Itália preocupada com potencial aumento de migrantes da Líbia

Primeiro-ministro italiano pede "ação rápida" como prevenção das consequências que podem resultar de uma crise humanitária na Líbia. Ofensiva do exército líbio já provocou pelo menos 56 mortos e centenas de feridos.
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O governo italiano manifestou esta quinta-feira a sua preocupação perante o risco de uma crise humanitária na Líbia e o seu potencial impacto nos fluxos migratórios, particularmente em direção a Itália.

"A continuação dos combates e o aumento do número de mortos, agora estimados em várias centenas, bem como os feridos e os deslocados, marcam um risco concreto de uma crise humanitária que deve ser neutralizada rapidamente", declarou o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, diante dos deputados italianos.

"A urgência humanitária, com as suas consequências nos fluxos migratórios, exige determinação e uma ação rápida", reforçou o líder do executivo italiano.

A situação na Líbia, país imerso num caos político e securitário desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011 e devido a divisões e lutas de influência entre milícias e tribos, agravou-se na última semana depois das forças lideradas pelo marechal Khalifa Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia e que disputa o poder político líbio, terem iniciado uma ofensiva contra Tripoli, onde fica a sede do governo de acordo nacional líbio, estabelecido em 2015 e reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas).

A ofensiva do exército nacional líbio (ANL, na sigla em francês), liderado por Haftar, teve início na quinta-feira passada e provocou pelo menos 56 mortos e 266 feridos, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O número de deslocados já ultrapassa os 3 mil, segundo dados fornecidos por fontes locais e pela ONU.

O marechal espera ampliar o seu poder ao oeste do país petrolífero, uma vez que já controla o leste e, mais recentemente, o sul do território líbio.

As forças do governo de acordo nacional líbio, que é liderado pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, já afirmaram que estão determinadas em lançar uma contraofensiva geral.

Aos deputados italianos, Giuseppe Conte disse que tem estado em contacto "com os dois principais atores [da situação líbia], o líder do governo Fayez al-Sarraj e com o marechal Haftar, com este último nas últimas horas através de um emissário".

O chefe do governo italiano insistiu na necessidade de alcançar rapidamente um cessar-fogo.

Segundo Giuseppe Conte, os combates na Líbia são o resultado "de fraquezas estruturais do contexto local, mas também de influências externas", sem nomear países em concreto. A antiga potência colonial na Líbia, a Itália é o único país ocidental que mantém aberta a sua embaixada em Tripoli.

Apesar dos combates, a representação diplomática italiana continua com as respetivas atividades.

Itália está fortemente envolvida nos esforços de estabilização do país, nomeadamente para defender os interesses das empresas italianas no território líbio, em particular do grupo petroleiro Eni, e para evitar novas saídas em massa de migrantes em direção às costas italianas.

A Líbia tornou-se nos últimos anos uma placa giratória para centenas de milhares de migrantes que tentam alcançar a Europa através do Mediterrâneo. Devido à situação securitária, o país tem sido um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e de situações de sequestro, tortura e violações.

Perante os últimos desenvolvimentos no terreno, e com a intensificação dos confrontos, a União Europeia (UE) mandou retirar "temporariamente" os membros de uma missão de assistência do bloco comunitário que estavam em Tripoli, segundo uma fonte europeia, citada pela France Presse (AFP). Os cerca de 20 elementos da Missão de Assistência da UE para uma gestão integrada das fronteiras na Líbia (EUBAM Libya, na sigla em inglês) regressaram à Tunísia, onde a missão tem a base operacional.

O bloco comunitário reiterou esta quinta-feira a sua preocupação com o evoluir da situação "muito inquietante" na Líbia.

Na sexta-feira passada, a Alta Representante da UE para a Política Externa, a italiana Federica Mogherini, apelou ao marechal Khalifa Haftar para parar com a ofensiva militar contra as autoridades de Tripoli e para regressar à mesa de negociações.

Um projeto de declaração comum sobre a situação líbia foi apresentado na quarta-feira aos 28 Estados-membros da UE. Vários dos Estados-membros expressaram reservas sobre o texto inicial e uma versão modificada será submetida em breve para aprovação, segundo precisou uma fonte europeia citada pela AFP.

A França confirmou que tinha pedido emendas, mas negou as informações que acusavam Paris de ter bloqueado a declaração. "É uma falsa alegação", disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.

Segundo o porta-voz da diplomacia francesa, Paris deseja que o texto seja reforçado em alguns aspetos, nomeadamente sobre a situação dos migrantes, sobre a luta contra grupos e indivíduos sancionados pelas Nações Unidas por atividades terroristas e sobre os esforços inter-líbios promovidos pela ONU para alcançar uma solução política para o país.

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