Dia 20 de maio de 1996: Giovanni Brusca é preso; 31 de maio de 2021: o homem que é conhecido nos círculos mafiosos como 'u verru (o Porco) cumpre a pena de prisão de 30 anos, comutada para 25 como é de uso em Itália, e descontados 45 dias por bom comportamento. Brusca beneficiou do estatuto de arrependido e é agora um homem livre, embora durante os próximos quatro anos esteja em liberdade condicional, e apesar do rasto de morte e sofrimento que deixou enquanto operacional do capo Totò Riina, ao ponto de unir os quadrantes políticos na condenação pública da sua libertação.."Um murro no estômago que nos deixa sem fôlego", foi como reagiu o secretário-geral do partido Democrático Enrico Letta. Do outro lado do espetro político, o líder da Liga Matteo Salvini disse que "esta não é a "justiça" que os italianos merecem". Para Giorgia Meloni, a sua concorrente à direita, "a ideia de que tal personagem está de volta à liberdade é inaceitável, é uma afronta às vítimas, àqueles que caíram contra a máfia e a todos os funcionários do Estado que estão todos os dias na linha da frente contra o crime organizado. 25 anos na prisão é muito pouco para o que ele fez. É uma derrota para todos, uma vergonha para toda a Itália", afirmou a dirigente dos Irmãos de Itália.."Um ato tecnicamente inevitável mas moralmente impossível de aceitar. Nunca mais haverá uma redução da punição para os mafiosos, nunca mais haverá indulgência para aqueles que foram manchados com sangue inocente", disse a ministra para o Sul e Coesão Territorial Mara Carfagna, do Força Itália. Virginia Raggi, a presidente da Câmara de Roma, cidade onde estava preso Brusca, também não se remeteu ao silêncio: "Uma vergonha inaceitável, uma injustiça para todo o país", disse a militante do Movimento 5 Estrelas..Twittertwitter1399457496117428225.A indignação da classe política, por muito franca, soa também a aproveitamento político, uma vez que a libertação do criminoso era esperada, em resultado do estatuto de arrependido. "A lei sobre os colaboradores da justiça revelou-se um instrumento fundamental para a desmontagem das máfias. Giovanni Falcone, que foi o seu criador, estava bem ciente dos custos em termos de sofrimento para as vítimas da máfia que a aprovação de tal lei teria implicado", comentou o procurador de Messina Maurizio de Lucia. "Mas ele também foi claro quanto aos danos para a máfia que seriam e foram feitos pela colaboração de alguns dos principais membros da Cosa Nostra", realçou o magistrado..Na mesma linha reagiu a irmã de Falcone, Maria. "Humanamente falando, são notícias que me afligem, mas esta é a lei, uma lei que o meu irmão queria e que, portanto, deve ser respeitada. Só espero que a magistratura e as autoridades policiais estejam extremamente vigilantes a fim de evitar o perigo do seu regresso ao crime, dado que estamos a falar de uma pessoa que teve um caminho muito tortuoso de colaboração com o sistema de justiça." Giovanni Falcone foi morto em 1992 num atentado à bomba que atingiu o carro onde seguia juntamente com a mulher Francesca e três guarda-costas. Brusca acionou o engenho explosivo com um telecomando..Rosaria Costa, viúva do guarda-costas Vito Schifani, mostra-se crítica de todo o processo de atribuição do estatuto de arrependido, o qual comutou as várias penas de homicídio numa só. "Ele não se arrependeu. Colaborou no sentido de obter vantagens materiais. Diz-se quatro coisas e é-se livre. Mas que tipo de Estado é este?", questionou ao Corriere della Sera..Entre os "mais de cem crimes e menos de 200" que cometeu, segundo as suas palavras, o que mais chocou Itália foi o de Giuseppe Di Matteo. O filho de um mafioso arrependido foi raptado e mantido em cativeiro durante dois anos. Após dois anos de maus-tratos foi morto por estrangulamento. O cadáver do menino de 13 anos foi depois desfeito em ácido a mando de Brusca. "Respeitamos as leis e a sentença do Estado. Mas a Giovanni Brusca não poderei nunca perdoá-lo", disse a mãe de Giuseppe, Francesca Castellese, à agência ANSA. Nicola, irmão de Giuseppe, acrescenta: "Se não acreditarmos no sistema judicial não acreditamos no Estado.".Na quinta-feira, a Interpol pôs fim à vida de fugitivo de Rocco Morabito, de 54 anos, ao prendê-lo num hotel em João Pessoa, Brasil. Conhecido como o "rei da cocaína de Milão", em segundo na lista de criminosos mais perigosos procurados em Itália, Morabito foi condenado à revelia por associação criminosa, tráfico de drogas e outros crimes, a uma pena de 30 anos de prisão. Foragido desde 1994, o criminoso da "ndrangheta, a máfia da Calábria, foi preso em 2017 no Uruguai, onde vivia há uma década sob identidade falsa..Dois anos depois, Morabito e outros três detidos evadiram-se pelo telhado da prisão de Montevideu. A detenção resultou de uma operação conjunta das autoridades italianas, norte-americanas e brasileiras. Com Morabito foi preso Vincenzo Pasquino, suspeito de tráfico de drogas e ponto de contacto para a América do Sul..cesar.avo@dn.pt
