Ligados ao mundo

<p>A tecnologia sofre mutações constantes em busca de aparelhos mais leves, mais pequenos e mais interactivos, e daí resulta que cenários de ficção científica ganhem forma a cada passo. Já não se fazem televisores, telemóveis e computadores como antigamente... </p> <p> </p>
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 QUEM OS VIA há trinta anos de walkman na mão, phones nos ouvidos e passo seguro não podia deixar de suspirar de inveja e achar que aqueles jovens eram o cúmulo da modernice a sair por aí com a música numa cassete a rolar numa caixa tão pequena.

Há pouco tempo, no entanto, a BBC convenceu um jovem inglês de 13 anos a trocar o seu iPod por um walkman, durante uma semana apenas, e ele quase morreu de vergonha por causa do tamanho do aparelho que lhe pesava no cinto, lutando com os botões da geringonça enquanto sonhava com o novíssimo iPod Nano de 5.ª geração que a Apple lançou recentemente, equipado com câmara de vídeo, tela de 2,2 polegadas, rádio, VoiceOver para anunciar o nome do artista e da música a tocar no momento, gravador de voz e até um conta-passos.

«O meu pai tinha-me dito que era grande, mas não pensei que ele quisesse dizer assim tão grande, do tamanho de um pequeno livro», queixou-se Scott Campbell, habituado às facilidades do iPod. Em entrevista à BBC, criticou ainda a duração «horrível» da bateria a pilhas do walkman, a falta do modo shuffle (que substituiu como pôde pelo botão de rebobinar) e a reduzida capacidade de armazenamento de uma cassete, tanto mais que levou três dias a perceber que a dita tinha dois lados de gravação e não apenas um.

Quando a experiência terminou e o jovem pôde, finalmente, largar a pesada cruz para voltar a reclamar o seu iPod de bolso, nunca mais deixou de agradecer mil vezes aos céus o progresso da tecnologia, nem de se maravilhar com o modo como cenários de ficção científica parecem ganhar corpo a cada instante.

O mundo da música, como o próprio Campbell teve oportunidade de verificar, está em constante mutação: só este ano, a Apple relançou um modelo de 160 Gb do iPod Classic, anunciou a nova linha iPod Nano com desempenho mais rápido e câmara de vídeo incluída (juntamente com colunas e microfone), decidiu transformar o iPhone e o iPod Touch em consolas portáteis (com mais de 21 mil jogos disponíveis) e apresentou o iTunes LP, um novo formato de álbum digital que tenta resgatar a sensação de se entrar no espírito da banda, uma vez que a compra do disco na iTunes Store permite igualmente descarregar fotos, vídeos dos artistas a tocar e a gravar, letras e outras coisas mais que a banda entenda colocar à disposição dos fãs. Norah Jones, The Doors, Bob Dylan ou Dave Matthews Band são alguns dos nomes já com iTunes LP disponíveis. Novidade é ainda o alargamento da função Genius (que permite ao iTunes fazer automaticamente uma lista de músicas da biblioteca relacionadas com as que estamos a ouvir) à recomendação de aplicações para o iPhone a partir daquelas que o utilizador já tem instaladas no seu telemóvel.

UM OBJECTO SIMPLES como um relógio de pulso pode ser o suficiente para desencadear uma verdadeira operação de vanguarda: depois de há uns anos a empresa chinesa Aigo ter concebido o relógio de pulso F029 – munido de uma tela com luz própria de 160x128 pixéis e memória de 512 Mb a 1 Gb para reproduzir áudio no formato MP3 ou vídeos no formato MPEG-4 –, a Shenzhen Adragon Digitek veio agora lançar o primeiro relógio de pulso MP4 capaz de oferecer até nove horas de puro entretenimento em vídeo.

O aparelho é à prova de água, o que permite ver filmes até quando se mergulha na piscina, e tem microfone, cinco configurações de equalização e ligação via USB 2.0. De certeza que Louis Cartier quando criou o primeiro relógio de pulso em 1904, para que o amigo aeronauta Santos Dumont pudesse consultar as horas enquanto pilotava, estava longe de imaginar o quanto mais funcional viria a tornar-se a sua invenção, ela própria arrojadíssima para a época. E há mais a dizer, muito mais – a torrente de inovações tecnológicas é contínua e praticamente inesgotável.

Para os condutores que têm o hábito de voar pela cidade em acelerações bruscas e se debatem com o consumo excessivo de combustível, o Kiwi Fuel Saving é o aparelho indispensável a instalar junto à consola central do automóvel, de modo a dar conta das rotações por minuto, da velocidade e da condução que permite poupar combustível e libertar menos gases poluentes na atmosfera. Ainda para quem não dispensa conduzir mas detesta perder-se pelo caminho, a Apple disponibilizou um kit para viaturas que aperfeiçoa o funcionamento do TomTom no iPhone, aumentando a duração da bateria, a recepção do sinal GPS e a facilidade do sistema mãos-livres. Diz quem já experimentou que até receber chamadas durante o percurso se tornou mais fácil: depois de o equipamento aceitar a chamada, volta a dar instruções ao condutor partindo da posição em que aquele se encontra no final da conversa. Melhor era impossível.

