Livros a pedido perpetuam histórias de vida de anónimos

Em Portugal, há livros sobre histórias de pessoas a chegarem às mãos dos protagonistas dessas vivências, os quais, quase sempre, estão longe de imaginar que as suas vidas poderiam estar plasmadas em páginas impressas.
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Sandra Nobre é a autora desses livros, não tendo contabilizado quantos já escreveu desde janeiro de 2013, no projeto 'short stories' (pequenas histórias/contos), e, até agora, apenas recusou passar para o papel uma história: não quis ter a responsabilidade de ser a mensageira de uma mãe que queria confessar que era apenas adotiva e não biológica.

Os livros sob encomenda surgiram quando Sandra Nobre acompanhou a notícia de um fotojornalista desempregado que recebeu um prémio e percebeu que, apesar de "estar numa situação confortável como freelancer, não queria estar na dependência dos jornais", onde todos os dias "se assiste a redações a ficarem vazias".

Depois de ter passado pelo jornal Sol e já com outros projetos, Sandra Nobre decidiu abrir a "gaveta virtual" onde ia colocando ideias e rapidamente deu "vida às shorts stories".

No primeiro dia de divulgação na rede social Facebook recebeu uma encomenda. Um mês depois participava num congresso sobre o amor.

Por esta altura, a autora já sabia que os seus livros deveriam ser "objeto de culto e guardiões de memórias" e, por isso, têm por norma cerca de 20 páginas, com a história e fotografias reveladas.

"Resolvi trabalhar com artesãos na encadernação e douramento do título, porque são também profissões que estão a desaparecer, e tudo isso acabava por contribuir para que o livro fosse uma joia de família", notou.

As encomendas começaram por histórias de amor, mas alargaram-se a livros para serem dados em casamentos e em aniversários, com Sandra Nobre a referir que, apenas por uma vez, um destinatário confessou que o resultado final não era o idealizado, por esperar uma fábula.

"Mas não me deu essa indicação e eu não ficciono as histórias, que são reais", explicou a escritora, que espera que a pessoa retratada no livro o sinta como seu.

"Não tenho receita", resumiu a autora à agência Lusa, adiantando que recebeu pedidos de vários locais do mundo e que, pela troca de emails, percebe qual a situação e personagens que vão surgir no livro, além de utilizar um questionário por medida.

No processo de recolha de informações acabam por se "avivar memórias, vêm muitas lágrimas à mistura, recuperam-se sentimentos e, o resultado final, é muito mais que um livro", relatou autora, com base nos testemunhos que tem recebido.

Por não ser justo para o destinatário, nem para a escritora, Sandra Nobre recusou apenas escrever um livro, no qual uma mãe queria informar a filha que esta era adotada.

Além dos livros encomendados, com preço base de 250 euros, Sandra Nobre começou na área de livros infantis e desenvolveu com os artesões produtos como uma garrafa com mensagens, lenços de namorados e um diário para ser escrito por adultos.

A vida da própria autora "vai sendo escrita todos os dias".

"Eu acho que, se calhar, acabo por espalhar a minha história, nas histórias dos outros, mas também não me sobra muito tempo e a minha história acaba por ser a menos importante", concluiu.

PL // JLG

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