Dia 20 de maio de 1996: Giovanni Brusca é preso; 31 de maio de 2021: o homem que é conhecido nos círculos mafiosos como 'u verru (o Porco) cumpre a pena de prisão de 30 anos, comutada para 25 como é de uso em Itália, e descontados 45 dias por bom comportamento. Brusca beneficiou do estatuto de arrependido e é agora um homem livre, embora durante os próximos quatro anos esteja em liberdade condicional, e apesar do rasto de morte e sofrimento que deixou enquanto operacional do capo Totò Riina, ao ponto de unir os quadrantes políticos na condenação pública da sua libertação.."Um murro no estômago que nos deixa sem fôlego", foi como reagiu o secretário-geral do partido Democrático Enrico Letta. Do outro lado do espetro político, o líder da Liga Matteo Salvini disse que "esta não é a "justiça" que os italianos merecem". Para Giorgia Meloni, a sua concorrente à direita, "a ideia de que tal personagem está de volta à liberdade é inaceitável, é uma afronta às vítimas, àqueles que caíram contra a máfia e a todos os funcionários do Estado que estão todos os dias na linha da frente contra o crime organizado. 25 anos na prisão é muito pouco para o que ele fez. É uma derrota para todos, uma vergonha para toda a Itália", afirmou a dirigente dos Irmãos de Itália.."Um ato tecnicamente inevitável mas moralmente impossível de aceitar. Nunca mais haverá uma redução da punição para os mafiosos, nunca mais haverá indulgência para aqueles que foram manchados com sangue inocente", disse a ministra para o Sul e Coesão Territorial Mara Carfagna, do Força Itália. Virginia Raggi, a presidente da Câmara de Roma, cidade onde estava preso Brusca, também não se remeteu ao silêncio: "Uma vergonha inaceitável, uma injustiça para todo o país", disse a militante do Movimento 5 Estrelas..Twittertwitter1399457496117428225.A indignação da classe política, por muito franca, soa também a aproveitamento político, uma vez que a libertação do criminoso era esperada, em resultado do estatuto de arrependido. "A lei sobre os colaboradores da justiça revelou-se um instrumento fundamental para a desmontagem das máfias. Giovanni Falcone, que foi o seu criador, estava bem ciente dos custos em termos de sofrimento para as vítimas da máfia que a aprovação de tal lei teria implicado", comentou o procurador de Messina Maurizio de Lucia. "Mas ele também foi claro quanto aos danos para a máfia que seriam e foram feitos pela colaboração de alguns dos principais membros da Cosa Nostra", realçou o magistrado..Na mesma linha reagiu a irmã de Falcone, Maria. "Humanamente falando, são notícias que me afligem, mas esta é a lei, uma lei que o meu irmão queria e que, portanto, deve ser respeitada. Só espero que a magistratura e as autoridades policiais estejam extremamente vigilantes a fim de evitar o perigo do seu regresso ao crime, dado que estamos a falar de uma pessoa que teve um caminho muito tortuoso de colaboração com o sistema de justiça." Giovanni Falcone foi morto em 1992 num atentado à bomba que atingiu o carro onde seguia juntamente com a mulher Francesca e três guarda-costas. Brusca acionou o engenho explosivo com um telecomando..Rosaria Costa, viúva do guarda-costas Vito Schifani, mostra-se crítica de todo o processo de atribuição do estatuto de arrependido, o qual comutou as várias penas de homicídio numa só. "Ele não se arrependeu. Colaborou no sentido de obter vantagens materiais. Diz-se quatro coisas e é-se livre. Mas que tipo de Estado é este?", questionou ao Corriere della Sera..Entre os "mais de cem crimes e menos de 200" que cometeu, segundo as suas palavras, o que mais chocou Itália foi o de Giuseppe Di Matteo. O filho de um mafioso arrependido foi raptado e mantido em cativeiro durante dois anos. Após dois anos de maus-tratos foi morto por estrangulamento. O cadáver do menino de 13 anos foi depois desfeito em ácido a mando de Brusca. "Respeitamos as leis e a sentença do Estado. Mas a Giovanni Brusca não poderei nunca perdoá-lo", disse a mãe de Giuseppe, Francesca Castellese, à agência ANSA. Nicola, irmão de Giuseppe, acrescenta: "Se não acreditarmos no sistema judicial não acreditamos no Estado.".Na quinta-feira, a Interpol pôs fim à vida de fugitivo de Rocco Morabito, de 54 anos, ao prendê-lo num hotel em João Pessoa, Brasil. Conhecido como o "rei da cocaína de Milão", em segundo na lista de criminosos mais perigosos procurados em Itália, Morabito foi condenado à revelia por associação criminosa, tráfico de drogas e outros crimes, a uma pena de 30 anos de prisão. Foragido desde 1994, o criminoso da "ndrangheta, a máfia da Calábria, foi preso em 2017 no Uruguai, onde vivia há uma década sob identidade falsa..Dois anos depois, Morabito e outros três detidos evadiram-se pelo telhado da prisão de Montevideu. A detenção resultou de uma operação conjunta das autoridades italianas, norte-americanas e brasileiras. Com Morabito foi preso Vincenzo Pasquino, suspeito de tráfico de drogas e ponto de contacto para a América do Sul..cesar.avo@dn.pt