Lixo tóxico usado para construir escolas em Itália
Investigação. Autoridades descobriram mais um esquema mafioso
Edifícios têm elevada presença de arsénico, zinco, chumbo e mercúrio
Os italianos pensavam que a Mafia já tinha ultrapassado todos os limites no que respeita ao negócio do lixo. Até o impensável ter acontecido: 350 mil toneladas de resíduos tóxicos foram transformadas em material de construção e usadas para erguer escolas e habitações sociais. A descoberta foi feita na sequência de uma investigação iniciada há nove anos, com o nome de código "Black Mountains" (montanhas negras).
Este negócio perverso ocorreu na região da Campânia, no Sul, zona de influência da 'Ndrangheta, uma das mafias mais perigosas. Os dados da referida investigação, citada pelos media italianos e espanhóis, indicaram que nos municípios de Crotone, Isola di Capo Rizzuto e Cutro existem pelo menos 18 edifícios que foram construídos com um material que tem elevadas doses de arsénico, zinco, chumbo e mercúrio, elementos perigosos e cancerígenos.
Os resíduos tóxicos em causa provinham da siderúrgica Ilva e da metalúrgica Pertusola Sud e eram transformados numa massa que, depois de misturada com terra e pedra, servia de material de construção. Essa argamassa perigosa foi usada para construir salas de aula nas escola primárias de San Francesco (Crotone) e de Pozzoseccagno (Cutro). Mas também para fazer o troço de uma auto-estrada, erguer casas, cimentar uma praça e um instituto.
Os 18 edifícios que apresentaram elevada contaminação estão fechados há uma semana, por ordem do procurador Pier Paolo Bruni. Até agora não houve detidos, embora estejam a ser investigadas sete pessoas, entre as quais empresários, construtores e alguns funcionários dos serviços sanitários locais, indicou a correspondente do El Mundo.
Há várias décadas que o crime organizado enterra de forma ilegal os resíduos tóxicos de muitas indústrias no Sul de Itália, cobrando dez cêntimos por cada tonelada que faz desaparecer da vista, três vezes menos do que está legalmente fixado. "O que está a vir a público em Cretone era absolutamente inimaginável", comentou Agazio Loiero, presidente da vizinha região da Calábria.
Esta não é a primeira vez que o negócio da Mafia com o lixo gera polémicas ligadas à saúde. No início do ano, pouco antes das eleições, que deram a vitória a Silvio Berlusconi, foram descobertas altas taxas de dioxinas no leite de búfala usado para fabricar o famoso queijo mozzarella. Aconteceu também na Campânia.