Lisboa concentra 22% de toda a habitação social portuguesa

Estudo feito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e divulgado esta segunda-feira faz o retrato do bem-estar da população nos municípios portugueses. Territórios mais urbanos têm maiores rendimentos brutos anuais e a maior parte da população vive em apenas 30 municípios. Ao DN, Rosário Mauritti explica as metodologias e conclusões.
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São sete municípios a nível nacional. Juntos, agregam mais de metade da habitação social de Portugal e 22% das casas sociais estão localizadas na região de Lisboa. O levantamento foi feito por um grupo de seis investigadores coordenado por Rosário Mauritti, que produziram o estudo Territórios de bem-estar: Assimetrias nos municípios portugueses, divulgado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). O objetivo foi o de apurar, em traços gerais, de que forma a noção de bem-estar é influenciada pelas assimetrias nas condições de vida da população nos 278 municípios de Portugal continental.

Para o fazer, os investigadores começaram por dividir o território em cinco clusters (ou grandes grupos). "Os municípios que fazem parte de cada uma das divisões acabam por ser próximos do ponto de vista da densidade populacional ou a escolaridade da população ativa, por exemplo", explicou ao DN Rosário Mauritti.

Segundo a investigadora, docente no ISCTE, "a preocupação em traçar o retrato dos municípios já vem desde a crise de 2008". No entanto, existe uma diferença para os estudos que têm sido feito neste campo: "Normalmente, os estudos são feitos com base em indicadores de felicidade e bem-estar feitos por entidades como a OCDE ou o Eurostat, que produzem dados agregados", adiantou. "Quisemos perceber como traçar um retrato do bem-estar de forma mais pormenorizada", acrescenta. Para isso, os investigadores recorreram a dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que permitissem, desde logo, agrupar os concelhos consoante os critérios definidos.

Mas não foi só. Para perceber melhor as características de cada concelho, os investigadores precisaram fazer uma observação no terreno - que acabou por ser condicionada pela pandemia - e, por isso, recorreram, explica Rosário Mauritti, "ao Google Street View, olhando para as ruas da sede de município e, depois, para ruas nas freguesias à volta. A seguir, procurámos para entrevistas com o poder local, empresas de comércio local e grupos de foco com a população". Devido à pandemia, a maior parte destes contactos foram feitos através da plataforma Zoom.

Este modus operandi permitiu, entre outras conclusões, perceber que, por exemplo, nos chamados "territórios de baixa densidade" uma das áreas que mais emprego dá às populações é o setor do apoio social. Isto é, estruturas de apoio a idosos ou pessoas com deficiência que, segundo Rosário Mauritti, "empregam muitas pessoas, normalmente mulheres com uma escolarização mais baixa."

Por outro lado, o estudo permitiu perceber também que os municípios com rendimentos mais baixos foram aqueles que mais jovens perderam nos últimos anos.

Com este estudo, é ainda possível perceber que há vários fatores que afetam a noção de bem-estar. Por exemplo: "a qualidade do ambiente é um dos traços mais valorizados", explica a equipa de investigadores, tal como "o equilíbrio entre trabalho e vida familiar".

Contudo, diz Rosário Mauritti, "é importante clarificar: há muitas assimetrias no bem-estar ao longo do território português", por isso, "não é justo dizer que se vive melhor aqui do que noutro lado. Não se pode descurar o contexto de cada um. Uma pessoa altamente qualificada não se vai sentir realizada num espaço que não corresponda às suas expectativas profissionais e pessoas", clarifica.

Outra das conclusões a que o estudo chega é, por exemplo, que o maior investimento em atividades culturais e recreativas acontece em municípios do interior - a distinção entre os vários tipos de território não é feita neste caso.

Simultaneamente, o rendimento médio das famílias portuguesas é superior à média europeia em apenas seis municípios de Portugal continental. No entanto, conclui-se, em 28% dos concelhos mais de metade das famílias são consideradas pobres.

Noutra perspetiva de análise, os municípios considerados pelos investigadores como sendo territórios inovadores são os que maior rendimento bruto anual têm (18 052,5 euros). Do outro lado do espetro estão os territórios de baixa densidade, com 8 990,4 euros.

Ao olhar para as divisões territoriais feitas (ver infografia), é possível ver aquilo que motivou os investigadores a agregar os municípios nas categorias. Porém, quais os maiores desafios neste retrato?

Para Rosário Mauritti, "o maior desafio ao bem-estar são claramente as áreas que comprometem mais o Estado Social, como as condições de estabilidade ou, por exemplo, a falta de transportes públicos nas zonas menos urbanas", considera.

Outra das principais conclusões a que o grupo de investigadores chegou prende-se com aquilo que a população portuguesa privilegia na noção de bem-estar. Mais do que bens materiais, refere a investigadora responsável pelo projeto, "o que é mais valorizado são coisas como a segurança ou a mobilidade casa-trabalho", ao mesmo tempo, concluem, a entreajuda acaba por desempenhar um papel importante e, por isso, "as pessoas têm maiores índices de bem-estar nesses municípios."

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