Líder do Sinn Féin descreve McGuinness como "lenda" e "gigante" da política
A líder do Sinn Féin, Michelle O'Neil, lamentou hoje a morte de Martin McGuinness, que descreveu como uma "lenda" e um "gigante" da política, chave para a pacificação e o avanço do processo democrático na Irlanda do Norte.
"Tenho o coração despedaçado esta manhã", escreveu na sua conta na rede social Twitter a sucessora de McGuinness à frente do partido republicano do Ulster, que recordou como seu "mentor e amigo".
"Perdemos uma lenda e um gigante", lamentou O'Neil, depois de se conhecer hoje a morte, aos 66 anos, vítima de uma doença genética rara, do ex-vice-ministro principal norte-irlandês e comandante do Exército Republicano Irlandês (IRA) durante o conflito na Irlanda do Norte até 1998.
A nova líder do Sinn Féin tomou as rédeas do partido no passado dia 23 de janeiro, depois de McGuinness abandonar a política por causa da doença.
Duas semanas antes, o histórico dirigente nacionalista tinha-se demitido do seu cargo no executivo de Belfast - cujo poder é compartilhado entre protestante e católicos -, devido a um escândalo financeiro na política de energias renováveis, o que provocou a queda do governo e obrigou Londres a convocar eleições antecipadas, que se realizaram no passado dia 02 de março, e deixaram o Sinn Féin a apenas um deputado do Partido Democrático Unionista.
As reações à morte de McGuinness sucedem-se. A atual chefe do Governo britânico, Theresa May, destacou, pelo seu lado, a contribuição "essencial" e "histórica" de McGuinness a favor da paz, sublinhando o seu "trabalho determinante" para conseguir que "o movimento republicano se afastasse da violência" no território britânico.
"Como vice-ministro principal durante quase uma década, ele foi um dos pioneiros na implementação do poder compartilhado entre as comunidades na Irlanda do Norte", disse May, sublinhando que "no coração de tudo estava o seu profundo otimismo pelo futuro" da ilha. "Penso que deveríamos todos conservar hoje forte esse otimismo", acrescentou.
O ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que negociou com McGuinness o acordo de paz da Sexta-feira Santa assinado em 1998, manifestou também pesar pela sua morte, sublinhando a qualidade da "liderança" e a "coragem" do ex-vice-ministro principal norte-irlandês.
"Seja qual for o passado, o Martin que eu conheci foi um indivíduo considerado, refletido e comprometido", afirmou Tony Blair.
O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, lamentou a morte de McGuinness, considerando-a uma "grande perda" para a política da Irlanda do Norte, de toda a Irlanda e "além dela", e o ministro irlandês dos Negócios Estrangeiros, Charlie Flanagan, destacou o "espírito de generosidade, coragem e liderança" do antigo líder nacionalista para tomar riscos e benefício da pacificação da ilha.
"Com a sua abordagem à política da paz, deu uma imensa contribuição para a construção e consolidação da paz. O legado da sua liderança servirá, sem dúvida, para inspirar a próxima geração de dirigentes da Irlanda do Norte", afirmou o chefe da diplomacia da Irlanda do Norte.
Também o antigo chefe do Governo irlandês, Bertie Ahern, afirmou que McGuinness "fez um caminho, se não sem precedente histórico, seguramente sem igual na Irlanda moderna. Começou muito jovem na luta violenta e acabou, apenas semanas antes da sua morte, e depois de anos em funções, a fortalecer a paz em que se empenhou e para a qual a sua liderança era essencial".
"Nos momentos críticos durante os esforços conjuntos para transformar os problemas em paz estável, Martin foi um fator determinante na efetivação dessas transformações", concluiu Bertie Ahern.
Peter Hain, antigo membro do Executivo britânico responsável pela Irlanda do Norte, sublinhou também que McGuinness foi "absolutamente crucial" para o processo de paz.
"Por vezes na história dos conflitos -- e, meu deus, a ilha da Irlanda tem estado envolvida em séculos de conflitos com a Inglaterra -- precisamos de líderes que se ergam acima do passado e, nesse aspeto, Martin McGuinness ultrapassou claramente o teste e provou ser uma figura indispensável", afirmou Peter Hain.