Líder da contestação do Rif marroquino coseu lábios em protesto pela condenação -- advogado

Rabat, 09 abr 2019 (Lusa) -- O líder do movimento de contestação social no norte de Marrocos, Nasser Zefzafi, coseu os lábios na sua cela na sequência da sua condenação em apelo a 20 anos de prisão efetiva, referiram hoje o seu advogado e familiares.
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"Os detidos Nasser Zefzafi e Mohamed Al Haki coseram a sua boca para protestar", afirmou na sua página na rede social Facebook o advogado Mohamed Aghnaj, que defendeu o ativista da região do Rif (norte do país).

"Nasser escolheu esta forma de protestar para exprimir o seu compromisso com a sua liberdade e denunciar o reforço do controlo securitário da sua cela", declarou por sua vez o seu pai, Ahmed Zefzafi, em declarações à AFP.

O seu filho Nasser, 39 anos, foi o líder de um amplo protesto social entre finais de 2016 e 2017, o Hirak (Movimento), que reivindicava melhores condições sociais e económicas para as populações do Rif.

"Cinco militantes do Hirak confirmaram. Não vi Nasser e Mohamed, não podia suportar vê-los nesse estado", disse por sua vez à AFP uma ativista que se deslocou hoje à prisão de Casablanca (oeste) onde estão detidos diversos militantes do Hirak.

Nabil Ahamjik, outro dos detidos do Hirak, também condenado a 20 anos de prisão efetiva, iniciou uma greve de fome "em protesto contra o veredicto em apelo e contra o reforço das medidas de segurança nas suas celas", indicou o seu irmão Mohamed, que divulgou a informação nas redes sociais.

Os 42 líderes do movimento de protesto que agitou em 2016-17 a região marroquina do Rif, no norte do país, viram as suas penas confirmadas na sexta-feira pelo Tribunal de Apelo de Casablanca.

O julgamento que confirmou as penas, algumas das quais vão até 20 anos de prisão por "conspiração destinada a atentar contra a segurança do Estado", foi recebido com gritos de cólera e deceção por familiares dos 42 militantes.

A decisão foi conhecida ao fim de cinco horas de deliberação e cinco meses de processo.

"Viva o povo", "Estado corrompido" e "Viva o Rif" foram alguns dos gritos da multidão à saída da sala, enquanto alguns familiares choravam.

Na segunda-feira, as mães de diversos detidos manifestaram-se contra as condenações no centro de Al-Hoceima, o epicentro da contestação no Rif.

As forças da ordem foram reforçadas nesta região, de acordo com informações locais. As autoridades justificaram a medida pela "necessidade de garantir a segurança de diversos acontecimentos desportivos", incluindo uma competição de ciclismo.

Organizações internacionais, incluindo a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional (AI) criticaram as pesadas penas pronunciadas em primeira instância.

O número dois do partido Justiça e Desenvolvimento (PJD), na liderança do Governo marroquino, desejou no domingo a "liberdade para os ativistas do Hirak". "Nós mantemos sempre a esperança", disse, e após o rei ter agraciado no verão cerca de 100 pessoas com ligações a este movimento social.

A Associação marroquina dos direitos humanos (AMDH) denunciou por sua vez as "condenações que se destinam a vingar os jovens que exprimiram pacificamente o seu descontentamento".

As autoridades marroquinas, que durante o processo argumentaram com os numerosos feridos nas fileiras policiais e a importância dos danos materiais provocados pelos manifestantes, asseguraram que o processo judicial decorreu em conformidade com as normas internacionais.

O Hirak foi desencadeado pela morte, em outubro de 2016, de um vendedor de peixe, que foi esmagado numa camioneta do lixo quando tentava recuperar a mercadoria que tinha sido apreendida pela polícia.

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