Liga dos Combatentes garante futuro de monumento na Bósnia
O futuro do monumento aos militares portugueses mortos na Bósnia-Herzegovina fica esta semana garantido com a assinatura, em Tancos, de um protocolo entre a Liga dos Combatentes e o município bósnio-sérvio de Doboj.
A cerimónia realiza-se quinta-feira no Museu das Tropas Paraquedistas e o documento vai ser assinado pelo presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues, e pelo presidente da Câmara de Doboj, Obren Petrovi, colocando assim ponto final num processo que se arrastou durante seis anos.
Chito Rodrigues disse ontem ao DN que agora "há a garantia de que o monumento se mantém conservado, mantido e dignificado" em Doboj, a exemplo dos que existem noutras partes do mundo devido à participação portuguesa na I Grande Guerra e na guerra colonial.
"Não só a manutenção do monumento fica garantida como a Câmara Municipal de Doboj, por sua iniciativa, passará a realizar todos os anos a 23 de maio - o dia dos paraquedistas portugueses - uma cerimónia no local, em homenagem ao esforço coletivo de Portugal na Bósnia e, muito em especial, aos cinco militares portugueses que ali perderam a vida", assinalou o tenente-coronel Miguel Machado.
Este militar na reserva, um dos que mais se empenhou na resolução do caso que se tornou público em junho de 2010, adiantou que o Museu das Tropas Paraquedistas também passará a ter exposta a lápide original com os nomes dos militares mortos na Bósnia (todos daquela especialidade).
Os primeiros-cabos Alcino José Mouta, Rui Tavares e José Barradas, e os soldados Ricardo Souto Ricardo Valério foram os militares mortos cujos nomes estão inscritos no monumento em Doboj.
Esta placa "havia sido retirada em 2007, aquando da adulteração do monumento original e da sua instalação" em Doboj, no qual foi também substituído o lema dos paraquedistas pelo do Exército. "Foi esta alteração abusiva do monumento que indignou muitos militares paraquedistas e levou um pequeno grupo de veteranos da Bósnia a deslocarem-se a Doboj, em 2012, para aí colocarem por sua iniciativa e pagando do seu bolso" uma placa com os nomes dos camaradas que ali tinham morrido, recordou Miguel Machado.
O caso tornou-se conhecido em junho de 2010, quando um ex-militar foi a Doboj e colocou uma foto do "monumento adulterado" nas redes sociais, "surgindo de imediato um grande movimento de indignação nos antigos paraquedistas militares".
Apesar dos esforços junto da hierarquia militar e de outras entidades, o monumento continuou ao abandono. A sua trasladação para Portugal foi uma das hipóteses equacionadas para resolver a situação, admitiram Chito Rodrigues e Miguel Machado, mas a vontade das autoridades de Doboj em o manter na cidade acabaram por levar à celebração do protocolo que agora responsabiliza as partes, explicou o general.
Chito Rodrigues adiantou que a Liga, além da verba a dar à autarquia de Doboj para garantir as obras de manutenção e conservação do monumento, vai também procurar desenvolver iniciativas de âmbito cultural e de cidadania com aquela cidade bósnia.
Aproveitando a presença de vários portugueses naquela região do norte da Bósnia-Herzegovina, o general adiantou ao DN que a Liga vai procurar também "promover a instalação de uma delegação" local como forma de reforçar os laços bilaterais e melhor garantir a execução do protocolo.
"Foi um processo que demorou anos a resolver, envolveu gente interessada em Portugal e na Bósnia, enfrentou a indiferença e incompreensão, dificuldades várias, mas também acabou por conseguir despertar em todos os patamares da hierarquia militar a atenção para uma situação pouco abonatória da imagem do país, chegando-se a uma boa solução", concluiu Miguel Machado.