Lições gregas

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? A saída das fundas dificuldades financeiras nas quais se encontra a Grécia, nós, seus amigos e parceiros na Zona Euro e na UE (além de muitas outras organizações internacionais), podemos e devemos colher preciosas lições: 1 - Chega sempre o dia em que a verdade vem ao de cima e se descobre a contabilidade criativa destinada a mascarar a profundidade dos desequilíbrios financeiros das administrações públicas (ou de empresas e serviços fora do seu estrito perímetro). No caso grego, houve dois sectores críticos: até 2004, era a contabilização dos gastos astronómicos da Defesa. Foi corrigido pelo Eurostat. De então para cá, escondeu-se a dívida dos hospitais públicos helénicos. Em 2009, a sua imersão representou um agravamento do défice em 3%. 2 - Tudo isto só foi possível porque a banca de investimento, com os seus veículos financeiros sofisticadíssimos, deu ao Governo de Atenas as ferramentas de ocultação adequadas. Nos EUA investiga-se o papel do Goldman Sachs nesta matéria, o Bundesbank, banco central alemão, exige uma investigação aprofundada do papel da banca, "na sombra", nesta entorse das regras de transparência orçamental sem as quais a estabilidade do euro é insustentável. Veremos até que ponto se avança para novas regras de regulação financeira que condicionem de futuro mais eficazmente tais práticas. 3 - A necessidade de estabilização orçamental na Grécia constitui um forte incentivo a um acordo de pacificação no mar Egeu com a Turquia e à resolução da partição do Chipre. Uma diferença de fundo entre nós e os gregos é a despesa com a Defesa. Portugal gasta 1,2% do seu PIB por ano com as suas Forças Armadas, a Grécia despende 4,3%, são quase 8000 milhões de euros a mais! A Turquia tem um gasto anual de 5% do seu PIB. São verbas desproporcionadas no quadro europeu: mesmo duas potências de segunda linha, como a França e a Alemanha, não vão além de 2,6%. Encerrada a luta armada dos curdos, acrescido o protagonismo diplomático de Istambul no Médio Oriente, a resolução da questão cipriota pode abrir a porta a grandes reduções de despesa em armamento e militares nas duas nações em confronto, aberto ou latente, há mais de um século.

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