López diz a Zapatero que Constituinte é "para aniquilar a República"
O opositor venezuelano Leopoldo López está em prisão domiciliária e proibido de dar entrevistas, mas isso não impede que a sua mensagem passe para fora das quatro paredes da sua casa em Caracas. Na quarta-feira, López recebeu o antigo primeiro-ministro espanhol, o socialista José Luis Zapatero, que tem procurado mediar uma solução para a crise venezuelana. O líder do partido Vontade Popular ter-lhe-á dito que os venezuelanos não vão permitir que o governo no presidente Nicolás Maduro leve a cabo o seu "projeto de aniquilação da República", numa referência à Assembleia Nacional Constituinte que este está a organizar.
O teor da conversa entre López, que foi transferido da prisão militar Ramo Verde no sábado, e Zapatero foi partilhada por Freddy Guevara, um dos vice-presidentes da Assembleia Nacional venezuelana, que visitou o opositor depois do antigo líder espanhol. "López transmitiu uma mensagem firme de luta pela liberdade de toda a Venezuela", indicou num vídeo partilhado no Twitter, onde confirmou também que o líder opositor falou ao telefone com o atual primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos, o uruguaio Luis Almagro.
"A primeira coisa que fez foi agradecer a Amalgro toda a luta pela Venezuela. Leopoldo estava muito comovido e convidou-o a vir à Venezuela", disse. Já com Rajoy "conversaram sobre a situação atual, agradeceu-lhe a sua posição firme em relação ao tema venezuelano", indicou Guevara. "O primeiro-ministro espanhol ratificou a sua preocupação e a rejeição à convocação da Constituinte."
O presidente convocou esta assembleia para reescrever a Constituição, num gesto que a oposição considera ilegal e destinado a reforçar o regime. Por isso, antes da eleição dos 545 membros da Assembleia no dia 30 de julho, a oposição realiza já este domingo uma consulta popular simbólica para perguntar aos venezuelanos se concordam com a Constituinte. Segundo a empresa de sondagens Datanalisis, cerca de 70% dos venezuelanos opõem-se à realização desta assembleia e 80% não concordam com a gestão de Maduro.
Segundo Guevara, Zapatero e López falaram sobre a "repressão" e a "crescente conflitualidade" que existe no país. A crise política instalou-se em janeiro de 2016, quando a oposição, reunida na coligação Mesa de Unidade Democrática , passou a ter maioria absoluta na Assembleia Nacional. Mas a contestação a Maduro tornou-se praticamente diária desde abril, depois de o Supremo Tribunal de Justiça divulgar duas sentenças que limitavam a imunidade parlamentar e em que este organismo assumia as funções do Parlamento. Nas manifestações, já morreram pelo menos 94 pessoas - a oposição fala em mais de cem.
Outra líder opositora, María Corina Machado, acusou contudo Zapatero de "defender os interesses do regime e da ditadura", lembrando que não foi o ex-primeiro-ministro mas "o povo nas ruas" que permitiu que López fosse colocado em prisão domiciliária.