Lisboa Mistura, a lusofonia a partir do Intendente
O primeiro encontro de rap e hip hop nacional com selo Sons da Lusofonia foi há 18 anos e estavam lá os músicos Valete e NBC que voltam este ano ao Lisboa Mistura, com Virgul, Maze, Fuse, Sir Scratch e Bob da Rage Sense, para um concerto na quinta-feira, às 21.30, no Largo do Intendente, coração deste "festival que não é festival", segundo o seu diretor artístico, o saxofonista Carlos Martins.
"Trabalhamos com os bairros há muitos anos, não são só aqueles três ou quatro dias, e queremos que o Lisboa Mistura seja todo o ano", acrescenta o músico ao DN. É isso que quer ver refletido no concerto de abertura, amanhã, às 21.00, no palco principal do Largo do Intendente, com a OPA - Oficina Portátil de Artes, um projeto pedagógico com uma década que reúne jovens de diversas origens e bairros de Lisboa, acompanhados pela primeira vez por banda e DJ. Este é o resultado de várias residências artísticas dirigidas pelo músico Francisco Rebelo, dos Orelha Negra. "O pilar deste projeto é trazer jovens da periferia ao centro", afirma Carlos Martins.
Antecipando o concerto, hoje, entre 18.00 e as 19.00, a escola Restart abre as portas na rua da Almargem, 10, para o ensaio. É o dia do arranque oficial do programa, com live graffitti entre as 17.00 e as 20.00, na Underdogs Art Store, no Cais do Sodré - Glue e Mosaik, colaboradores de Vhils, constroem a obra, o som é de DJ Kwan.
Na sua 11.ª edição, este ano, o Lisboa Mistura quer estar "mais próximo do som de Lisboa, de Portugal e dos países que falam português", avança Carlos Martins, lembrando que se comemoram 20 anos da associação Sons da Lusofonia, nascida seis meses antes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). "Queremos valorizar a criação e do novo modelo da lusofonia", explica o diretor artístico sobre a programação de 2016, defendendo uma estratégia de integração baseada no entendimento cultural.
Na sexta-feira, às 21.00, entra em cena o coletivo sul-africano Batuk, cuja vocalista é a artista moçambicana Manteiga. Têm um primeiro disco, Música da Terra (editado em maio) no alinhamento e para o concerto trazem a percussão de Gueladjo Sané, da Guiné-Bissau. Às 22.15, apresenta-se Konono N.º1, um concerto baseado no disco Konono meets Batida (de abril de 2016, gravado em Lisboa), e colaborações da cantora Selma Uamusse e MC AF Diaphra.
No sábado, às 21.00, o palco é dos Retimbrar, um grupo do Porto, "que representasse a música que se faz em Portugal, fora de Lisboa", diz Carlos Martins. E às 22.15 juntam-se todas as latitudes da lusofonia: Waldemar Bastos (Angola), Kimi Djabaté (Guiné), André Cabaço (Moçambique), Tonecas Prazeres (São Tomé), Jenifer Solidade e Khaly Angel (Cabo Verde), Leo Minax e Alexandre Frazão (Brasil), Carlos Barretto, Mário Delgado, Carlos Martins (Portugal).
As conversas
Lisboa Mistura faz-se também de conversas. Hoje, as 19.00, no Largo da Severa, fala-se sobre o Som de Lisboa, e a palavra é dada a Marlon Silva (DJ Marfox), Maria Reis (Pega Monstro), Camané, Gabriel Ferrandini e o jornlista Mário Lopes (moderação de Pedro Gomes).
Amanhã, também às 19.00, mas na Casa Independente, juntam-se António Brito Guterres, António Contador e Teresa Fradique para falar sobre música pós-colonial de Portugal - do irromper do hip-hop nos anos 1990 às manifestações do afro-house do presente, com moderação do jornalista e crítico do Público, Vítor Belanciano.
O Lisboa Mistura, de entrada livre, sofreu este ano uma alteração do calendário, passando de junho para julho. "Ainda não entendemos muito bem a mudança, mas havia a ideia que havia muitas coisas dedicada à mistura nas Festas [da cidade]", justifica Carlos Martins. O festival é organizado com o apoio da câmara municipal de Lisboa e da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC).