Likud. Gideon Saar é o único que desafia Netanyahu
Gideon Saar, ex-ministro da Educação e do Interior, era uma estrela em ascensão no governo de Benjamin Netanyahu e no Likud. Mas entrou em choque com o primeiro-ministro israelita e optou por se afastar da política em novembro de 2014, alegando que queria passar mais tempo com a família - é casado com a influente jornalista Geula Even, com quem tem dois filhos, tendo ainda outros dois de um anterior casamento. Saar voltaria à política ativa dois anos depois e em junho de 2017 o The Washington Post perguntava: "Pode este homem ser o próximo primeiro-ministro de Israel?" A ambição parece lá estar. Saar, de 53 anos, é o único a desafiar Netanyahu nas primárias do Likud, que se realizam a 26 de dezembro.
"Não tenho pressa para ser primeiro-ministro, mas disse claramente quando voltei que pretendo liderar o partido e o país no futuro", explicou em 2017 na entrevista ao jornal norte-americano, lembrando que antes de se afastar tinha sido por duas vezes o mais votado nas eleições para as listas do partido. No ano passado, Netanyahu acusou Saar de ter um plano para o afastar, algo que este considerou uma "teoria da conspiração".
Mas, no momento mais baixo para Netanyahu, Saar volta a atacar. O primeiro-ministro foi acusado pelo procurador-geral Avichai Mandelblit de fraude, quebra de confiança e suborno numa série de escândalos de corrupção. É acusado, por exemplo, de trocar favores legislativos em troca de presentes ou cobertura mediática favorável. Qualquer outro ministro seria obrigado a demitir-se, mas não é o caso do chefe de governo, que ainda assim se afastou das pastas que acumulava: Saúde, Agricultura e Diáspora. Netanyahu insiste que é inocente e alega ser alvo de uma "caça às bruxas".
Além dos problemas judiciais, o primeiro-ministro enfrenta umas inéditas terceiras eleições no período de um ano. Os israelitas voltam às urnas a 2 de março, depois de Likud e o partido Azul e Branco (centro), liderado pelo ex-militar Benny Gantz, terem praticamente empatado nos dois escrutínios anteriores, não conseguindo chegar a acordo para formar governo.
As sondagens dão a Gantz 35 deputados (mais dois do que tem atualmente), colocando Netanyahu com 31 (um abaixo do que conseguiu nas eleições de outubro). Quando são tidas em conta as eventuais alianças, o Azul e Branco está a dois deputados da maioria, segundo a sondagem Kantar divulgada no último domingo.
O cenário não está melhor para o Likud se Saar vencer: o partido só elegeria 27 deputados. Mas a subida da União dos Partidos de Extrema-Direita deixava o bloco da direita mais próximo da maioria absoluta. Ou abriria a porta a uma eventual grande coligação, com Gantz a recusar desde logo qualquer acordo com Netanyahu por este ter sido formalmente acusado pelo procurador-geral.
Netanyahu é o primeiro-ministro israelita há mais tempo no poder - esteve no poder entre 1996 e 1999, voltando ao poder dez anos depois -, tendo ultrapassou o recorde de um dos fundadores de Israel, David Ben-Gurion. E está há mais de 20 anos à frente do Likud. No lançamento da sua campanha, Saar disse respeitar o longo currículo eleitoral de Netanyahu, mas acredita que ele agora é um obstáculo para o partido. "Ele levou-nos quatro vezes ao governo. Mas as coisas estão claras: não haverá uma quinta vez."
A decisão cabe aos cerca de 120 mil militantes do Likud, tendo um grupo de apoiantes de Netanyahu gritado "traidor" contra Saar no exterior do local onde apresentou a candidatura - onde estiveram presentes cerca de 500 ativistas e uma dezena de deputados, com a imprensa israelita a dizer que estes arriscam ficar de fora das listas para as próximas eleições. Com o seu lema "Só Saar pode", numa referência à formação de governo, o adversário de Netanyahu optou por centrar o seu discurso neste ponto e não nas acusações contra o primeiro-ministro.