NO DIA EM QUE A MICROSOFT lançava oficialmente o Windows 7 no mercado (no final de Outubro), classificando o seu novo sistema operativo de fácil, rápido e viciante, os utilizadores maravilhavam-se com o acréscimo na agilidade dos computadores, que de repente pareciam tornar-se novas máquinas. «Fizemos mais de 16 mil entrevistas e ouvimos os nossos clientes dizerem que novos recursos eram bem-vindos, mas que a maior necessidade passava por simplificar as tarefas do dia-a-dia», explicou o vice-presidente da área de consumo online da Microsoft, Darren Houston, agradado com a adesão maciça do público. A facilidade de criar redes domésticas e de partilhar conteúdos de media, a rapidez dos programas e atractivos como o suporte multitoque para telas touchscreen justificam plenamente que o Windows 7 tenha já sido instalado em mais de noventa por cento dos computadores a nível mundial, cruzando da melhor forma a estabilidade do XP com a segurança do Vista.

«Trabalho com o Windows 7 há alguns meses e posso dizer que é muito rápido a iniciar, a desligar e a realizar as tarefas básicas – para pessoas com menos conhecimentos de informática é perfeito – , o interface dispõe de mais atalhos e de métodos simplificados para gerir os arquivos e todo o sistema está pensado para usar menos memória e ser imediato», explica Filipe Simão, consultor informático da empresa VisionWare – Sistemas de Informação, SA.

Segundo os especialistas, as diferentes versões do Windows 7 habilitam o sistema a servir com igual eficácia computadores pequenos e grandes, colmatando a antiga dificuldade de desempenho que o Vista apresentava nas configurações de menor capacidade. Mesmo em relação ao XP, que continua a ser vendido sobretudo em netbooks (computadores portáteis de pequenas dimensões, leves e de baixo custo, usados essencialmente para serviços baseados na internet como a navegação e a consulta de e-mails), o Windows 7 promete ser a solução, inclusive, para as máquinas mais frágeis, que até agora tinham dificuldade em tirar o máximo desempenho do sistema operativo instalado: a ele basta-lhe uma configuração com um processador Atom de 1.6 GHz e 1 Gb de RAM para correr confortavelmente.

O único senão é a dificuldade de instalação nos computadores, visto que o 7 é distribuído apenas em DVD e a generalidade dos netbooks disponíveis no mercado não traz a drive correspondente. Perante isto, a solução é passar o sistema operativo para uma pen de 4 Gb e, posteriormente, copiar todos os arquivos e pastas, ou então adquirir o Windows 7 juntamente com um computador novo, em que o custo do sistema acaba por ficar em cerca de dez por cento do custo total da máquina – aqui, as edições Starter ou Basic são ideais para as máquinas mais baratas, enquanto as mais caras podem beneficiar da Home Premium (a mais completa pensada para o utilizador doméstico), da Professional e da Ultimate.

Animada pelas luzes da ribalta e pouco disposta a perder clientes para a Apple após ter ficado para trás no segmento dos smartphones, a Microsoft criou ainda recentemente, em segredo e a par do Windows 7, um protótipo de tablet PC (uma espécie de laptop ou caderno digital) a que chamou Courier, equipado com dois monitores touchscreen de sete polegadas e tecnologia multitouch acessível com os dedos ou uma caneta própria. O Courier traz uma câmara e Wi-Fi, assemelha-se a um livro aberto e, ao que parece, é perfeito para a leitura de documentos digitais. Em matéria de tablets dão igualmente cartas o JournE Touch, o primeiro touchscreen da Toshiba que mede apenas 14 milímetros de espessura e pesa menos de um quilo, e o N900 da Nokia, o primeiro da linha que é também um telemóvel 3G com Wi-Fi e Bluetooth integrados e oferece a mesma experiência de um PC normal.

Ainda da Nokia chegou o anúncio de que a empresa vai lançar o tão esperado Booklet, o seu primeiro netbook 3G já a operar em Windows 7. A moda dos minicomputadores tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos pelo facto de as máquinas serem simultaneamente pequenas, potentes e de preço razoável. A procura é tal que as empresas se empenham em inventar o que parecia ser impossível nas séries anteriores, acrescentando sempre mais uma utilidade, uma estreiteza de formas, uma leveza inusitada. A LG, por exemplo, lançou agora o X120 Scarlet, o primeiro netbook da linha com receptor One Seg de televisão digital integrado (existe também o modelo X120 G, com modem 3G desbloqueado). Quanto ao Vaio X da Sony, é um pequeno milagre em fibra de carbono que pesa apenas 760 gramas e mede 1,39 centímetros de altura; o Vaio P é outra versão minúscula da marca (pesa 620 gramas), mas vem equipado com receptor de TV digital integrado e corre o Windows 7 Home Basic.

