Londres rejeita relação entre Iraque e atentados

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O envolvimento na guerra do Iraque tornou o Reino Unido mais vulnerável a ataques terroristas como os de 7 de Julho em Londres, cujo balanço subiu para 56 mortos e 700 feridos. Foi esta a conclusão apresentada num relatório ontem divulgado e que as autoridades britânicas se apressaram a desmentir, recordando que o extremismo islâmico já era uma ameaça muito antes do conflito no Iraque.

"Não há dúvidas de que a situação no Iraque trouxe dificuldades acrescidas ao Reino Unido e à coligação na luta contra o terrorismo", afirma o relatório do Royal Institute of International Affairs (RIIA), um prestigiado centro de investigação londrino conhecido como Chatham House.

Em Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros Jack Straw insurgiu-se contra esta conclusão. "A hora de encontrar desculpas para o terrorismo já passou", afirmou Straw aos jornalistas, acrescentando que "os terroristas atacaram em todo o mundo, em países aliados dos EUA, que apoiaram a guerra no Iraque, e em países que nada tiveram a ver com esse conflito".

O ministro da Defesa britânico, John Reid, também contestou o relatório do RIIA e declarou que mesmo que, se se tivesse mantido afastado da guerra no Iraque, o Reino Unido "correria o mesmo perigo".

"Não duvidamos que o Reino Unido já era um alvo muito antes da invasão do Iraque", admitiu o investigador Paul Wilkinson, um dos autores do relatório. "Mas a Al- -Qaeda tirou o maior partido do conflito, que se transformou num obstáculo na luta contra a rede terrorista", explicou.

Os autores do relatório consideram ainda que a guerra do Iraque "acelerou a propaganda, o recrutamento e a recolha de fundos da Al- -Qaeda, ofereceu aos terroristas um alvo e um campo de treino e desviou recursos que poderiam ter sido usados para apoiar o Governo afegão e levar Ussama ben Laden perante a justiça".

Estas conclusões contrariam a argumentação do primeiro-ministro Tony Blair, que tem procurado convencer os britânicos de que os quatro atentados de Londres nada têm a ver com a situação no Iraque.

Os investigadores do RIIA afirmam ainda que, até 2001, o Reino Unido deu pouca importância à ameaça extremista, abrigando indivíduos que preparavam atentados noutros países. Os serviços secretos britânicos estavam concentrado no conflito na Irlanda do Norte e nos atentados do Exército Republicano Irlandês (IRA).

Em meados dos anos 90, a polícia britânica "sabia que Londres servia de base a indivíduos que promoviam, financiavam e preparavam ataques terroristas no Médio Oriente e outros locais", revela o relatório. Mas "estes não eram considerados uma ameaça à segurança interna do país e deixaram que prosseguissem as suas actividades com uma impunidade relativa".

legislação. Os três principais partidos britânicos - Conservador, Trabalhista e Liberal-Democrata - chegaram ontem a um acordo de princípio sobre um projecto de lei que visa implementar novas medidas antiterroristas. A proposta será apresentada ao Parlamento em Outubro e deverá entrar em vigor em Dezembro. Este acordo surgiu após conversações entre o ministro do Interior, Charles Clarke, e os seus ministros-sombra, o conservador David Davis e o liberal-democrata Mark Oaten.

O Executivo trabalhista pretende criar três novos delitos principais formação na utilização de produtos perigosos e noutros métodos ou tácticas com fins terroristas, a incitação "indirecta" ao terrorismo e os "actos preparatórios" para atentados. Estes projectos, anteriores aos atentados de Londres, deverão ver a sua aprovação acelerada. Outras medidas urgentes poderão ser tomadas após o encontro entre Blair e os responsáveis da polícia, na quinta-feira.

Enquanto Clarke fazia esta declaração, uma delegação de muçulmanos britânicos dirigiu-se a Westminster para entregar uma mensagem de apoio às vítimas dos atentados e denunciar os terroristas como contrários ao islão. A delegação alertou, contudo, para o facto de milhares de pessoas insatisfeitas estarem dispostas a aderir às redes terroristas.

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