Luís Amado defende adesão da Turquia à UE
Para o líder da diplomacia portuguesa seria um erro interromper negociações
A presidência portuguesa está a trabalhar pela continuação das negociações de adesão da Turquia à UE e considera "inaceitável" uma interrupção brusca do processo, disse ontem o presidente do conselho de ministros da UE, Luís Amado.
"A presidência portuguesa está precisamente a fazer um esforço para que o processo não seja congelado", disse Luís Amado à imprensa, depois de ter reunido com o Presidente, o primeiro-ministro e o seu homólogo turcos, à margem da conferência de Istambul sobre o Iraque. "Seria um erro interromper um processo que deve contar com a boa-fé das duas partes", acrescentou, frisando que "a Turquia tem feito um esforço para poder convergir com os critérios da UE".
Ressalvando que o processo negocial "não depende da presidência mas de todos os Estados membros", o ministro dos Negócios Estrangeiros português disse ter dado "algumas garantias ao Governo turco" de que a presidência está a trabalhar para manter as negociações em curso.
Questionado se a Turquia tem razões para se sentir discriminada em relação a outros países candidatos, Amado considerou que não, mas que há elementos que podem levar Ancara a duvidar da boa-fé negocial da União Europeia.
"É conhecido que têm sido colocados alguns entraves, mas a pressão sobre o Governo turco para que haja continuidade no processo de reformas é justificada", disse. Amado acrescentou que os responsáveis turcos lhe manifestaram "a vontade de continuar nesse processo".
A adesão da Turquia à UE foi sempre apoiada por países como Portugal, Reino Unido ou a Espanha, mas conta com a oposição clara de países como a França ou a Áustria.
Depois de abertas as negociações em Outubro de 2005, o processo sofreu um grave revés em Dezembro de 2006 quando, devido à recusa de Ancara em abrir os seus portos ao Chipre (membro da UE desde 2004), Bruxelas decidiu congelar oito dos 35 capítulos da negociação.
Luís Amado afirmou que não abordou a questão da ameaça turca de invadir o Norte do Iraque com o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan. Mas disse-se confiante de que a visita de Recep Tayyip Erdo-gan aos Estados Unidos, domingo, permita "encontrar um quadro político e diplomático mais favorável para encontrar uma solução que impeça uma invasão".
"Queria sublinhar que a realização desta conferência é, em si, um elemento importante na avaliação da situação entre a Turquia e o Curdistão. As declarações que foram feitas e os compromissos assumidos por parte do Iraque e dos países vizinhos faz-me supor que esta conferência vai ter um efeito positivo", disse Luís Amado.
Luís Amado participou na reunião de Istambul que juntou representantes dos países vizinhos do Iraque - Turquia, Irão, Kuwait, Arábia Saudita, Bahrain, Jordânia e Síria - e do próprio Iraque, assim como a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, e o secretário--geral da ONU, Ban Ki-moon.
Amado integrou a delegação da UE que incluía, além do ministro português, na qualidade de presi-dente do conselho de ministros da União Europeia, a comissária europeia para as Relações Externas, Benita Ferrero-Waldner. Foram também convidados os membros per-manentes do Conselho de Segurança da ONU. LUSA