O N140 da Samsung, apresentado este ano na IFA 2009 (uma das maiores feiras de tecnologia realizada em Berlim), tem uma autonomia de bateria que pode durar 11 horas e traz uma das três portas USB energizadas para recarregar telemóveis e MP3 mesmo que o netbook esteja desligado. A Dell decidiu posicionar-se no mercado dos ultraportáteis e concebeu um laptop de luxo, o Adamo, que apelidou de «o mais fino notebook do mundo», numa tentativa de competir com o MacBook Air da Apple (esta voltou a inovar com o primeiro rato do mundo com tecnologia multitouch, o Apple Magic Mouse).

Foi também aproveitando o ambiente inventivo da IFA que a Philips anunciou este ano o lançamento da terceira geração do seu televisor Aurea, transformado para mudar a experiência do telespectador. Em vez do LCD, a nova Aurea produz imagem em alta resolução a partir de um sistema de LED independentes projectados do rebordo, ao mesmo tempo que a tecnologia Ambiligth Spectra projecta as cores em torno da TV. A série oferece ainda o recurso à net TV, que acede no ecrã a vários sites de parceiros da marca, e economiza cerca de quarenta por cento de energia face aos modelos LCD convencionais. Mais à frente parece ir a Sony, que já apresentou um protótipo de tela a três dimensões e 360 graus, sem vidro e ainda de qualidade incipiente, mas no bom caminho. A empresa pretende lançar em 2010 uma TV LCD 3D e conseguir a possibilidade de exibir  gráficos em 3D na PlayStation 3, nos players de Blu-ray e nos notebooks Vaio.

«ESTAMOS A FALAR de um telemóvel caro ou de um televisor de plasma superbarato que a pessoa pode prender ao cinto e também serve como sistema de videojogos, player de MP3, câmara de filmar e terminal de internet?», pergunta Jim Balsillie, co-presidente da Research in Motion (RIM), a propósito do lançamento de uma versão actualizada do BlackBerry Bold, o telemóvel inteligente mais sofisticado da empresa destinado a homens de negócios, políticos e gente endinheirada em geral. O novo Bold é mais fino que o antecessor e acede mais rapidamente à net, mas continua a sofrer o embate do iPhone da Apple e dos telemóveis da Nokia, e é considerado caro atendendo à concorrência. Balsillie responde que os preços têm de ser colocados em contexto e que o Bold é um muitos-em-um inteligente, como tal deve ser avaliado com base em tudo o que é capaz de fazer pelo utilizador. Ainda assim, a Apple contabiliza vendas de iPhones na ordem dos 7,4 milhões de aparelhos apenas no trimestre mais recente, oferece um design útil, versatilidade e mais de oitenta aplicativos para download, e entre as novidades apresentadas está já à vista o novo iPhone 3G S (de speed, que significa velocidade), bastante mais rápido que o anterior 3G e disponível nas versões de 16 e 32 Gb.

Também a Samsung anunciou a sua nova linha de smartphones com sistema operacional Android, nomeadamente o Galaxy Lite – de tela touchscreen e ligação 3G –, o Pixon 12 – com câmara de 12 megapixéis de resolução, tela touchscreen e lente grande angular de 28 mm – e o Blue Earth, o telefone ecológico feito a partir de garrafas recicladas e com tela sensível ao toque. Os smartphones Magic e Dream, produzidos pela HTC Corp. (responsável pelo primeiro PC a cores de bolso em 1999, o primeiro Microsoft 3G Phone em 2005 ou o primeiro ecrã táctil intuitivo de navegação por toque em 2007) são outros telemóveis inteligentes que aumentam a competitividade do mercado. Mais novidades que abraçam a tecnologia Android são o Blackberry Storm 2, da RIM, eleito concorrente à altura do iPhone, e o Cliq, o primeiro telemóvel superinteligente da Motorola cujas linhas elegantes asseguram uma experiência social perfeita. Deixou de haver desculpas para não se estar ligado ao mundo.

Papa quer anúncio moderno do Evangelho

Desafiar a Igreja e os fiéis a usar as novas tecnologias no processo de evangelização, tornando a palavra sagrada mais acessível a todos, era um processo esperado no decorrer dos últimos anos. E o Papa Bento XVI mostrou-se à altura da revolução tecnológica ao exortar todos os que na Igreja Católica têm responsabilidades pastorais, ou trabalham directamente com a comunicação social, a responder às mudanças que as novas tecnologias colocam relativamente ao anúncio do Evangelho. «A Igreja é chamada a anunciar a palavra do Senhor aos homens do terceiro milénio, mantendo inalterado o seu conteúdo, mas tornando-o compreensível graças a instrumentos e modalidades mais conformes à mentalidade e cultura de hoje», reconhece Bento XVI. Um sinal inequívoco de modernidade.

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