao trabalho rapidamente. Porque esta é muito boa, mas um dia destes vem uma muito má." Nunca me esqueci disto e, ao longo destes anos, tenho apanhado de tudo. Comecei a fazer essa analogia com a má crítica: se vem uma boa crítica, encaro-a como um aperto de mão, a má como alguém que não me cumprimentou.
No humor há grupinhos?
Há, há! Nós somos como as mulheres, no pior sentido! Há rivalidade, há grupinhos... O Alvim tem uma frase muito boa: "Queres estragar um jantar? Convida só humoristas!" Porque está toda a gente a ver quem é que tem mais graça. Ou seja, está toda a gente a ver quem tem a pila maior, fazendo a analogia.
Pois... são quase todos homens.
É um meio competitivo e um bocadinho semelhante ao mundo das mulheres nesse sentido. Há grupinhos, mas é a lei deste ofício. E ninguém anda à porrada, que eu saiba [pausa]. Dá-me sempre vontade de rir certas rivalidades porque se qualquer um de nós for a Badajoz ninguém sabe quem somos.
É o ódio de estimação de alguém?
Acho sinceramente que não. Há uns anos tive um problemazinho... mas passado é passado...
Com quem?
Se não me perguntar, eu não queria mesmo falar sobre isso...
Eu perguntei, se não quiser falar...
Não... passou muito tempo. Quero é enterrar machados, passou, que se lixe! Quero é que os gajos sejam felizes a fazer as cenas deles. No 5PMN temos dado a mão, por assim dizer, a muitos. Orgulho-me de ser o Júlio Isidro de várias pessoas.
"Sou um gajo que gosta de estar apaixonado"
O Luís é o Playboy Que Chora nas Canções de Amor [título de um dos livros do apresentador] ?
[risos] Gosto de títulos sugestivos e grandes. Sou um playboy contrariado. Não sou de maneira alguma um sedutor. Sou um gajo tímido, aprendi a ser extrovertido. Na minha vida pessoal não sou igual à minha persona profissional. O que me acontece é que sou um gajo que gosta de estar apaixonado. Mas estar apaixonado não é fácil. Estive três vezes na vida. E, enquanto essas relações duram, entrego-me completamente, sou um gajo dedicado e fiel e é isso que eu quero. Quando acabam, usufruo um pouco da vida de solteiro. Mas não é o que eu gosto. O que eu quero não é ser um engatatão. Mas nos meus lutos divirto-me [risos]. Sou romântico, sou lamechas, choro nas comédias românticas, com livros que me tocam, emociono-me muitas vezes e ainda bem, porque é isso que me tem poupado a terapia. Se estou triste, deito cá para fora.
Até 2006, escreveu no blogue Desejo Casar. Deseja?
Já desejei, já fui noivo, já me passou.
Já não é?
Estive para casar em 2009.
Com a Rita de la Rochezoire...
Não, foi antes da Rita!
Mas chegaram a usar aliança...
Sim, usámos. Não quero entrar em pormenores, mas fui noivo de outra pessoa, estive para casar em 2009, não aconteceu e, de facto, com a Rita usei aliança. Foi um gesto bonito e o amor é eterno enquanto dura. E é isto [risos].
Está numa fase de luto agora?
Já estou numa fase mais divertida.
Ainda está à espera daquela pessoa para Mudar o Mundo depois das Três da Manhã [título de outro livro do apresentador]?
Conheci várias. Quando era mais novo tinha uma ideia... se calhar um pouco romântica de mais. Achava que ia conhecer alguém cedo e ficar com essa pessoa para o resto da vida. Não foi esse o caminho da vida. O lado positivo é que as pessoas por quem me apaixonei são magníficas. Se me acontecesse alguma coisa má aos 35 anos, posso dizer, citando Pablo Neruda, "confesso que vivi". Tive uma vida até agora, mesmo as partes sofridas, prefiro isso ao piloto automático. Vivi grandes paixões, amei e fui amado, fiz planos, planos ruíram, fiz novos planos e tenho carinho e orgulho pelas experiências que tive.
É o único do 5PMN que ainda não contribui para a taxa de natalidade.
É verdade... a menos que no México haja um puto de 16 anos com um sombrero [gargalhada]. Gostava muito de ser pai, mas, como estive para casar aos 31 anos e não aconteceu, já me mentalizei que o meu projeto de vida mudou. Não casei e mudei a minha perspectiva de vida. Hoje é importante divertir-me, não enganar as pessoas, conhecer alguém de quem goste e viver as coisas intensamente. E os filhos virão certamente! Se não acontecer, terei muita pena mesmo.
A Vida É Só Fumaça [título de outro livro do apresentador]?
Esse título tem que ver com algo que aprendi com os meus mestres: relativizar. Eu sou um pouco drama queen, vivo as coisas intensamente. Portanto, tenho de me lembrar disso. Tento relativizar tudo e o facto de ser pessimista também ajuda. Preparo-me sempre para o pior. Quando as coisas maravilhosas chegam, vivo-as mais!
Para terminar... o Benfica vai ser campeão?
Queira Deus! Mais uma vez, recorro ao meu pessimismo. Não embandeiro em arco. Ainda não vi uma tarja num monumento nacional a dizer "reservado" e ainda bem! Estou a vibrar como não vibrava desde miúdo! Chorava e tudo! Temos três coisas para ganhar, duas já era tão bom... Se perdermos tudo, vou ter de emigrar. Espanha espera-me.