Liberdade religiosa
Nesta quadra natalícia vem a propósito lembrar as mulheres e os homens que sofrem por acreditarem em Deus. Não apenas dos cristãos que têm de celebrar o Natal às escondidas e com medo. Mas de todos os crentes que são perseguidos e humilhados em virtude da sua fé.
Em todos os cantos da terra repete-se vezes sem conta a mesma história trágica de perseguição religiosa. A liberdade religiosa, a liberdade de professar a sua crença sem constrangimentos de qualquer sorte, é ainda hoje, em pleno século XXI, uma miragem para muitos seres humanos.
Nalguns países, como a China, a opressão é imposta pelo Estado. A "igreja católica oficial" é controlada administrativamente pelas autoridades públicas chinesas, com uma intromissão inadmissível na nomeação dos sacerdotes, na administração do património eclesiástico e na imprensa e no ensino religiosos. Pequim não se coibiu mesmo de nomear quatro bispos "católicos" que não são reconhecidos pelo Vaticano. Como não teve qualquer pudor em destruir o famoso santuário de Nossa Senhora de Dong Lu in Hebei, local de veneração de mártires católicos. Os cinco milhões de católicos chineses não são livres de professar a sua fé, tendo de suportar uma constante vigilância do Estado, através da designada "associação patriótica católica chinesa", instituída pelo Estado chinês em 1957 como a "igreja católica oficial". A verdade é triste: a Igreja Católica, os seus bispos, religiosos e leigos fiéis ao Vaticano têm de sobreviver na clandestinidade, celebrar o culto na privacidade das suas casas, baptizar os seus filhos e receber a extrema-unção às escondidas. Nesta conjuntura adversa, não pode deixar de ser sublinhada a coragem de homens como o cardeal Zen de Hong Kong, que dirigiu uma carta aos católicos chineses no sentido de se manterem fiéis ao Vaticano, apesar das pressões governamentais. Trata-se de um exemplo de coragem. Como o foram também a vida dos falecidos bispos Ignatius Kung e Yao Liang, que passaram mais de 30 anos, o primeiro, e 28 anos, o segundo, nas prisões chinesas por se terem mantido fiéis ao Vaticano. Como o são ainda hoje o sofrimento dos bispos católicos Su Zhimin, An Shuxin e Shi Enxiang e muitos outros religiosos presos em isolamento total e em lugar desconhecido, nos termos reconhecidos pela resolução do Parlamento Europeu de 8 de Junho de 2005.
Noutros países, a violência religiosa é ainda mais ostensiva. No Iraque, no Irão ou no Afeganistão, os cristãos são alvo predilecto de facções islâmicas radicais, que não toleram a presença de outra confissão religiosa. Os maus tratos e mesmo a morte, sem qualquer outro motivo que não seja a perseguição religiosa cega, marcam o quotidiano dos fiéis cristãos nestes países. É verdadeiramente um acto de heroísmo diário ser cristão nestas paragens.
Por fim, noutros países ainda, os crentes, seja qualquer for a sua fé, são discriminados pelo simples facto de serem crentes. Na Europa e na América, a liberdade religiosa que tanto custou a ganhar ainda não é respeitada em toda a sua plenitude. É certo que ela não é infringida com a violência física sobre os crentes e com a repressão estadual das igrejas. Mas é-o com a discriminação dos credos e dos crentes. É responsabilidade de todas as mulheres e homens de coração recto e tolerante pôr cobro a esta situação, denunciando e corrigindo injustiças e desigualdades. Quando o fizerem, estão a lutar pela dignidade humana.