Lisboa na Rua. Um mês no jardim para nos despedirmos do Verão

Até dia 30, há muita dança, música e cinema nos jardins de Lisboa. A ideia é conhecer novos locais e novas propostas, diz a presidente da EGEAC. Uma programação inclusiva e gratuita pensada para um "largo espectro" de lisboetas.
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Lisboa está a mudar e o Lisboa na Rua muda com a cidade. O festival com que a EGEAC recebe a rentrée em setembro começou por ser pensado para "criar atratividade para turistas". Agora que a cidade borbulha de visitantes ganha uma nova vocação: "Assumimos essa transformação do Lisboa na Rua mais virado para a cidade, para os lisboetas", diz Joana Gomes Cardoso. Sendo estes lisboetas "quem cá vive, quem nos visita, quem cá trabalha". E os novos inquilinos da cidade: "Sentimos que a população estrangeira residente tem muita curiosidade, é uma comunidade muito interessada nas propostas culturais e por isso procuram-nos. Refilam quando não há uma tradução e foi mais a pensar nesses que criámos o programa bilingue [português/inglês]."

Para os lisboetas de todos os quadrantes, o Lisboa na Rua instala-se pela cidade de 1 a 30 de setembro. Mas desengane-se se pensa que, tal como em edições anteriores, vai rumar ao Terreiro do Paço para um grande espetáculo. Nem um. O "bebé" da presidente da EGEAC é, nesta edição, a apresentação de Carmina Burana, de Carl Orff, pelo Coro e Orquestra Gulbenkian no jardim do Vale do Silêncio, nos Olivais (dia 9). Joana Gomes Cardoso não esconde que a tarefa de convencer a Gulbenkian a ir para um sítio que "ninguém" sabe onde é não foi fácil.

Tudo começou há um par de anos, quando a própria descobriu este jardim e ficou "encantada". Andou a magicar o que poderia lá fazer ("desde westerns ao ar livre, ainda não desisti...") e nesta programação resolveu desafiar a Gulbenkian. "Nós iniciámos esta parceria com a Gulbenkian há uns tempos mas sempre para ambientes relativamente controlados, zonas nobres, digamos assim. Terreiro do Paço. Estive um bom bocado a convencer a Gulbenkian para vir para o Vale do Silêncio. Eu acho que foi o facto de Risto [Nieminen], o diretor musical, ser finlandês e não ter eventualmente o mesmo tipo de preconceitos que nós temos quando são as nossas cidades. A certa altura lá consegui arrastar o Risto até ao Vale do Silêncio. Ele vinha com muitas reservas e ficou encantado. Nesse dia fechámos a Carmina Burana no Vale do Silêncio", conta. "E aqui foi pensar em trazer uma proposta de privilégio, a Orquestra e o Coro Gulbenkian, numa lógica de acessibilidade, de democratização da cultura e com todas as letras: estarão vestidos de gala, um pouco ao estilo das garden parties que há em Inglaterra." A Carris deverá ter carreiras especiais para o local neste dia.

A ideia deste Lisboa na Rua é, também, dar a conhecer novas zonas da cidade, criar "novas centralidades" numa cidade com o coração cada vez mais pressionado. Joana Gomes Cardoso fala ao DN no jardim do Campo Grande, que hoje acolhe o arranque do festival com a orquestra do Hot Club de Portugal, que faz 70 anos em 2018 ("de alguma forma começamos já as festividades..."). Enquanto conversamos, dezenas de aviões voam baixinho quase a chegar ao aeroporto e no lago, em vez de patos, há um grupo de crianças que tomam banho. Esta é uma das zonas de aposta da câmara, já assumida na edição passada do Lisboa na Rua. "Temos aqui espaços culturais que são da EGEAC, o Palácio Pimenta e o Museu Bordalo Pinheiro. É uma zona onde houve uma aposta da cidade, e é cada vez mais vivida. É um outro centro da cidade", refere.

Uma novidade do cartaz é a dança. "Temos sentido que na cidade há cada vez mais grupos de dança, mais espontâneos, outros mais organizados e quisemos ir ao encontro disso. Também sabemos que os portugueses são um bocadinho tímidos e não gostam muito de se expor, mas com o final das festas em que tivemos os Gipsy Kings e os Van Van, em que trouxemos já esse universo da dança, percebemos que se houver pessoas a puxar umas pelas outras as pessoas acabam por se soltar, portanto quisemos introduzir isso aproveitando espaços ao ar livre." No programa há vários tipos de dança e haverá escolas e mestres a ajudar a acertar o passo.

De regresso ao Lisboa na Rua estão o Cinecidade, no Palácio Pimenta, o Kiosquorama (no Coreto de Carnide), o Lisboa Soa (na Estufa Fria) e o Sou do Fado, no Largo de São Carlos. Também surgem no cartaz eventos programados por outras entidades, que decorrem na mesma altura e são gratuitos, como o Entrada Livre, no Teatro Nacional D. Maria II, a Open House Lisboa, o Festival Silêncio ou o Arroios Film Fest. Com um orçamento de 300 mil euros, o Lisboa na Rua é pela primeira vez neste ano inteiramente suportado pela EGEAC. Nas edições anteriores contou com o apoio do Turismo de Portugal. Agora diz virar-se para os lisboetas.

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