Lojas da Almirante Reis abertas na Noite das Bruxas
Na noite de Halloween, há festa na Almirante Reis e na Morais Soares, junto à Praça do Chile. As lojas vão abrir sexta-feira até às 24.00, promete-se animação e petiscos. Entre as atividades, oferece-se um jantar aos seis melhores mascarados cujas fotos serão tiradas na Parede do Horror. Tudo isto para chamar os moradores e os forasteiros à rua, porque a atividade local "está a morrer", reconhecem os comerciantes. E aproveitam uma festa que já foi mais estrangeira para dinamizar o bairro que já foi moda: Arroios.
São cerca de 40 os lojistas que abraçaram a iniciativa e que contribuíram para que o Halloween seja festejado nas ruas de um dos bairros mais envelhecidos da capital e onde o comércio tradicional tem fechado. As farmácias também gostariam de aderir mas falta o aval do Infarmed. Estes comerciantes acreditam que há volta a dar à degradação da zona, juntando-se à animação de outras ruas vizinhas: da Praça de Londres à Avenida de Roma e onde decorre a primeira Lisboa Halloween Parade.
"É preciso uma certa alegria." "É bom para dar vida ao comércio, principalmente a Almirante Reis, que morreu." "Não vendemos de dia, quanto mais à noite." "Ouvi qualquer coisa, mas não vou abrir." "É uma iniciativa interessante, devia ser mais vezes." Afirmações que demonstram a realidade do comércio local, reconhece Paula Cascais, impulsionadora da iniciativa.
A empresária é a proprietária do restaurante vegetariano Bem Me Quer, na Almirante Reis, e que, ao fim de 15 anos, continua desconhecido para muitos moradores. "As pessoas não estão habituadas a frequentar o comércio local, vivem neste bairro mas não dão pelo comércio, preferem fazer as compras em outras zonas ou em centros comerciais. Esta área tem-se degradado e há necessidade de unir as pessoas", explica aquela que é uma das fundadoras da associação A Maluquinha de Arroios, cujo principal objetivo é revitalizar o bairro.
Maluquinha de Arroios
A Maluquinha de Arroios é uma comédia de costumes do início do século passado que foi teatro e cinema. A peça escrita pelo escritor e humorista André Brun e que se estreou em 1919 é, agora, o nome da associação do bairro porque "a maluquinha" é a única coisa emblemática de Arroios, justifica Paula Cascais, considerando-se ela própria "maluquinha", por vezes. Quer evitar a morte da atividade envolvente. A "noite das bruxas" é a primeira iniciativa e, "se correr bem", haverá um Natal especial, uma primavera, um Dia dos Namorados, etc.
Muitos estabelecimentos locais, com nomes que só os mais velhos recordam, fecharam ou mudaram de ramo. Isto depois de os serviços públicos centrais dali terem saído. "Foram para o Parque das Nações e isto ficou deserto. Os mais novos saíram, ficaram os mais velhos. Vieram pessoas de fora [imigrantes] e o comércio tradicional alterou-se completamente com a abertura de lojas chinesas, mercearias de indianos e de brasileiros. As pessoas deixaram de sair à rua para comprar", conta Paula Cascais.
As lojas de outros continentes já fecham muito para lá das 19.00, mas os mentores da iniciativa asseguram que esta não é uma forma de se juntarem a quem não podem vencer, salientando que precisam de todos. A noite de sexta-feira tem o apoio da Junta de Freguesia de Arroios e da União de Associações do Comércio e Serviços.
Na Almirante Reis há lojas imutáveis há décadas e essas são, em regra, as que não aderem ao Halloween, e há, também, que fazer contas para avaliar o custo/benefício de tal participação. A maioria dos comerciantes dizem que o negócio vai mal.
Sónia Ferreira abriu a Linha de Açúcar há um mês, uma loja de cake designer (decoração de bolos) que é uma tendência no país. Uma montra inovadora ao lado da Casa Garcia, que arranja e vende chapéus-de-chuva, mas também facas, tesouras, etc. O senhor Garcia pondera ter a porta aberta além das 19.00, tudo depende do movimento. Mais à frente há uma lavandaria moderna e Sónia tem esperança de que a renovação aconteça naturalmente. "Sempre gostei muito desta avenida e não encontrava um espaço com estas condições por este preço numa zona tão central como esta", justifica a empresária. Espera crescer subindo degrau a degrau como aconteceu com a loja de Viseu, que abriu com a sócia há nove anos.
A Perfumaria Braz, que inclui instituto de beleza, vai na segunda geração da família, agora com as irmãs Teresa e Isabel à frente. Viram muitos "filhos" sair do bairro, ficaram os mais velhos e os novos que chegaram têm pouco poder de compra. "É bom que se dinamize a zona e vamos estar abertos. Estão aqui lojas muito boas, com qualidade e tratamento diferenciado. Estas iniciativas são importantes."
Manuela Rocha, 61 anos, reformada da função pública, escolhe roupa numa loja chinesa. Concorda com a nova animação da rua. "Não sabia, mas acho bem. Acabo por fazer compras em outros sítios porque aqui não se pode vir à rua depois de anoitecer. Tenho medo."