Literacia financeira supera a "imagem de qualquer governo"

Ministro João Costa diz, à margem de uma conferência, que ter a capacidade de perceber os impostos é uma forma de não ficar a pensar que estes são apenas algo que vem dar "umas dentadas" nos rendimentos.
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O ministro da Educação defendeu esta terça-feira, durante uma conferência, em Lisboa, que "uma cidadania só é ativa se for esclarecida e informada". Ora, no caso da literacia financeira, tema da conferência em causa, maior esclarecimento e informação significa ter uma população, no caso, jovem, capaz de descodificar dados como a carga fiscal sobre os rendimentos, as subidas das taxas de juros e outras medidas por vezes menos bem aceites e que poderão 'embaciar' a imagem do governo. Será isso assim tão bom? "Pior seria, independentemente da imagem que isso dá de um qualquer governo, seja este, seja outro, não fomentarmos a capacidade crítica, capacitando os jovens para interpretarem essa informação", afirmou João Costa.

Um dos exemplos mais corriqueiros de uma boa literacia financeira será os jovens perceberem logo o que significará para a prestação da casa dos pais (uma subida) quando Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, avisa que, na presente conjuntura, vai ser preciso "mexer" na taxa de juro antes do verão.

Outro exemplo: jovens bem literatos financeiramente teriam a ginástica mental para, ao lerem a notícia recentemente publicada no Diário de Notícias/DV sobre o facto de Portugal ser o 10.º país com a maior carga fiscal sobre o rendimento do trabalho, e que dava conta de que o peso de IRS e contribuições sociais sobre os custos do trabalho tornou a subir - pelo terceiro ano consecutivo - chegando aos 41,8% entre trabalhadores solteiros sem filhos, esses jovens (dizia-se) teriam a ginástica mental para trocarem logo mentalmente esta situação por miúdos e perceberem que o mesmo é dizer que estes trabalhadores, na prática, passam quase metade do ano a trabalhar para o Estado, em vez de para si próprios.

Ainda à margem da referida conferência, o ministro da Educação reagiu: "Obviamente, quando falamos da capacitação para a literacia financeira nas nossas escolas, nós estamos também preocupados e empenhados em que os jovens consigam olhar para esses indicadores, olhar para as notícias que saem, por exemplo neste tema da inflação, que hoje preocupa a todos, e saibam compreender o que está por trás. Seja compreender o que está por trás dos fenómenos, seja também compreender o que está por trás de opções [do governo]".

João Costa continuou explicando que "quando falamos de literacia financeira, falamos também de dar aos jovens a capacidade de perceber qual é papel dos impostos". E avançou exemplos práticos: é dar-lhes a capacidade de perceber que "se temos ruas, se temos recolha de lixos, se temos Serviço Nacional de Saúde, isso faz-se porque somos contribuintes e porque todos participamos na construção de uma coisa coletiva".

A concluir, e para que melhor se compreendesse o porquê do peso dos impostos em Portugal, o ministro explicou com uma imagem mais gráfica. "Senão, isto parece apenas que há alguém que vem dar umas dentadas nos nossos rendimentos, sem que isso tenha qualquer reflexo na qualidade de vida das populações. Portanto, literacia financeira é mesmo isto."

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