Luís Amado defende consenso político para vencer crise
"Em tempos normais, a estabilidade do sistema é um dado adquirido (...) mas em tempos de crise, como este que vivemos (...) é preciso diminuir a tensão, desanuviar o confronto e encontrar-se terreno comum para fazer o sistema funcionar", afirmou.
Amado, que disse não falar em nome do Partido Socialista, a que pertence, considerou que estas crises não são comuns e afetam particularmente os partidos políticos tradicionais, que têm dificuldade em representar todos os diferentes valores que estão a surgir na sociedade.
A crise que se vive em Portugal "é uma grave crise de soberania", disse o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (2006-2009) do governo socialista de José Sócrates.
A crise da dívida deixou os partidos sem os instrumentos para responder às necessidades dos eleitores, por ser preciso financiar a economia e essencial gerir as expectativas de investidores, explicou.
"Deste modo, a gestão das expectativas dos investidores é difícil quando é preciso gerir as expectativas dos eleitores, porque queremos ser eleitos e temos este problema disfuncional no nosso sistema político", acrescentou.
"Suspeito de que estaremos na mesma estrada, num futuro próximo, se o meu partido [PS] continuar a não encarar a realidade de forma apropriada e não nos preocuparmos com a disfuncionalidade entre o nosso discurso na oposição e a nossa ação no governo", declarou.
"Este é o problema: se não conseguirmos o equilíbrio adequado entre antagonismo e consenso no nosso sistema político, estaremos a agravar as condições de rutura desse sistema político e no futuro teremos uma revolução e uma nova constituição. É sempre assim que estes processos terminam", concluiu.
Luís Amado, atualmente presidente do conselho de administração do Banif, falava na conferência "Antagonismos e consenso nos sistemas políticos de Portugal e Alemanha", organizada pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa em parceira com a Fundação Konrad Adenauer.