Lua de Saturno tem temperaturas 'quentes'

'Cassini' fotografou fractura na superfície de Enceladus através da qual são expelidos vapor de água e compostos orgânicos. Em certos pontos a temperatura é muito alta
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A maior lua de Saturno, Ence-ladus, continua a espantar os cientistas. Foi dessa forma, aliás, que Bob Pappalardo, cientista da sonda Cassini, no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, se referiu aos dados recolhidos pela sonda na sua última passagem junto àquela lua. Temperaturas mais altas do que seria de esperar, jactos de vapor e compostos orgânicos são as novidades que chegam daquele mundo distante.

"Enceladus continua a surpreender", disse Pappalardo, explicando que a "cada nova passagem da Cassini aprendemos mais sobre a sua actividade e sobre o que se passa no interior daquela estranha lua".

E o que se passa é que os jactos de vapor de água e de compostos orgânicos que se soltam daquela lua variam de intensidade com o tempo e emergem de extensas fracturas na sua superfície, onde se registam temperaturas anómalas.

Foi isso que agora os cientistas conseguiram confirmar, graças às últimas imagens recolhidas pela Cassini.

Pela primeira vez, foi possível obter uma imagem detalhada de uma destas fracturas no pólo sul, combinando registos feitos na luz visível, em infravermelhos e em três dimensões (ver foto em baixo).

Ali se observa um segmento de cerca de 40 quilómetros de extensão da maior daquelas fracturas em Enceladus, designada Sulco de Bagdad, e em evidência ficam as temperaturas anormalmente altas que ali se verificam em alguns pontos.

De acordo com os dados obtidos pelos cientistas do JPL, uma pequena zona daquela fractura, ao longo de um quilómetro, regista temperaturas entre 93 graus Celsius negativos e 73 graus Celsius negativos. Valores muito mais altos do que os 223 graus Celsisu negativos que os instrumentos da Cassini registaram na vizinhança do Sulco de Bagdad.

"Aqueles valores mais altos, são muito frios para os nossos padrões terrestres, mas revelam-se um oásis em comparação com as zonas logo ao lado da fractura naquela região", adiantou por seu turno John Spencer, membro da equipa que tratou os dados da Cassini, no Soutwest Research Institute, em Boulder, no Colorado (EUA).

Estas temperaturas quentes - para os padrões daquele mundo supergelado - resultam provavelmente do aquecimento dos flancos da fractura pelos jactos de vapor de água que são expelidos naquela zo- na, projectando no espaço as partículas de gelo e os compostos orgânicos detectados pela sonda da NASA. É pelo menos isso que pensam os cientistas.

"A grande quantidade de calor que sai destas fracturas pode ser suficiente para derreter o gelo no solo e subsolo e este tipo de observações tornam Enceladus um dos sítios mais espectaculares que encontrámos no sistema solar", afirmou a propósito John Spencer.

Alguns cientistas do projecto Cassini pensam que quanto mais altas são as temperaturas à superfície , maiores as probabilidades de os jactos provirem de uma massa líquida no interior da lua. Se assim for, ela será também a água extraterrestre mais acessível ao estudo por parte dos investigadores .

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