Lori Lightfoot, a primeira negra e 'gay' a liderar Chicago

Lightfoot conseguiu 74% dos votos numa última corrida esta terça-feira contra outra candidata.
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Dia 2 de abril de 2019 vai ficar na história da cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América. Lori Lightfoot, de 56 anos, foi eleita esta terça-feira como mayor (presidente da câmara) da terceira maior cidade dos EUA e é a primeira negra a consegui-lo. Ativista dos direitos civis e antiga procuradora federal, Lightfoot conseguiu 74% dos votos numa última corrida contra outra candidata e também faz história por ser a primeira mayor gay da cidade, eleição que celebrou com a filha e a mulher no palanque.

"Todas as crianças devem perceber uma coisa: qualquer um de vós, um dia, pode ser mayor de Chicago", declarou Lightfoot no seu discurso de vitória, ela que era vista como uma outsider sem currículo político numa corrida que teve um total de 14 candidatos. "Na Chicago que vamos construir em conjunto vamos celebrar as nossas diferenças. Vamos abraçar as nossas singularidades. E vamos assegurar que todos teremos as oportunidades para sermos bem-sucedidos. Estamos a mostrar uma cidade onde não interessa qual é a tua cor de pele, onde certamente não interessa se és alto e onde não interessa quem tu amas".

Num discurso onde se dirigiu várias vezes às crianças, Lori Lightfoot afirmou ainda que todas as raparigas e rapazes que a viam estavam a assistir "ao início de algo, enfim, um bocadinho diferente", ao "renascimento de uma cidade". A nova mayor tem pela frente um enorme desafio numa Chicago a mãos com uma escalada de violência armada entre gangues, suspeitas de corrupção pública, a meio de uma reforma das forças de segurança e com famílias negras empurradas para fora da cidade. Essas foram mesmo algumas das bandeiras de Lightfoot durante a sua campanha, a luta contra a corrupção e a defesa dos mais carenciados.

Mesmo não tendo currículo político, experiência para lidar com dossiês difíceis não lhe faltará. A antiga procuradora chefiou a investigação à atuação policial que se seguiu à morte de Laquan McDonald, de 17 anos, em 2014, e liderava o Chicago Police Board (Conselho da Polícia de Chicago, em tradução literal), uma organização da sociedade civil que monitoriza a atuação das forças de segurança. "Nós podemos e vamos conseguir quebrar este ciclo de corrupção da cidade. E nunca mais, nunca mesmo, permitir que os políticos usem os seus cargos em proveito pessoal", frisou esta terça-feira a nova presidente da cidade, enquanto, simbolicamente, erguia um punho fechado no ar.

A eleição de terça-feira opôs Lightfoot a outra candidata finalista, Toni Preckwinkle, e fosse qual fosse o resultado final, a entrada na história já estava assegurada, já que também Preckwinkle é afro-americana. "Esta é claramente uma noite histórica", sublinhou Preckwinkle dirigindo-se aos seus apoiantes depois da divulgação dos resultados, que a deixaram "desapontada" mas não "desanimada". "Há pouco tempo seria impossível imaginar duas afro-americanas a disputar este cargo. Se é verdade que tomámos caminhos diferentes para chegar aqui, a partir desta noite o que interessa é o caminho que nos leva para a frente".

Já não falando de Barack Obama, que por duas vezes foi eleito para o mais alto cargo dos EUA, a eleição de Lightfoot reforça uma onda de vitórias de afro-americanos em algumas das principais cidades norte-americanas, como São Francisco, Atlanta e Nova Orleães. Lori Lightfoot sucede a Rahm Emanuel, que foi assessor de Obama na Casa Branca e decidiu não concorrer a um terceiro mandato como presidente de Chicago.

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