Listas
O ritual da constituição das listas eleitorais tem sido, desde sempre, o espelho mais revelador do funcionamento dos partidos políticos em Portugal. Mas talvez nunca, como hoje, ele reflectiu a tacanhez e o oportunismo serôdio que condicionam a selecção da grande maioria dos candidatos a deputados. As escassíssimas excepções só serviram para evidenciar a regra nos elencos propostos pelos dois partidos que irão dominar a cena parlamentar (estando naturalmente mais circunscrito o âmbito de escolha dos três partidos mais pequenos).
No PSD, a preocupação fundamental de Santana Lopes terá sido a do náufrago que quer salvar o maior número possível de fiéis incondicionais, embora sacrificando alguns nomes que, por acaso, foram dos que mais se distinguiram positivamente na legislatura cessante. Como se isso não bastasse, voltou a dar um tiro no pé com o fiasco patético da candidatura do comentador televisivo do FC Porto, Pôncio Monteiro. Quanto ao PS, José Sócrates mandou às urtigas a tímida renovação tentada por Ferro Rodrigues e apostou no seguro de vida do velho aparelho partidário. Além do simbolismo da presença da viúva de Sousa Franco em Coimbra, apenas dois nomes trazem, de facto, a marca da novidade Manuel Pinho em Aveiro e Braga da Cruz no Porto. E, mesmo assim, o mínimo que se pode dizer é que nenhum deles constitui uma aposta imaginativa e estimulante para mobilizar o eleitorado. É com este cartaz que Sócrates pretende «vender» uma imagem de modernidade e fazer com que os portugueses «voltem a acreditar»?
O próximo parlamento deverá ser, por isso, um dos mais pobres, cinzentos e desqualificados de todos os que conhecemos desde o 25 de Abril. Ora, era precisamente agora, porventura mais do que nunca, que se impunha responder à apatia e desencanto dos cidadãos com sinais fortes de reabilitação e aggiornamento da vida política.