Lotaria nas máquinas concorre com cauteleiros de rua

Venda nas máquinas está a indignar cauteleiros, que sentem a sua profissão ameaçada. Mas os apostadores ainda não sabem que podem comprar cautelas automáticas.
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"Quem quer o 17 e o 79 para amanhã?" Pelas ruas do Rossio, a "gorda do jogo", como por ali é conhecida, vai apregoando as cautelas para a Lotaria Popular. Mas, por estes dias, Maria Carolina Santos anda mais preocupada com o negócio. É que a juntar-se à crise, as cautelas podem ser compradas nas máquinas automáticas des- de 5 deste mês, tal como já acontecia com o Euromilhões e o Totoloto. "Querem acabar com os vendedores de rua, mas não conseguem", critica a vendedora de 53 anos.

Desde os sete anos que Maria Carolina vende cautelas, e, com a crise actual, a "salvação é ter muitos clientes antigos" e saber os truques da venda na rua. A juntar à experiência profissional está a fama da "gorda do jogo", que, diz a própria, "todos conhecem" e que vale por si. E também o facto de já ter dado muitos prémios.

Vender uma lotaria premiada enche Maria Carolina de orgulho e até lhe traz benefícios: "Quando as pessoas ganham depois dão uma boa gorjeta", confessa. Mesmo enquanto conta as suas histórias vai vendendo cautelas a quem passa e não deixa de soltar os seus pregões.

Nas mesmas ruas passeiam-se outros cauteleiros que também não estão satisfeitos com estas mudanças no jogo. Para quem já usou as máquinas automáticas a única vantagem é conseguir comprar aquele número em que se acredita.

Eduarda Gonçalves foi pela primeira vez comprar a lotaria neste sistema, porque os cauteleiros não tinham a terminação em que tem fé. "Quando ouço os meus números da sorte, que são o 27 e o 29, compro logo", refere a vendedora ambulante na zona do Rossio. E, apesar de já ter experimentado a venda moderna, garante que "as coisas antigas e tradicionais são melhores". Ou seja, "vou continuar a comprar aos cauteleiros aqui na rua. Desta vez foi só mesmo para experimentar".

Apesar das queixas dos cauteleiros, a verdade é que ainda são poucos os apostadores que sabem que podem escolher as terminações da Lotaria Popular e Nacional nas máquina automáticas. "Isto é recente e as pessoas ainda não sabem que o podem fazer. Acabo por ser eu a sugerir quando não temos o número que a pessoa quer", refere um funcionário da Casa da Sorte, no Rossio, em Lisboa.

Para o cauteleiro Jorge Santos, o problema do negócio não é só a venda nas máquinas mas também a quantidade de jogos que estão à disposição do público. "Há muito jogo para apostar", critica o vendedor de 75 anos.

"Desde os 14 anos que vendo lotaria e isto está cada vez pior", diz. E se antes não tinha dificuldade em vender bilhetes inteiros agora já não é assim tão fácil, indica. "Já há três anos que não consigo vender um bilhete inteiro da Lotaria do Natal, que era do que mais vendia. Para ganhar cinco euros preciso de vender dez cautelas", queixa-se o vendedor de lotaria.

Indignada está também Rosa, que aos 69 anos garante que se acabarem com os cauteleiros vai "roubar". Ao longo dos 50 anos de profissão, tem sobrevivido graças aos fregueses certos e conta já com três prémios grandes ganhos por eles.

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