LIV Series. O torneio patrocinado pela Arábia Saudita que dividiu o mundo do golfe
Qualquer semelhança é pura coincidência... ou talvez não. Há muitos anos que os clubes mais poderosos do futebol europeu tentam criar uma Superliga Europeia como alternativa à Liga dos Campeões, mas o projeto morreu à nascença com o não (e ameaças) da UEFA. Mas no golfe, com as devidas distâncias, nasceu uma proposta semelhante que ganhou pernas para andar e que se vai estrear já esta quinta-feira em Londres (e até domingo), o LIV Golf Invitational Series, patrocinado com fundos da Arábia Saudita e que conseguiu agregar alguns dos melhores jogadores do mundo, que abriram desta forma guerra ao PGA Tour (organização que reúne os jogadores profissionais de golfe masculino nos Estados Unidos e na América do Norte).
É uma espécie de rebelião que promete mudar as regras do jogo. O PGA ameaçou os jogadores com multas e sanções, mas muitos golfistas resolveram alistar-se ao novo formato, movidos sobretudo pelo aspeto financeiro, já que os prémios são muito superiores aos que a PGA paga. "Os membros do PGA Tour não estão autorizados a participar no evento da Liga Saudita de Golfe. Quem violar os regulamentos estará sujeito a ações disciplinares", chegou a ameaçar a organização num comunicado
Phil Mickelson, hexacampeão de golfe, foi um dos últimos nomes a juntar-se a uma lista de luxo, ele que vai colocar termo a uma pausa de quatro meses após ter feito comentários muito críticos ao PGA Tour. Outros nomes sonantes da lista de 48 participantes são Dustin Johnson, Graeme McDowell, Ian Poulter, Lee Westwood, Louis Oosthuizen, Martin Kaymer, Sergio Garcia, Charl Schwartzel e Kevin Na.
Os rumores sobre um torneio alternativo começaram a surgir há cerca de três anos. Mas do papel passou-se à ação no ano passado, quando Greg Norman, antigo número 1 mundial da modalidade e um dos maiores críticos do sistema instalado, se tornou no rosto da LIV Golf Series.
Mas nem tudo foram rosas, porque o projeto é apoiado e financiado pela Arábia Saudita, logo com ligações ao governo saudita, e vieram imediatamente à tona as questões ligadas aos direitos humanos e muitas críticas de associações como a Amnistia Internacional.
O aspeto financeiro foi a principal razão para tantos aderentes. No total, esta série de oito torneios vai distribuir qualquer coisa como 226 milhões de euros. O de Londres, que arranca esta quinta-feira, tem um budget de 23 milhões, com sensivelmente 3,7 destinados ao vencedor. Só para se ter um ponto de comparação, o recente Masters de Augusta, nos Estados Unidos, distribuiu 14 milhões de euros e o vencedor encaixou 2,4 milhões.
O LIV Golf Series traz também novos regras, num formato "empolgante", como descreveu a organização. Os torneios serão disputados em três dias e com 54 buracos, ao contrário dos tradicionais eventos de quatro dias com 72 buracos. Dentro do mesmo torneio haverá competições individuais e por equipas.
A verdade é que esta nova competição entra em concorrência direta com os torneios PGA, até porque cinco das oito provas vão realizar-se nos Estados Unidos - Portland, Bedminster, Boston, Chicago e Miami. As restantes três serão no Reino Unido (Londres), Tailândia (Bangequoque) e Arábia Saudita (Yeda). Curiosamente, dois dos torneios nos EUA terão como palco dois campos de golfe propriedade do ex-presidente americano Donald Trump (Bedminster e Miami). Por isso há também quem assegure que Trump está de alguma forma ligado ao LIV Golf. Não só pelas suas boas relações com a Arábia Saudita, mas também pela sua amizade com Greg Norman, diretor da prova.
Mas para já nem todos estão alinhados com o novo circuito do golfe. É o caso do espanhol Jon Rahm. "Não jogo por dinheiro, que seria a única para poder aceitar. Jogo pelo legado de poder ser campeão. Atiram com números e pensam que te convencem", disse o atual número 2 mundial. Também Tiger Woods ficou para já de fora e não aceitou juntar-se aos dissidentes: "Acredito na história, nos grandes torneios, no nosso circuito. Há um legado nisso."