Lolita, a orca mais solitária do mundo e a libertação animal

Publicado a
Atualizado a

Lolita, conhecida como a orca mais solitária do mundo, morreu na semana passada, após 50 anos de confinamento no Miami Seaquarium.

Foi capturada em 1970 no oceano Pacífico, para participar em espetáculos de animais marinhos e privada da sua liberdade e do convívio com outros membros da sua própria espécie durante 50 anos, após a morte de Hugo, também capturado, mas que morreu em 1980, com um aneurisma cerebral, acreditando-se que o facto de bater sistematicamente com a cabeça contra o vidro do aquário tenha contribuído para isso.

Documentários como o Blackfish, têm exposto o lado cruel da captura e manutenção em cativeiro destes animais para entretenimento. Vários estudos científicos que revelam que animais selvagens mantidos em cativeiro sofrem diversas consequências adversas no seu comportamento e saúde. A restrição do espaço, como no caso de Lolita que, com 2.268 kg, vivia numa piscina de apenas 18m de comprimento e 6,1m de profundidade, a falta de estimulação e a separação do seu ambiente natural têm demonstrado causar distúrbios comportamentais, stress crónico, problemas de saúde física e emocional, além de reduzir significativamente a expectativa de vida destes animais, que na natureza pode chegar até aos 90 anos, no caso de algumas fêmeas.

São animais que nos oceanos percorrem milhares de milhas, que criam relações sociais complexas, formam grupos familiares, têm vocalizações que formam dialetos distintos, com hábitos e comportamentos transmitidos de geração em geração, ou seja, demonstrando que a cultura não é exclusiva do ser humano, nem as emoções.

Veja-se o caso da orca que, em luto prolongado, transportou a sua cria, morta à nascença, pelo menos durante 17 dias e ao longo de milhares de milhas.

E o ser humano, na sua arrogância especista, tem-se sentido no direito de capturar e confinar estes seres para entretenimento, para além da reprodução que é feita em cativeiro de golfinhos, quando o direito a viverem em liberdade, deveria ser um direito basilar. E isto, por mais marketing que a indústria faça, não é conservação, não é educação ambiental, é crueldade.

Foram inúmeros os esforços realizados por ativistas e ONG´s ao longo dos anos com vista à libertação de Lolita. E quantos anos de vida não teria Lolita dado para viver em liberdade? Para poder percorrer os oceanos, comunicar com os da sua espécie ou formar a sua própria família? Para viver e não apenas sobreviver.

Em Portugal não temos orcas em cativeiro, mas temos vários mamíferos marinhos, como os 35 golfinhos, detidos para fins de entretenimento e não de recuperação ou conservação da espécie.

Tendo esta realidade presente, o PAN deu entrada de uma iniciativa que recomenda ao Governo a reconversão dos delfinários, criação de centros de conservação e recuperação das espécies marinhas e de santuários, que garantam as condições necessárias para a libertação destes animais ou nos casos em que tal não é possível, que se integrem num meio natural, similar ao seu habitat natural.

Ao falar com uma amiga sobre este caso, dizia-me a mesma que "a Lolita conseguiu o que nós enquanto humanidade lhe tirámos e nunca fomos capazes de lhe devolver: a liberdade". Um sentimento generalizado de quem acompanhou a morte de Lolita com tristeza e frustração.

Esperamos que em relação à iniciativa do PAN as demais bancadas parlamentares nos acompanhem. Pois casos como o de Lolila convocam-nos para uma abordagem mais ética e sustentável em relação à conservação e ao bem-estar dos animais marinhos e acima de tudo a um imperativo ético de libertação animal.

Deputada única do PAN

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt